sexta-feira, 19 de julho de 2024

UMA REFLEXÃO CRÍTICO-FILOSÓFICA SOBRE PADRE CÍCERO E ALGUNS FATOS DE SUA VIDA.

 

Dom Samuel Dantas de Araújo, OSB.( PARTE3)


3)O MILAGRE CHAMADO JUAZEIRO DO NORTE.

Corria o ano de 1872, quando Dom Luiz Antônio dos Santos, primeiro bispo do Ceará, nomeou padre Cícero capelão oficial da igrejinha dedicada à nossa Senhora das dores. Daquele longínquo ano até o presente, passaram-se nada menos que 150 anos.

Em virtude de uma certa lei do progresso e da evolução natural a que tudo quanto existe debaixo do sol está sujeito, tanto os seres humanos, como cidades e países vão tomando novos aspectos e se afastando do seu inicial ponto de partida. Neste sentido, uma era Fortaleza há 100 anos atrás e outra bem diferente é a atual capital do estado do Ceará. O mesmo pode ser dito acerca de toda e qualquer cidade da federação, sem excluir Juazeiro do Norte. Ocorre, porém, que neste caso específico, estamos diante de um fenômeno curioso e absolutamente singular, para dizer o mínimo. Se pensarmos um pouquinho, não será difícil perceber que esta singularidade do município sul-caririense é também devida em parte a singularidade do seu célebre fundador.

As romarias que começaram com o padre Cícero ainda vivo, permanecem como um dos eventos mais destacados da cidade, se é que não o maior, atraindo ano após ano, uma quantidade incontável de romeiros devotos que insistem em cultuar a memória do padre Cícero. É ele, com efeito, e nem tanto o que teria sucedido no interior da antiga capela na época em que ele exercia o seu ministério sagrado, que continua atraindo para o seu filho(ele costumava dizer que muito embora fosse filho do Crato, Juazeiro era seu filho) gente de todos os recantos do nosso amado Nordeste.

Pergunte-se a algum romeiro vindo de longe quem foi Dom Quintino Rodrigues e ele provavelmente não saberá que foi o primeiro bispo do Crato. Nem todo cearense sabe que o primeiro bispo do Ceará chamou-se Dom Joaquim José Vieira, mas no caso do “Padim Ciço”...a história é outra.

Difícil se encontrar no interior nordestino uma casa em cuja sala não haja ou um quadro ou uma imagem do inesquecível papa do sertão, além, é claro, de uma respeitosa devoção que não conhece limites. Muitos em Juazeiro faziam expressa questão de dizer: Nosso papa é o “padim Ciço!”

Se este padre, pergunto-me eu, não tivesse sido um grande homem e um não menor sacerdote católico, de que maneira se explicaria uma devoção fortemente enraizada no coração do povo e que desde o seu passamento apenas cresce?

Se padre Cícero tivesse sido um embusteiro, um aliciador de fanáticos ignorantes, ou um arrivista ambicioso, cuja ambição não conhecia quaisquer limites, pode-se apostar que o seu nome – como aliás o de todos que lhe moveram guerra injusta e implacável – já teria rolado no abismo do esquecimento faz tempo. Sou de opinião que o melhor argumento que um apologista do Padre Cícero pode usar para responder as calúnias dos seus passados e presentes detratores é a sua vida, atestado maior de que tudo quanto lhe foi imputado não resiste a uma análise séria.

Lancemos agora, um rápido olhar para Juazeiro, este grande empório comercial a céu aberto. “Ninguém pode contestar a influência que teve o padre Cícero no desenvolvimento da agricultura e da Indústria não somente em Juazeiro, mas em todo Cariri.” (XAVIER, 2001, p. 294)

Quem chega pela primeira vez em Juazeiro do Norte – independente do motivo pelo qual para lá tenha sido atraído – fica desde logo impressionado com o que ali encontra: uma paisagem urbana que remete o espírito a uma grande capital. A verdade, é que quase nada em Juazeiro, ou muito pouco, nos faz pensar que se trata de uma cidade interiorana. Tudo ali parece ser grande: suas amplas avenidas, suas ruas sempre apinhadas de gente, os espaços públicos sempre povoados, o comércio variegado em pleno funcionamento o dia inteiro. Juazeiro do Norte se distingue visivelmente de todo outro espaço urbano interiorano.

“A metrópole do Cariri se tornou um dos principais aglomerados urbanos, comercias e industriais do Nordeste. Nas últimas décadas, a antiga vila de cerca de trinta casas de taipa que um dia recebeu padre Cícero descobriu uma nova vocação econômica. Juazeiro do norte é a sede do maior polo universitário do interior cearense. São mais de cinquenta cursos de nível superior – incluindo medicina, direito, jornalismo e psicologia. Novos empreendimentos imobiliários e hoteleiros surgem a todo instante para atender a demanda das dezenas de milhares de estudantes nordestinos atraídos pelas faculdades juazeirenses.” (NETO, 2009, p. 521)

 

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