Não é costume da grande maioria antes de dizer algo perguntar durante alguns instantes se vale ou não a pena dizer isto ou aquilo, podendo-se dizer o mesmo sobre o que habitualmente fazemos em nosso dia a dia: raramente paramos para pensar se vale ou não fazer tal ou qual coisa. Simplesmente, na maioria das vezes, se não quase sempre, dizemos o que nos vêm à cabeça e fazemos o que talvez fora muito melhor não ter feito.
Se
todavia, prestarmos um pouco de atenção nas palavras saídas de nossa boca em
quaisquer circunstâncias do nosso cotidiano quando nós as pronunciamos; se
tivermos coragem de ser sinceros conosco mesmos, será preciso reconhecer que
elas não serviram para nada, exceto para nos convencerem de que teria sido
muito mais sensato não tê-las dito. Observou um filósofo antigo que boa parte
de nossas ações e de nossas palavras são desnecessárias. A quem ajudam? A nós?
Na maioria das vezes não! E por que? Porque via de regra, longe de resolver
problemas, apenas nos trazem um ou mais.
Quantos
e quantas neste mundo já não se arrependeram de ter dito certas palavras e de
ter feito certas coisas! Alguém diz o que não quer e ouve de imediato o que não
quer; faz algo e não tarda a receber ainda antes do julgamento divino depois da
morte o troco com a mesma moeda que deu; atira uma pedra em alguém e recebe uma
pedrada de volta; critica fulano sem ajuda-lo em nada para que melhore e logo
encontra quem também o critique, apontando-lhe as faltas que o sujeito só vê
nos outros. Em suma, hoje é o caçador que come a presa para daí a pouco se
tornar a presa que é comida por outro caçador.
Sem
perceber, vamos por meio das nossas palavras unidas a nossos atos, muitos dos
quais totalmente inúteis e desnecessários que apenas nos fazem mal, desperdiçando
uma enorme quantidade de energia psíquica, que bem poderia ser canalizada na
direção de coisas proveitosas para nós. Quase tudo que dizemos e fazemos
raramente nos eleva e torna melhores...
Tomemos
um exemplo clássico e dos mais vulgares presente em todos os lugares do mundo.
Abrimos nossa boca – e quem dera que isso não sucedesse com bastante frequência
– para achincalhar alguém de quem não gostamos e a quem não dedicamos nenhuma
gota de simpatia. Saímos duplamente prejudicados. O primeiro a quem fazemos mal
é a nós mesmos, precisamente por causa das palavras más saídas de nossa boca,
as quais são reveladoras de um interior estragado e deteriorado que nos vai
destruindo progressivamente com a força avassaladora de um câncer letal, sem
que aquele de quem falamos mal seja minimamente atingido. E há mais ainda: será
que a pessoa para a qual falamos mal de outro vai pensar, escutando-nos, que
somos melhores do que aquele de quem falamos mal? Já paramos para pensar que
enquanto falamos mal de alguém para uma pessoa qualquer ela pode estar pensando
exatamente o mesmo e quiçá até coisa pior a nosso respeito, e dizendo lá
consigo enquanto nos escuta: que canalha, que mal caráter?
Quanto
ao que fazemos habitualmente, muitas vezes de maneira impensada, se bem
pensarmos, haveremos de convir que amiúde nos causam mais prejuízo do que lucro,
razão pela qual teria sido muito mais sábio e sensato jamais ter feito certas
coisas.
Antes
pois que digas ou faças algo, é bom que entres em ti, que consultes a tua
razão, dialogues com a tua consciência e perguntes a ti mesmo: para o que tal
palavra vai servir? Que vou ganhar se a pronunciar? Que resultará deste ato que
tenho pensado em praticar? Vai resolver algum problema? Me trará algum
benefício? Ajudará alguém? Tornar-me-ei melhor se o praticar, mais humano, mais
cristão?
Em
caso de resposta negativa, nem digas nem faças. Se disser, poderá perder muito
sem nada ganhar; se não disser e não fizer, além de nada perder, ganhará muito,
a começar pela incomparável e impagável ventura de nem ter dito uma má palavra nem
ter feito uma má ação.
colaborador : Dom Samuel Dantas, OSB
Dom Samuel(Émerson Dantas de Araújo), é natural de Mauriti- Ce. Monge professo solene de votos perpétuos do Mosteiro de São Bento da Bahia, Salvador. É licenciado em Filosofia e Bacharelado em Teologia pela antiga faculdade de São Bento da Bahia e mestre em Filosofia pela UFBA(universidade Federal da Bahia)
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