sábado, 9 de dezembro de 2023

Reflitamos sobre o evangelho no 2º domingo do advento Mc 1, 1-8 - Dom Samuel Dantas ,OSB

 

2º Domingo do Advento

 


Texto: Mc 1, 1 – 8

 

O trecho do Evangelho deste segundo domingo do advento diz-nos que João Batista apresentou-se no deserto proclamando um batismo de conversão para o perdão dos pecados, que muitos acorriam a ele fazendo-se batizar, confessando as suas faltas, e finalmente nos informa que João vestia-se de pelo de camelo, com um cinto de couro a volta dos rins, alimentando-se de gafanhotos e de mel silvestre.

O que se deve ponderar e notar é que mesmo pregando no deserto, e pregando o que pregava – um batismo de conversão para o perdão dos pecados – muitos iam até João. Por que isso acontecia, indagará talvez alguém curioso, se o deserto onde
João falava não era um lugar aprazível para onde as pessoas dirigir-se-iam de bom grado e se a mensagem que ele anunciava no deserto era ainda mais dura e terrível do que o mesmo lugar onde ela era anunciada?

Pregando onde pregava e o que pregava o normal seria que ninguém o fosse procurar nem escutar e não obstante, diz-nos o texto sagrado que muitos – toda a região da Judéia e todos os habitantes de Jerusalém, acorriam a ele.

O que sucedeu no passado, é bem diverso do que acontece hoje em dia. A palavra não é mais anunciada no deserto, mas em igrejas e templos, sem que, todavia, se veja agora o que noutros tempos se viu, isto é, pessoas acorrendo para serem batizadas e para confessarem os seus pecados. E qual é a causa disso, se a palavra anunciada é a mesma e não outra diferente daquela que há séculos foi proclamada por João Batista? Ora, parece-me assaz evidente que tal sucede ou porque já não se proclama a palavra de Deus, a qual é viva e eficaz, ou então porque a vida de muitos que a proclamam quase sempre aparece aos olhos dos que a escutam como um soleníssimo desmentido da palavra proclamada, ainda que esta seja sempre verdadeira.

O evangelista nos diz que João vestia-se com simplicidade e alimentava-se parcamente. Terá isto atraído o público? Se sim ou se não é algo que não temos como saber, sendo certo porém que vendo os que iam ter com João o espetáculo sumamente edificante de uma vida austera e perfeitamente conforme com o que ele anunciava não podiam deixar de crer fosse verdadeira a doutrina que fluía de seus lábios.

Um homem que anuncie a palavra de Deus, ainda que  viva na solidão do deserto, ainda que a palavra por ele anunciada seja dura a ponto de ferir os ouvidos mais sensíveis e delicados, em suma, ainda que se vista pobremente e se alimente de ervas amargas e não de manjares finos e delicados, um tal homem não poderá deixar de produzir abundantes frutos. Se, todavia, a palavra anunciada não é a de Deus e se a vida de quem a anuncia pouco tem de edificante, não se deve estranhar que espaços sagrados destinados ao culto de Deus estejam se tornando verdadeiros desertos.

Como seria bom e desejável que os pregadores de hoje pregassem o que João pregou, se vestissem com simplicidade e comessem parcamente! Imagino que se isso fosse feito, não haveria atualmente tantos desertos!

colaborador : Dom Samuel Dantas, OSB

Dom Samuel(Émerson Dantas de Araújo), é natural de Mauriti- Ce. Monge professo solene de votos perpétuos do Mosteiro de São Bento da Bahia, Salvador. É licenciado em Filosofia e Bacharelado em Teologia pela antiga faculdade de São Bento da Bahia e mestre em Filosofia pela UFBA(universidade Federal da Bahia)

 

 

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