SOLENIDADE DA ASCENSÃO DO
SENHOR JESUS
Texto bíblico: Mc 16, 15
– 20
É
sem nenhuma dúvida algo extraordinário e admirável que o unigênito filho do
eterno Pai feito homem tenha subido ao céu! Há, todavia, se bem pensarmos, algo
ainda maior que esta ascensão que a sua igreja neste sagrado domingo tão jubilosamente
celebra. E que algo é esse, inda mais admirável que a subida, senão a sua
descida para junto de nós? Não é tanto ter Cristo Deus subido aos céus que
devemos admirar, mas de ter ele descido ao mundo para nos salvar e elevar!
Se
o mistério da subida é sobremodo admirável, muito mais o é o que se encerra
nesta palavra: “O Verbo se fez carne e habitou entre nós.” Há ainda uma outra
coisa que não podemos deixar de admirar, e eu diria que tão admirável quanto a
descida do filho eterno do Pai para junto de nós. E que outra coisa pode ser
essa? Ei-la: a possibilidade que nos é concedida pela divina misericórdia de
poder subir para junto daquele que por causa de nós homens e para nossa eterna
salvação dignou-se descer até nossa baixeza.
Para
que desceu do céu o filho de Deus? para que o homem que se perdera e extraviara
seduzido pela perfídia diabólica do infernal inimigo pudesse subir para quem o
criara para glorioso destino.
Cristo
senhor nosso enquanto Deus, luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro,
igual ao Pai não podia propriamente subir ao céu, onde sempre esteve e donde
nunca se afastou, conforme ele disse uma vez: “E se vísseis o filho do homem
subir para onde estava antes?” Quem de fato subiu foi a natureza humana que ele
assumira no seio da virgem Maria quando o “verbo se fez carne e habitou entre
nós.”
Lástima
grande e para se deplorar com não menos que lágrimas é que muitos não queiram nem desejem subir para onde unicamente importa
subir – para o céu – e tudo façam, inclusive o ilícito e o errado, para subir
para lugares donde um dia, queiram ou não, terão de descer quando soar para
eles a hora de deixar este mundo e esta vida. O tempo que alguém consegue
manter-se no alto de uma montanha, a cujo cume chegou à custa de tão esgotantes
esforços não pode ser muito longo, já que a vida é breve.
Quantos
há que querem subir os escorregadios degraus que conduzem a fama, ao poder e ao
dinheiro, esquecidos porém, de que por mais que um homem suba nesta vida virá
dia em que a morte o fará descer de onde quer que esteja para sete palmos de
terra fria! E quantos há que se empenham e lutam para subir para onde
unicamente importa subir? Muitos infelizmente, dispondo-se a fazer qualquer negócio contanto
que cheguem onde querem, andam esquecidos de que a permanência em lugares e
postos é necessariamente breve porque a morte está sempre perto dada a trágica
brevidade da existência humana.
Subindo
ao céu diante dos olhos dos seus íntimos, o nosso adorável Jesus nos mostrou
para onde é que devemos desejar subir. O céu e mais nada além dele deve ser a
nossa meta. É pensando nele e desejando-o com todas as veras de nosso coração
que devemos caminhar neste mundo que passa.
Antigamente
o sagrado salmista se perguntava: “Quem subirá até o monte do Senhor?” O homem
não podia de modo algum subir até o Deus que habita numa luz inacessível.
Separava-o dela a sua dupla condição de criatura e de pecador. Deus porém, por
causa do grande amor com que nos amou quando estávamos mortos por causa dos
pecados e delitos em que vivíamos metidos, dignou-se vir ao nosso encontro na
pessoa do seu filho muito amado afim de que por meio dele pudéssemos subir até
Deus, cuja morada está nos céus.
O
caminho para a subida é Cristo. Se quisermos subir, se é nosso desejo chegar
até Deus, sigamos a Cristo, imitemo-lo, amemo-lo, unamo-nos a ele por meio
daquela fé que opera pela caridade. Ele, que desceu por nossa causa, subiu! Não
queiramos nunca, cristãos, subir para lugares nos quais não poderemos
permanecer para sempre e dos quais a morte um dia nos há de retirar. Seja o
nosso maior e mais ardente desejo subir ao céu para o qual o senhor Jesus
Cristo subiu e para onde insistentemente nos convida. Ajude-nos ele para que lá
cheguemos.
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