domingo, 30 de julho de 2023

ENTRE O NADA E O MUITO O SUFICIENTE - Dom Samuel ,OSB

 ENTRE O NADA E O MUITO O SUFICIENTE

Dentre as muitas e preciosas lições que a sabedoria filosófica dos antigos gregos nos transmitiu, uma das mais úteis para a vida dos mortais é a seguinte: nada em excesso. Perceberam eles, brilhantes que eram, que tudo aquilo que ultrapassa a justa medida acaba por prejudicar.

Coube ao grande Aristóteles formular com poucas palavras este sábio princípio: “A virtude está no meio.” Mas por que nada em excesso? Por uma razão muito simples: o excesso torna-se um peso e sobrecarregados com o peso de algo que nos oprime e esmaga não conseguimos caminhar bem nem direito.

E é bem fácil realizar a experiência de que o excesso é sempre nocivo. Experimente alguém comer em demasia uma só vez para ver o que lhe acontece logo em seguida. Se insistir por um certo tempo em tal hábito verá o triste resultado assim que subir na balança e quando levar os resultados dos seus exames para o médico. Eis aí um dos extremos que há de ser cuidadosamente evitado em vista da conservação do grande bem de nossa saúde.

Se todavia, fizermos o inverso, isto é, se nos privarmos da comida por certo tempo, logo começaremos a nos sentir mal, sem força para realizarmos os nossos trabalhos diários, chegando a adoecer e tendo de ficar em casa até que consigamos nos restabelecer prontamente.

Assim, entre o comer demais, além da medida que nos prejudica e o não comer de modo nenhum, que também nos faz mal, está o comer quanto nos basta para evitarmos, de um lado a gula, e de outro, a fome.

Tomemos ainda em consideração os chamados bens materiais, dos quais todos temos necessidade e sem a posse dos quais a vida, já de si tão dura, tende a tornar-se um fardo inaguentável. Não os ter de modo algum é ruim, porque não nos permite viver com um mínimo de dignidade, sem a posse daquelas coisas sem as quais nem é possível viver bem. Tê-los porém, em demasia desnecessária, gera, como os ricos sabem e experimentam em sua vida, cansaço, preocupação, coisas essas que fazem um tremendo mal a nossa saúde. Neste caso específico, entre o não ter nada, que é ruim, e o ter demais, que também não é bom, a sabedoria nos recomenda que tenhamos o suficiente, orientação

dado pelo apóstolo Paulo a seu discípulo Timóteo: “Se tivermos o que comer e com que nos vestir estejamos contentes com isso.”

Quem pois já tem o suficiente não queira ter mais, pois como nos advertiu o padre Antônio Vieira em um dos seus magníficos sermões “quem quer mais do que tem, perde o que quer e perde o que tem.”

Neste mundo há por certo duas classes de pessoas que não vivem tão bem assim: os que não tem aquilo de que precisam e os que tem mais do que precisam. Entre uns e outros, acham-se os que vivem em melhor situação que ambos: aqueles aos quais não falta o suficiente e que não querem mais do que aquilo que tem.

colaborador : Dom Samuel Dantas, OSB

Dom Samuel(Émerson Dantas de Araújo), é natural de Mauriti- Ce. Monge professo solene de votos perpétuos do Mosteiro de São Bento da Bahia, Salvador. É licenciado em Filosofia e Bacharelado em Teologia pela antiga faculdade de São Bento da Bahia e mestre em Filosofia pela UFBA(universidade Federal da Bahia)


 

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