O objetivo deste artigo consiste em expor algumas reflexões de ordem crítica acerca de certos fatos relacionados à vida do Padre Cícero Romão Batista a partir de registros contidos em obras históricas sobre o assunto. Concluindo , apresentamos as considerações finais ao tempo em que já agradecemos a colaboração e parabenizamos o autor Dom Samuel.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Muitos homens e mulheres que foram
injustiçados durante a vida, morreram inabalavelmente convencidos de que a
posteridade far-lhes-ia justiça e tal efetivamente verificou-se em quase todos
os casos de que se tem notícia. Coisa diferente não poderia deixar de acontecer
com o santo da nação romeira.
Monsenhor Murilo de Sá Barreto, no prólogo que
escreveu para a segunda edição do livro de Dona Amália Xavier, assim se
exprimiu:
“Lamento
profundamente que em tão pouco lapso de tempo se tenha dito tantas inverdades,
criado tamanhas estultices e aberrações e em pleno século de civilização, se
vomitasse tanto rancor e tanto ódio a um padre que se dedicou com alma de
missionário, aos humildes e sofredores.” (Cit in: XAVIER, 2001, p. 22)
Não é raro que homens injustiçados,
perseguidos e caluniados durante a vida, recebam depois de sua morte o veredito
consagrador dos pósteros, os quais, não mais perturbados pelo vento de paixões
impetuosas que perturbam a capacidade reflexiva, veem as coisas de um prisma
bem diverso.
Eu não gostaria de concluir este artigo, sem
referir aqui três testemunhos dos mais significativos sobre o padre Cícero, os
quais, por terem sido dados por homens insuspeitos, são por isso mesmo
preciosos.
Dom José de Medeiros Delgado, arcebispo de
Fortaleza, numa página exemplar que saiu no semanário católico “A Fortaleza” de
10 de março de 1968, escreveu que
“as
calúnias de que o padre Cícero foi vítima só encontram comparação na fama de
santidade que lhe cercou o nome pelos sertões adentro. Comparando a minha vida
com a de padre Cícero, reconheço-me muito inferior a ele. É assim que encaro
essa figura impressionante de sacerdote que foi padre Cícero. Admiro-o
sinceramente.” (In: SOBREIRA, 2011, p. 292 e 294)
Quando tais palavras escreveu, ponderou Dom
Delgado, como que pedindo abertamente que o caso relativo a padre Cícero fosse
revisto: “Já se passaram trinta e quatro anos depois do seu falecimento. Já era
tempo de fazer-se uma honesta revisão de sua vida, afim de podermos pesar-lhe
os reais merecimentos.” (ÍBIDEM, p. 295)
O ilustre historiador baiano Rocha Pombo, no
prefácio do livro O padre Cícero e a população do Nordeste, escreveu que
ele “construiu vários asilos, orfanatos e grande número de colégios onde
recolhia crianças dos distritos vizinhos. Desde esse tempo constituiu-se aquele
homem o estímulo moral, o socorro, o amparo de todas as populações da vasta
zona do Cariri.” (POMBO APUD SILVA, 1927, p. 64)
O magnífico reitor Martins Filho, quando
escreveu no seu grande livro O Ceará, em colaboração com o benemérito
historiador cearense Raimundo Girão, observou com justiça imparcial que:
“qualquer
que seja o conceito que se forme a respeito de sua destacada individualidade,
impossível será negar tenha sido ele fator de enorme progresso, e no campo
espiritual um conselheiro e desvelado
protetor do seu povo. Todos que o procuravam encontravam invariavelmente nele o
carinho de palavra ou gesto amigo. Foi o consolador das gentes abandonadas do
sertão que sempre tiveram fome e sede de justiça.” (SOBREIRA, 2011, p. 49)
Escrevendo sobre o padre Cícero, eis o parecer
do eminente senador da República Fernandes Távora em seu livro Algo de minha
vida:
“Padre
Cícero era um homem de ótimas qualidades morais, o homem mais humilde e
despreocupado de sua pessoa e dos bens terrenos que se possa imaginar, não
recebendo qualquer importância pelos serviços eclesiásticos. Dava esmolas,
educava por sua conta grande número de moças pobres, protegia os que lhe pediam
amparo.” (In: SOBREIRA, 2011, p. 189)
Finalmente, o senhor Antônio Carlos da Silva,
em seu livro O padre Cícero e a população do Nordeste, assim se
exprimiu:
“Se venho
à tribuna, é apenas para narrando fatos que bem conheço, juntar os meus
protestos de solidariedade aos daqueles que tem, por todos os meios dignos e
enérgicos, sabido defender, sem rebuços e sem artifícios, o padre Cícero Romão
Batista, que por si só, constitui verdadeiro padrão de glória do país a que
pertence. É triste conhecer-se que pastor e ovelhas sejam constantemente
vítimas das mais cruéis injustiças, de tantas ingratidões e das piores
aleivosias, partidas todas de homens das mesmas crenças religiosas, e pior do
que isso, conterrâneos seus, filhos da mesma pátria. Nunca ouvi, de um só
estrangeiro domiciliado no país ou de passagem pelo Nordeste, uma só frase
contra s. Revma, nem contra o povo daquela região. Procedem as acusações sempre
da célebre classe dos despeitados, aos quais fazem sombra esse respeitável
sacerdote e essa abnegada falange de patriotas a toda prova.” (SILVA, 1927, p.
19)
A justiça, assim como o próprio Deus, pode as
vezes tardar, mas uma hora qualquer chega para reparar tudo quanto de errado e
injusto foi dito, escrito e pensado. Ao falar assim, não se pode deixar de
pensar no Padre Cícero. Poucos homens terão sido tão incompreendidos e julgados
com tão excessiva severidade por alguns como ele, o que serviu apenas para
ressaltar o seu valor.
O tempo, porém, aliado da verdade e salutar
remédio para a cura de muitas feridas da alma, encarregou-se de mostrar onde
estava a verdade e onde a mentira, aliada de primeira hora do ódio que cega, do
despeito que aniquila e da inveja que nunca perdoa os triunfos alheios. Que o
diga o Senhor Jesus, vítima da inveja daqueles que nunca lhe perdoaram a
eminente superioridade.
No ano de 2008, “o templo que padre Cícero
ergueu foi elevado pelo papa, em setembro, à condição de basílica. Logo à
entrada, assentou-se também um escudo vermelho e dourado, ornado com as chaves
de São Pedro e as imagens de um urso, um rosto humano e uma concha: o brasão
oficial de Bento XVI.” (NETO, 2009, p. 516)
Tal atitude, mostrou que o sentimento da
Igreja, na pessoa do soberano pontífice máximo, com respeito ao padre Cícero já
tinha mudado faz tempo. O caminho para uma possível e ao que tudo indica agora
provável canonização, tornou-se mais curto.
A Igreja, enquanto corpo místico de Nosso
Senhor Jesus Cristo não erra nem pode errar, o que não vale para os
eclesiásticos de carne e osso. Uma coisa é a Igreja e outra coisa são seus
ministros. Eis porque o filósofo francês Jacques Maritain, que aliás
compreendeu esta diferença muito bem, escreveu uma obra chamada: “A Igreja e
o pessoal da Igreja.”
Dom Joaquim e Dom Quintino(este de venerável
memória e digno de todo o nosso respeito) podem até ter se excedido no caso do
padre Cícero, mas os dois devem ter sido movidos por intima convicção de fé, na
certeza de que procediam de acordo com o que a sua consciência de legítimos
sucessores dos apóstolos lhes ordenava fazer.
Aos 20 de julho de 1934, Padre Cícero fechava
em definitivo o belo par de olhos azuis que a providência divina lhe dera, para
esta vida mortal. Morto, ainda vive nos corações de milhões de devotos
espalhados por todo o Brasil, muitos dos quais vão a juazeiro pelo menos uma
vez por ano para reverenciar-lhe a memória.
No ponto mais alto da serra do Catolé,
eleva-se hoje a alva estátua de 27 metros de altura, uma das dez maiores
estátuas cristãs de concreto das Américas, ali erguida no ano de 1969, pelo
então prefeito municipal de Juazeiro Mauro Sampaio.
O rei do Baião, Luiz Gonzaga, que também era
devoto do padrinho, imortalizou-a com uma tocante canção: “olha lá no alto do
horto ele está vivo, ele não está morto...”
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
BÍBLIA
SAGRADA. São Paulo: Edições Loyola, 1995.
DA
SILVA, ANTÔNIO CARLOS. O padre Cícero e a população do nordeste. Elementos
de defesa, história e propaganda. Imprensa Nacional. Rio de Janeiro, 1927.
MOREL,
EDMAR. Padre Cícero. O santo de Juazeiro. Empresa gráfica o Cruzeiro.
Rio de Janeiro, 1946.
NETO,
LIRA. Padre Cícero. Poder, fé e guerra no sertão. São Paulo: Companhia
das Letras, 2009.
OLIVEIRA,
XAVIER, A. O Padre Cícero que eu conheci. Fortaleza: Editora Afiliada,
2001.
SILVA,
A. COMPARATO, D. Padre Cícero. Record. Rio de Janeiro, 1984.
SILVEIRA,
D. A. Ungidos do Senhor. Na Evangelização do Ceará. 1700 – 2004. Premius
Editora: Fortaleza, 2004.
SOBREIRA. AZARIAS. O patriarca de Juazeiro. Edições UFC.
Fortaleza, 2011.
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