O PERIGO DA MODERNA TÉCNICA
Marshall McLuhan, il profeta del “villaggio globale”
“MCLUHAN E OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO COMO EXTENSÃO DO
HOMEM.”
Considerado
ainda em vida o “filósofo da era eletrônica”, Herbert Marshall Mcluhan,
ex-professor de literatura inglesa no Canadá, professor de diversas
universidades americanas e cuja indiscutível autoridade em matéria de
comunicação de massa acabou por impor-se, anteviu com notável clarividência o
que hoje todos nós estamos vendo, e praza ao bom Deus, que com olhos bem
abertos!
Em
sua obra magna sobre o assunto – “Os meios de comunicação como extensão do
homem” – de caráter revolucionário e
desmistificador, mostrou Mcluhan de que modo
os “meios de comunicação de massa afetam profundamente a vida física e
mental do ser humano, levando-o do mundo linear e mecânico da primeira
revolução industrial para o novo mundo audiotátil da era eletrônica”, projetado
precisamente para manter-nos dentro dele o máximo de tempo possível, como numa
espécie de gaiola invisível onde voluntariamente nos encerramos.
Como se tivesse sido uma espécie de profeta
laico do tempo em que viveu, o
pensamento de Mcluhan voltou-se para um fenômeno insólito de vastas proporções,
o qual, apenas nascido, começou a invadir e minar subitamente a vida dos seres
humanos, sem que muitos se apercebessem das bruscas mudanças que em si mesmos
estavam sendo operadas pelo advento dos modernos meios de comunicação de massa.
O
que nos dias que correm vêm suscitando os mais calorosos debates e as mais
acesas polêmicas de todo tipo é esta grande característica distintiva do
momento histórico-cultural hodierno: a existência indubitável de uma
“complexíssima rede de comunicações em que está imerso o homem na era da
eletrônica, da cibernética, da automoção, e que afetam profundamente sua visão
e sua experiência do mundo, de si mesmo e dos outros”, mas cujos meandros
sombrios e engrenagens manipuladoras os simples usuários não percebem. Eis o ponto crucial sobre o qual convém e
muito que reflitamos.
Corria
o ano de 1957 quando James Reston escreveu no The New York Times o seguinte:
“Um diretor da saúde pública notificou esta semana que um ratinho que,
presumivelmente andara assistindo televisão, atacou uma menina e seu gato, já
adulto. Ambos, gato e rato, sobreviveram, e o incidente fica registrado como
lembrete de que as coisas parecem estar mudando.”
Totalmente
desnecessário dizer que ninguém escapa da mudança, elemento constitutivo da
existência humana. A mudança, porém, que
se tem visto na presente época, não é
nem esta mudança inevitável a que todos sem exceção estamos sujeitos, na
qualidade de seres imersos no espaço e no tempo, nem tampouco aquele tipo de
mudança que cada um, livremente e sem ser coagido por nada nem por ninguém,
decide impor a si mesmo e ao curso de sua vida, no uso radical de sua
liberdade. Quanto a primeira mudança, é inerente a vida, e quanto a esta outra,
é obra nossa.
A
mudança para a qual Macluhan quis que olhássemos e sobre ela refletíssemos
seriamente é uma mudança que por assim dizer tem sido imposta sem que nós
mesmos sejamos os responsáveis diretos por ela e esta não pode deixar de nos
preocupar.
É
fato que gigantescas transformações micro e macro econômicas, sociais e
políticas vem ocorrendo no mundo inteiro de longa data, e é de se crer que
continuem acontecendo, porque nem o tempo e nem a vida ficam estacionados em
estado de inércia absoluta e imutável.
O
que tem preocupado o ser humano que pensa nas radicais transformações operadas
pela tecnologia na face do globo, e consequentemente na vida dos seres humanos,
é que estas mudanças tem afetado nosso comportamento, nossas emoções, nosso
cérebro, nosso sono, nosso cotidiano, em suma, o curso habitual de nossa vida como um todo.
Não
podemos deixar de nos perguntar o que nós estamos fazendo com a tecnologia, em
que e para que a estamos empregando e o que ela(a Tecnologia) está fazendo
conosco. Foi para alertar a humanidade, que Nicholas Carr, leitor voraz dos
grandes clássicos da literatura universal mas cuja capacidade de leitura e de concentração
foi seriamente comprometida por acessos compulsivos, escreveu “A geração superficial: o que a
Internet está fazendo com os nossos cérebros.”
Escreveu
Mcluhan em seu livro que o general David Sarnoff teria dito que “estamos sempre
inclinados a transformar o instrumento técnico em bode expiatório dos pecados
praticados por aqueles que os manejam. Os produtos da ciência moderna, em si
mesmos, não são bons nem maus: é o modo com que são empregados que determinam o
seu valor.” E Mcluhan acrescenta com finíssima ironia: “Aqui temos a voz do
sonambulismo em nossos dias.”
A
única coisa de que o ilustre militar parece ter-se esquecido e na qual
provavelmente não cogitou é que devido a propensão humana para o que é mau e
ruim costumamos fazer mau uso até de coisas boas, ou daquelas que são
moralmente neutras. Se sempre e apenas o animal humano fizesse bom uso do que
em si – a técnica, por exemplo não é nem boa e nem má – não haveria qualquer
problema, mas não é isso o que a experiência vulgar nos ensina fartamente.
Enganar-se-ia
quem ingenuamente supusesse que a tecnologia, nos moldes em que hodiernamente
se apresenta, foi inventada com fins altruístas e elevados, ou para tornar mais
cômoda e prazerosa a vida dos seres humanos por pessoas realmente interessadas
em aumentar a um nível nunca dantes atingido na história de nossa raça o bem
estar coletivo da família humana. Os inventores das engenhocas destruidoras de
tempo e de saúde psíquica que usamos regularmente para isso e aquilo em nossa
faina cotidiana(não podemos deixar de reverenciar a sua genialidade inconteste)
não estavam por certo preocupados em criar um mundo melhor que este em que
temos tido de viver.
Terá
sido sem razão que alguns se disseram arrependidos de suas criações, cujos futuros
efeitos não foram capazes de prever, e hoje não façam uso do que eles mesmos
criaram?
“Temo
o dia em que a tecnologia se sobreponha à humanidade. Então o mundo terá uma
geração de idiotas. O mundo é um lugar perigoso para se viver.” (Albert
Einstein, ganhador do prêmio Nobel de Física)