SEGUNDO DOMINGO DO TEMPO
PASCAL
Texto bíblico: Jo 20, 19
– 31
7 de Abril
O
evangelista e santo apóstolo João escreveu que logo após Jesus ter dito aos
seus: “Lázaro morreu, vamos até ele”, Tomé, de quem muito especialmente o
Evangelho deste domingo nos fala, teria pronunciado as seguintes palavras:
“Vamos também nós e morramos com ele.” Se Tomé estava disposto a morrer por seu
mestre, não se pode duvidar de modo algum que ardentemente o amava de coração
sincero, e se o amava, há de se ter também como certíssimo que cria no Senhor
Jesus. Dado que Tomé disse “vamos também nós”, é igualmente certo que ele
acompanhou Jesus até Betânia e presenciou na qualidade de testemunha ocular o
portento estrondoso da volta de seu amigo Lázaro à vida.
Se,
pois, as coisas assim sucederam, o normal seria que Tomé, quando os outros
apóstolos lhe disseram: “vimos o Senhor”, não hesitasse por um só instante e
prontamente desse crédito aos que seus colegas de apostolado lhe disseram
acerca da ressurreição do Senhor. Tal não foi todavia o que sucedeu, o que não
pode deixar de causar imensa perplexidade a quem quer que sobre tal fato se
disponha a refletir por pouco que seja.
“Se
eu não vir em suas mãos a marca dos cravos, se não enfiar o meu dedo no lugar
dos cravos, e não enfiar a minha mão no seu lado não acreditarei.” O homem que
disse tais palavras não viu Cristo chamar Lázaro de volta à vida? Sim, viu! Não
estava presente com os outros quando Cristo ressuscitou o filho da viúva de
Naim e a filha de Jairo? Sim, também é certíssimo que estava! Como, pois, se
entende esta sua atitude diante do anúncio da ressurreição de nosso Senhor e
salvador?
Ora,
que os saduceus, dos quais São Marcos escreveu que era gente que dizia não
haver ressureição a negasse, nada mais natural e compreensível, mas que se
recusasse a crer de imediato nela sem provas sensíveis, tão logo lhe foi
anunciada, um apóstolo, que depois deveria testemunhá-la, é o que se não
compreende facilmente.
Que
houve com Tomé, embora fosse apóstolo? O que bem pode suceder a qualquer um de
nós, ainda que sejamos homens e mulheres de fé!
Por
causa desta celebérrima passagem que a Igreja propõe à consideração dos
cristãos neste segundo domingo do tempo pascal, habituamo-nos a pensar que Tomé
foi o único apóstolo a padecer de momentânea incredulidade com respeito a
ressurreição, o que não é verdade. Todos os outros passaram pela mesma treva.
No último capítulo do seu relato, o evangelista São Marcos escreveu que ao lhes
aparecer depois de ressuscitado, o Senhor Jesus lhes censurou a incredulidade e
a dureza de coração por não terem crido nos que o tinham visto ressuscitado. Lendo
o relato, verificamos que os apóstolos não acreditaram nem nas palavras de
Madalena, a quem nosso Senhor apareceu por primeiro logo após haver
ressuscitado dos mortos nem no testemunho dos discípulos de Emaús, aos quais
ele também apareceu.
É,
pois, para se estranhar que segundo São João, Tomé não tenha crido se
inicialmente também os outros não creram?
Tomé
tinha pelo menos quatro motivos para não duvidar: o peso da palavra do próprio
Jesus que não apenas declarara expressamente ser ele mesmo a ressurreição,
tendo por várias vezes anunciado que depois de sua morte ressuscitaria
decorridos três dias, além das três ressurreições operadas por Cristo e das
quais ele, na qualidade de membro do colégio apostólico, fora testemunha
ocular. E não obstante tudo isso, descreu!
Havemos,
pois, de estranhar que muitos ainda hoje não creiam se os próprios apóstolos
inicialmente tiveram também eles dificuldades em crer? Quando São Paulo
terminou seu discurso em Atenas referindo-se à ressurreição de Cristo, “uns
zombaram e outros declararam: nós te ouviremos sobre isto noutra ocasião.” (At
17, 32) Quando o mesmo Paulo, em outro discurso pronunciado perante o rei
Agripa, fez menção de Cristo como primeiro a ressuscitar dos mortos, um homem
chamado Festo interveio levantando a voz e chamando-o de louco.
Vê-se, pois, por meio de testemunhos tão claros quão eloquentes que não foi coisa fácil muito menos simples crer na ressurreição. Ainda hoje há quem nela não creia, como no passado não faltaram os que não acreditaram. Nós porém, que pela misericordiosa bondade de Deus nela cremos, demos graças a Deus pela fé com que nos agraciou e enriqueceu, suplicando-lhe com oração muito fervorosa e insistente que por toda a nossa vida creiamos e proclamemos o que a santa Igreja de Deus há tantos séculos proclama transbordante de gáudio santo: o mistério da ressurreição do seu Senhor. Amém.
texto de Dom Samuel
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