sábado, 8 de junho de 2024

Texto Dom Samuel Dantas OSB- décimo domingo do tempo comum

 

Texto bíblico: Mc 3, 20 – 35

 

“Em verdade vos digo que tudo será perdoado aos filhos dos homens, os pecados e as blasfêmias, por mais que as tenham proferido; mas se alguém blasfema contra o Espírito Santo, fica para sempre sem perdão” (Mc 3, 28 – 29), diz-nos nosso Senhor Jesus Cristo neste domingo.

A primeira e imediata impressão que um leitor desavisado destas palavras de Jesus pode ter é que para todo e qualquer pecado cometido há perdão da parte de Deus e que apenas para um único pecado – o cometido contra o Espírito Santo – não existe perdão nem aqui nem no além. Tal impressão, todavia, é errônea, baseada em uma leitura perigosa e superficial que não vai além da letra e que por isso mesmo não consegue captar o sentido mais profundo do que o filho de Deus, nosso celeste pedagogo, nos quis ensinar.

Muitos cristãos habituaram-se a ler e interpretar as palavras do Senhor a seu modo, mas o resultado de um tal tipo de interpretação pode revelar-se ao fim desastroso. Do fato de Jesus ter dito: “tudo será perdoado aos filhos dos homens” tais intérpretes costumam deduzir, como se se tratasse de consequência lógica e necessária, que não importa o que faça e quanto faça o pecador ao longo de sua vida, pode contar com a certeza do perdão divino, pois foi ele em pessoa que disse: “tudo será perdoado aos filhos dos homens.”

Ainda que Jesus não o tenha dito – se o não disse foi por tratar-se de algo tão óbvio que nem era preciso dizer – todos sabemos e a Igreja o ensina, que só há perdão para quem sinceramente se arrepende dos pecados cometidos, de sorte que Deus perdoa somente a quem se arrependa e peça perdão. Não havendo arrependimento da parte de quem peca, não há nem pode haver perdão da parte de Deus. De que modo pois havemos de entender o “tudo será perdoado” de Jesus? Tudo será perdoado somente com a condição de que nos arrependamos; tudo será perdoado contanto que nos voltemos arrependidos para aquele a quem ofendemos pedindo-lhe perdão. Mas, se não nos arrependermos, caso não peçamos perdão a Deus por tê-lo ofendido, tenhamos por certo, porque é de fé, que nada, absolutamente nada nos será perdoado.

Não podemos nem devemos dar as palavras do Senhor Jesus um sentido e uma extensão que elas não têm nem nunca tiveram!

É neste sentido que se deve dizer que o pecado cometido contra o Espírito Santo, do qual o Senhor nos fala neste domingo,  não é o único pecado para o qual não há perdão divino nem neste mundo e nem no futuro. Se o pecado cometido por quem quer que seja é grave, ainda que tal pecado não tenha sido uma blasfêmia contra a terceira pessoa da Trindade, não será perdoado se quem teve a desventura de o cometer dele não se arrepender e para ele não pedir perdão a quem unicamente o pode perdoar.

Perdão há sempre para quem se arrepende, e a Igreja que é mãe nunca deixou de proclamar em toda a sua longa e sofrida história esta consoladora verdade que impede caímos nós em inconsolável desespero por causa das nossas culpas habituais. Perdão há sempre para quem o busca. O que a Deus se pede não pode ele deixar de nos conceder, contanto que seja para nosso bem e santificação.

Quem vive apregoando aos quatro ventos que Deus perdoa sempre, não deve esquecer-se de dizer que a condição para que ele perdoe é que o pecador verdadeiramente se arrependa e peça perdão, o que nem sempre sucede. Quem diz que Deus perdoa sempre não mente!  Nisso eu creio e é esta uma das razões da minha esperança inabalável de salvar-me. Já quanto ao ser humano arrepender-se sempre, disto eu já não tenho certeza...

Nenhum comentário: