Dom Samuel Dantas de Araújo, OSB.( PARTE3)
3)O MILAGRE CHAMADO JUAZEIRO DO NORTE.
Corria o ano de 1872, quando Dom Luiz Antônio
dos Santos, primeiro bispo do Ceará, nomeou padre Cícero capelão oficial da
igrejinha dedicada à nossa Senhora das dores. Daquele longínquo ano até o
presente, passaram-se nada menos que 150 anos.
Em virtude de uma certa lei do progresso e da
evolução natural a que tudo quanto existe debaixo do sol está sujeito, tanto os
seres humanos, como cidades e países vão tomando novos aspectos e se afastando
do seu inicial ponto de partida. Neste sentido, uma era Fortaleza há 100 anos
atrás e outra bem diferente é a atual capital do estado do Ceará. O mesmo pode
ser dito acerca de toda e qualquer cidade da federação, sem excluir Juazeiro do
Norte. Ocorre, porém, que neste caso específico, estamos diante de um fenômeno
curioso e absolutamente singular, para dizer o mínimo. Se pensarmos um
pouquinho, não será difícil perceber que esta singularidade do município
sul-caririense é também devida em parte a singularidade do seu célebre
fundador.
As romarias que começaram com o padre Cícero
ainda vivo, permanecem como um dos eventos mais destacados da cidade, se é que
não o maior, atraindo ano após ano, uma quantidade incontável de romeiros
devotos que insistem em cultuar a memória do padre Cícero. É ele, com efeito, e
nem tanto o que teria sucedido no interior da antiga capela na época em que ele
exercia o seu ministério sagrado, que continua atraindo para o seu filho(ele
costumava dizer que muito embora fosse filho do Crato, Juazeiro era seu filho)
gente de todos os recantos do nosso amado Nordeste.
Pergunte-se a algum romeiro vindo de longe
quem foi Dom Quintino Rodrigues e ele provavelmente não saberá que foi o
primeiro bispo do Crato. Nem todo cearense sabe que o primeiro bispo do Ceará
chamou-se Dom Joaquim José Vieira, mas no caso do “Padim Ciço”...a história é
outra.
Difícil se encontrar no interior nordestino
uma casa em cuja sala não haja ou um quadro ou uma imagem do inesquecível papa
do sertão, além, é claro, de uma respeitosa devoção que não conhece limites.
Muitos em Juazeiro faziam expressa questão de dizer: Nosso papa é o “padim
Ciço!”
Se este padre, pergunto-me eu, não tivesse
sido um grande homem e um não menor sacerdote católico, de que maneira se
explicaria uma devoção fortemente enraizada no coração do povo e que desde o
seu passamento apenas cresce?
Se padre Cícero tivesse sido um embusteiro, um
aliciador de fanáticos ignorantes, ou um arrivista ambicioso, cuja ambição não
conhecia quaisquer limites, pode-se apostar que o seu nome – como aliás o de
todos que lhe moveram guerra injusta e implacável – já teria rolado no abismo
do esquecimento faz tempo. Sou de opinião que o melhor argumento que um
apologista do Padre Cícero pode usar para responder as calúnias dos seus
passados e presentes detratores é a sua vida, atestado maior de que tudo quanto
lhe foi imputado não resiste a uma análise séria.
Lancemos agora, um rápido olhar para Juazeiro,
este grande empório comercial a céu aberto. “Ninguém pode contestar a
influência que teve o padre Cícero no desenvolvimento da agricultura e da
Indústria não somente em Juazeiro, mas em todo Cariri.” (XAVIER, 2001, p. 294)
Quem chega pela primeira vez em Juazeiro do
Norte – independente do motivo pelo qual para lá tenha sido atraído – fica
desde logo impressionado com o que ali encontra: uma paisagem urbana que remete
o espírito a uma grande capital. A verdade, é que quase nada em Juazeiro, ou
muito pouco, nos faz pensar que se trata de uma cidade interiorana. Tudo ali
parece ser grande: suas amplas avenidas, suas ruas sempre apinhadas de gente,
os espaços públicos sempre povoados, o comércio variegado em pleno
funcionamento o dia inteiro. Juazeiro do Norte se distingue visivelmente de
todo outro espaço urbano interiorano.
“A
metrópole do Cariri se tornou um dos principais aglomerados urbanos, comercias
e industriais do Nordeste. Nas últimas décadas, a antiga vila de cerca de
trinta casas de taipa que um dia recebeu padre Cícero descobriu uma nova
vocação econômica. Juazeiro do norte é a sede do maior polo universitário do
interior cearense. São mais de cinquenta cursos de nível superior – incluindo
medicina, direito, jornalismo e psicologia. Novos empreendimentos imobiliários
e hoteleiros surgem a todo instante para atender a demanda das dezenas de
milhares de estudantes nordestinos atraídos pelas faculdades juazeirenses.”
(NETO, 2009, p. 521)
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