domingo, 23 de julho de 2023

SOBRE COISAS QUE NEM PRECISAM SER DITAS NEM FEITAS. PALAVRAS E AÇÕES INÚTEIS.

         Não é costume da grande maioria antes de dizer algo perguntar durante alguns instantes se vale ou não a pena dizer isto ou aquilo, podendo-se dizer o mesmo sobre o que habitualmente fazemos em nosso dia a dia: raramente paramos para pensar se vale ou não fazer tal ou qual coisa. Simplesmente, na maioria das vezes, se não quase sempre, dizemos o que nos vêm à cabeça e fazemos o que talvez fora muito melhor não ter feito.

Se todavia, prestarmos um pouco de atenção nas palavras saídas de nossa boca em quaisquer circunstâncias do nosso cotidiano quando nós as pronunciamos; se tivermos coragem de ser sinceros conosco mesmos, será preciso reconhecer que elas não serviram para nada, exceto para nos convencerem de que teria sido muito mais sensato não tê-las dito. Observou um filósofo antigo que boa parte de nossas ações e de nossas palavras são desnecessárias. A quem ajudam? A nós? Na maioria das vezes não! E por que? Porque via de regra, longe de resolver problemas, apenas nos trazem um ou mais.

Quantos e quantas neste mundo já não se arrependeram de ter dito certas palavras e de ter feito certas coisas! Alguém diz o que não quer e ouve de imediato o que não quer; faz algo e não tarda a receber ainda antes do julgamento divino depois da morte o troco com a mesma moeda que deu; atira uma pedra em alguém e recebe uma pedrada de volta; critica fulano sem ajuda-lo em nada para que melhore e logo encontra quem também o critique, apontando-lhe as faltas que o sujeito só vê nos outros. Em suma, hoje é o caçador que come a presa para daí a pouco se tornar a presa que é comida por outro caçador.

Sem perceber, vamos por meio das nossas palavras unidas a nossos atos, muitos dos quais totalmente inúteis e desnecessários que apenas nos fazem mal, desperdiçando uma enorme quantidade de energia psíquica, que bem poderia ser canalizada na direção de coisas proveitosas para nós. Quase tudo que dizemos e fazemos raramente nos eleva e torna melhores...

Tomemos um exemplo clássico e dos mais vulgares presente em todos os lugares do mundo. Abrimos nossa boca – e quem dera que isso não sucedesse com bastante frequência – para achincalhar alguém de quem não gostamos e a quem não dedicamos nenhuma gota de simpatia. Saímos duplamente prejudicados. O primeiro a quem fazemos mal é a nós mesmos, precisamente por causa das palavras más saídas de nossa boca, as quais são reveladoras de um interior estragado e deteriorado que nos vai destruindo progressivamente com a força avassaladora de um câncer letal, sem que aquele de quem falamos mal seja minimamente atingido. E há mais ainda: será que a pessoa para a qual falamos mal de outro vai pensar, escutando-nos, que somos melhores do que aquele de quem falamos mal? Já paramos para pensar que enquanto falamos mal de alguém para uma pessoa qualquer ela pode estar pensando exatamente o mesmo e quiçá até coisa pior a nosso respeito, e dizendo lá consigo enquanto nos escuta: que canalha, que mal caráter?

Quanto ao que fazemos habitualmente, muitas vezes de maneira impensada, se bem pensarmos, haveremos de convir que amiúde nos causam mais prejuízo do que lucro, razão pela qual teria sido muito mais sábio e sensato jamais ter feito certas coisas.

Antes pois que digas ou faças algo, é bom que entres em ti, que consultes a tua razão, dialogues com a tua consciência e perguntes a ti mesmo: para o que tal palavra vai servir? Que vou ganhar se a pronunciar? Que resultará deste ato que tenho pensado em praticar? Vai resolver algum problema? Me trará algum benefício? Ajudará alguém? Tornar-me-ei melhor se o praticar, mais humano, mais cristão?

Em caso de resposta negativa, nem digas nem faças. Se disser, poderá perder muito sem nada ganhar; se não disser e não fizer, além de nada perder, ganhará muito, a começar pela incomparável e impagável ventura de nem ter dito uma má palavra nem ter feito uma má ação.

colaborador : Dom Samuel Dantas, OSB

Dom Samuel(Émerson Dantas de Araújo), é natural de Mauriti- Ce. Monge professo solene de votos perpétuos do Mosteiro de São Bento da Bahia, Salvador. É licenciado em Filosofia e Bacharelado em Teologia pela antiga faculdade de São Bento da Bahia e mestre em Filosofia pela UFBA(universidade Federal da Bahia)


 

 

 

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