Quarto domingo do tempo pascal
Texto bíblico: Jo 10, 11 – 18 (21 de Abril)
“Eu sou o bom pastor”, disse Jesus. Na época em que nosso Senhor e Salvador tais palavras pronunciou, se havia algo que não faltava em Israel e no mundo conhecido de então como aliás também nos dias que correm, era maus pastores.
O autor da carta aos Hebreus chama Jesus de “o grande pastor das ovelhas”(Hb 13, 20) e o apóstolo Pedro a ele se refere como o pastor e guarda de nossas almas.”(1Pd 2, 25)
Jesus mesmo nos disse por qual razão ele era o bom pastor. “O bom pastor se despoja da vida por suas ovelhas. Eu me despojo da vida pelas ovelhas.” Isso fez Jesus, o bom pastor, pelas suas ovelhas. Para as salvar, nasceu como um de nós, sofreu atrozmente e morreu pregado numa cruz esgotado pelas dores mais cruciantes que uma imaginação pode conceber. Os maus pastores, porém, dos quais este mundo está repleto, que é que normalmente fazem eles, bem ao contrário do que fez o bom pastor Jesus? Jesus mesmo o disse, e com palavras tão claras que nem se precisa comentá-las. “O mercenário, que não é verdadeiramente pastor, ao ver chegar o lobo abandona as ovelhas e foge e o lobo se apodera delas e as dispersa. É que ele é mercenário e pouco lhe importam as ovelhas.” E com o que se importa o que não é pastor, mas tão só inescrupuloso mercenário senão apenas com sua própria sorte e com o seu bem estar pessoal? Trata-se de alguém que vive das ovelhas, não, porém para elas, como deveriam fazer quantos optaram pelo exercício do ministério pastoral.
Muito antes que Jesus o dissesse, já Deus queixara-se amargamente do péssimo comportamento de muitos maus pastores que noutros tempos viveram. Ouçamos algumas destas queixas, aplicáveis a muitos que hodiernamente exercem a função de pastores no corpo de Cristo, que é a Igreja.
“Ovelhas desgarradas...seus pastores desviaram-nas; fizeram-nas errar pelos montes.” (Jr 50, 6) Pela boca deste mesmo profeta Deus diz: “os pastores estão embrutecidos, não procuram o Senhor. São incompetentes e todo o rebanho ficou disperso.” (Jr 10, 21) Lê-se no profeta Ezequiel que as “ovelhas se dispersaram por falta de pastor.” Queixa-se Deus ainda por boca de Ezequiel que o rebanho foi depredado porque “meus pastores não foram em busca do meu rebanho, mas se apascentaram a si mesmos, sem apascentar o rebanho.” (Ez 34, 8 – 9) E não é exatamente o que fazem hoje muitos que tem apenas o nome de pastores?
Cristo Jesus é o nosso bom pastor. Tendo-o por guia, nada nos há de faltar jamais; é ele que nos faz deitar em verdes pastagens; ele que as águas repousantes nos conduz, é ele que sempre estará conosco, ainda que tenhamos de andar por um vale de sombra e de morte. É ele que faz servir uma mesa abundante em face de nossos adversários; é ele enfim que perfuma a nossa cabeça com o sagrado óleo da alegria.” (salmo 22)
Como nos tempos sombrios em que viveu o santo profeta Ezequiel, há muitas ovelhas que estão dispersas, sem contar aquelas que estão prestes a se dispersar. Há ovelhas famintas que precisam ser nutridas com o salutar alimento da divina palavra; há ovelhas doentes que precisam de cura urgente; há ovelhas cegas cujos olhos precisam ser abertos para que enxerguem a “luz verdadeira que ilumina todo homem que vem a este mundo.”
Os textos bíblicos são claríssimos. Deus culpa e responsabiliza os pastores ruins pela dispersão do rebanho, mas, para não faltarmos com à verdade, deve-se dizer que muito do que se diz das ovelhas vale também para os que as pastoreiam: há pastores, e oxalá que apenas fossem poucos, que andam dispersos, cegos, famintos e gravemente doentes, talvez porque se afastaram do grande e supremo pastor, para o qual urge que retornem o quanto antes. Se as ovelhas andam dispersas, não nos deve causar estranheza que dispersos estejam os que as pastoreiam, de acordo com conhecido ditado: “Rebanho disperso, pastor mais disperso ainda.”
São Pedro, o primeiro pastor supremo da Igreja, a quem nosso Senhor entregou as chaves do reino, assim diz a todos os pastores de todos os tempos: “Apascentai o rebanho de Deus que vos é confiado, velando por ele como Deus o quer; não por cobiça mas por dedicação.” (1 Pd 5, 2 e ss) O que São Paulo disse aos anciãos da Igreja de Éfeso, tomem-no para si os que tem a delicada missão de pastorear uma porção do povo de Deus: “Cuidai de vós mesmos e de todo o rebanho de cuja guarda o Espírito Santo vos constituiu responsáveis. Apascentai a Igreja de Deus que ele adquiriu para si com o seu próprio sangue.’ (At 20, 28)
Pastores, ouvi com atenção o que Deus voz diz. Cuidai de vós e muito mais do rebanho que vos foi confiado. Não vos esqueçais nunca de que um dia tereis de prestar contas estreitíssimas do que tiverdes feito com as ovelhas que vos foram confiadas ao grande pastor delas e vosso também.
Colaboração : Dom Samuel
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