CUIDADO
COM O QUE TU VÊS E OUVES
Ensina-nos
o apóstolo Paulo que a fé vem pelo sentido da audição. “A fé vem pelo ouvir”,
escreveu ele. E, poder-se-ia acrescentar, também uma desgraça, uma tragédia.
Ouvidos
sempre abertos para escutar tudo constituem uma espécie de perigo permanente.
Ao colocar nossos primeiros pais no jardim do Éden, deu-lhes Deus uma ordem
expressa: “Podereis comer de todas as árvores que estão no jardim, mas não
comereis da árvore da ciência, pois no dia em que dela comerdes vossa morte
estará marcada.” A serpente porém,(quem quiser saber quem é esta serpente, leia
Apocalipse 12, 9 e 20, 2) disse outra coisa a Eva. Para sua desgraça e nossa,
ela escutou a palavra do maligno e não tardou em fazer o que o mesmo Deus tinha
expressamente vedado.
Por ter escutado a astuta serpente, Eva ouviu
de Deus: “Farei com que na gravidez tenhas grandes sofrimentos; é com dor que
hás de gerar filhos. Teu desejo de impelirá para teu homem e este te dominará.”
(Gn 3, 16) E por ter escutado a voz de sua mulher e desobedecido a Deus, Adão
escutou palavras não menos terríveis do que as que tinham sido ditas a Eva: “Por
teres escutado a voz da tua mulher e comido da árvore que eu te havia
formalmente prescrito não comer, o solo será maldito por tua causa. É com
fadiga que te alimentarás dele todos os dias de tua vida: ele fará germinar
para ti espinho e cardo.” (Gn 3, 17 e ss) Seguiu-se a isto a expulsão de ambos
do ameno paraíso onde tinham sido postos depois da criação.
De
certa maneira, foi esta a causa da primeira grande tragédia sucedida na
história humana: alguém resolveu dar
ouvidos a uma má palavra. E quantas palavras deste jaez andam circulando pelo
mundo de dia e de noite com imensa rapidez não é preciso que eu diga, porque
todos estamos perfeitamente cientes.
O
que entra pela porta do ouvido, a qual quase sempre vive escancarada, tem poder
de perturbar a mente, lançar a alma na escuridão e a depender do que tiver
entrado, destroçar completamente uma vida.
Cuidado,
pois com o que tu ouves...
Conta-nos
o autor do segundo livro de Samuel que “numa tarde, David levantou-se da cama e
pôs-se a passear pelo terraço do palácio real. Do alto do terraço, avistou uma
mulher que se banhava. A mulher era muito bonita.” (2Sm cap. 11, versículo 2)
Aqui
têve início – por causa dos olhos – toda a tragédia de David. Viu, desejou,
adulterou e ainda por cima, cometeu a torpe vilania de mandar matar
perfidamente o marido da mulher com quem adulterara, e que aliás era um dos
seus mais fiéis vassalos. Dois graves crimes cometeu o rei David: adultério
seguido de homicídio. O que se deve, porém notar é que ambos tiveram o seu
início em um simples lançar de olhos.
Por
causa deste deslize, Deus mandou um profeta notificar em seu nome a David que
entre outras coisas, a espada jamais se afastaria de sua casa. “E porque
fizeste o que desagrada ao Senhor e feriste a espada Uriá para fazer de sua
esposa tua mulher, vou fazer surgir de tua própria casa a tua desgraça. Aos
teus próprios olhos tomarei tuas mulheres e as darei a um outro. Tu agiste em
segredo, mas eu farei tudo isso diante de todo o Israel e a luz do sol.” (2Sm
12, 9 – 12)
Não
foi necessário mais do que olhar para Betsabéia (era esse o nome da mulher) para
que o fogo de uma paixão impura e incontrolável se acendesse no peito de David.
Aceso o fogo da paixão que consumiu todo o seu ser, perturbando-lhe a luz da
razão, vieram depois o adultério e o homicídio.
E
como não há crime que mais dia menos dia não seja exemplarmente punido por uma
infalível justiça, David não tardou a sentir desabar sobre ele o braço da
incorruptível justiça vingadora. E no princípio de tudo, na origem desta
lamentável tragédia, um olhar, os olhos.
Cuidado
com o que tu vês...!
Nenhum comentário:
Postar um comentário