Texto bíblico: Mc 3, 20 –
35
“Em
verdade vos digo que tudo será perdoado aos filhos dos homens, os pecados e as
blasfêmias, por mais que as tenham proferido; mas se alguém blasfema contra o
Espírito Santo, fica para sempre sem perdão” (Mc 3, 28 – 29),
diz-nos nosso Senhor Jesus Cristo neste domingo.
A
primeira e imediata impressão que um leitor desavisado destas palavras de Jesus
pode ter é que para todo e qualquer pecado cometido há perdão da parte de Deus
e que apenas para um único pecado – o cometido contra o Espírito Santo – não
existe perdão nem aqui nem no além. Tal impressão, todavia, é errônea, baseada
em uma leitura perigosa e superficial que não vai além da letra e que por isso
mesmo não consegue captar o sentido mais profundo do que o filho de Deus, nosso
celeste pedagogo, nos quis ensinar.
Muitos
cristãos habituaram-se a ler e interpretar as palavras do Senhor a seu modo,
mas o resultado de um tal tipo de interpretação pode revelar-se ao fim
desastroso. Do fato de Jesus ter dito: “tudo será perdoado aos filhos dos
homens” tais intérpretes costumam deduzir, como se se tratasse de consequência
lógica e necessária, que não importa o que faça e quanto faça o pecador ao
longo de sua vida, pode contar com a certeza do perdão divino, pois foi ele em
pessoa que disse: “tudo será perdoado aos filhos dos homens.”
Ainda
que Jesus não o tenha dito – se o não disse foi por tratar-se de algo tão óbvio
que nem era preciso dizer – todos sabemos e a Igreja o ensina, que só há perdão
para quem sinceramente se arrepende dos pecados cometidos, de sorte que Deus
perdoa somente a quem se arrependa e peça perdão. Não havendo arrependimento da
parte de quem peca, não há nem pode haver perdão da parte de Deus. De que modo
pois havemos de entender o “tudo será perdoado” de Jesus? Tudo será perdoado
somente com a condição de que nos arrependamos; tudo será perdoado contanto que
nos voltemos arrependidos para aquele a quem ofendemos pedindo-lhe perdão. Mas,
se não nos arrependermos, caso não peçamos perdão a Deus por tê-lo ofendido,
tenhamos por certo, porque é de fé, que nada, absolutamente nada nos será
perdoado.
Não
podemos nem devemos dar as palavras do Senhor Jesus um sentido e uma extensão
que elas não têm nem nunca tiveram!
É
neste sentido que se deve dizer que o pecado cometido contra o Espírito Santo,
do qual o Senhor nos fala neste domingo, não é o único pecado para o qual não há perdão
divino nem neste mundo e nem no futuro. Se o pecado cometido por quem quer que
seja é grave, ainda que tal pecado não tenha sido uma blasfêmia contra a
terceira pessoa da Trindade, não será perdoado se quem teve a desventura de o
cometer dele não se arrepender e para ele não pedir perdão a quem unicamente o
pode perdoar.
Perdão
há sempre para quem se arrepende, e a Igreja que é mãe nunca deixou de
proclamar em toda a sua longa e sofrida história esta consoladora verdade que
impede caímos nós em inconsolável desespero por causa das nossas culpas
habituais. Perdão há sempre para quem o busca. O que a Deus se pede não pode
ele deixar de nos conceder, contanto que seja para nosso bem e santificação.
Quem
vive apregoando aos quatro ventos que Deus perdoa sempre, não deve esquecer-se
de dizer que a condição para que ele perdoe é que o pecador verdadeiramente se
arrependa e peça perdão, o que nem sempre sucede. Quem diz que Deus perdoa
sempre não mente! Nisso eu creio e é
esta uma das razões da minha esperança inabalável de salvar-me. Já quanto ao
ser humano arrepender-se sempre, disto eu já não tenho certeza...
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