“Não bastando pouco, muito também não bastará; insatisfeito com pouco, insatisfeito com muito.”
Certo cidadão residia em uma pequena casa e faturava a quantia de cem contos de réis mensais. Querendo aumentar seu soldo mensal, pôs-se a trabalhar mais, e ao fim de certo período de tempo conseguiu elevar sua renda para trezentos contos de réis, o que lhe permitiu morar numa habitação de proporções maiores que a primeira.Decorridos
alguns dias de sua mudança social e econômica, deu-se conta de que quando
estava na situação anterior desejava sair dela, imaginando que se saísse de
onde estava para algo melhor seria mais feliz. Ao chegar, porém, numa condição
que a princípio pareceu-lhe melhor que a precedente, logo percebeu duas coisas:
começou a sentir uma certa nostalgia da situação anterior e para surpresa sua,
viu que não obstante a sua ascensão, continuava o mesmo insatisfeito de antes.
Constatando
isso, resolveu que só havia uma solução para o
problema: era preciso trabalhar
com redobrado afinco para subir mais um degrau na escada sócio-econômica. Passou, pois, a investir mais tempo no
trabalho, sonhando acordado com uma casa mais ampla do que a segunda e com um
ordenado superior aos atuais trezentos contos que então faturava.
O
resultado de tanto esforço não demorou a aparecer – apesar das noites mal
dormidas e do visível declínio de sua saúde física e mental, que também
apareceram - e eis que passou a morar em
uma casa maior do que as duas anteriores, tendo conseguido elevar sua renda
mensal a mil réis mensais, o que na prática equivalia a acertar na loteria e
tirar a sorte grande.
Aí
chegando descobriu porém – de novo! – que quando ganhava cem contos de réis
vivia mais tranquilo do que quando começou a ganhar trezentos e agora que já
faturava mil com sobre-humanos esforços, a sua situação não era melhor nem
tampouco mais feliz do que quando ganhava apenas trezentos.
Estranho,
dizia ele de si para si conversando em silêncio com os seus botões – quando só
ganhava cem queria mais, mas quando passei a ganhar mais do que ganhava senti
saudade do tempo em que ganhava menos e apesar de ter passado a ganhar mais nem
por isso me tornei mais feliz!
Resolveu
então daí por diante não dar um outro passo para ganhar dois mil. Optou então
por tentar viver apenas com cinquenta...E não é que aquele cidadão que hoje
vive em paz e relativamente feliz com apenas cinquenta descobriu – antes tarde
do que nunca – que se tivesse sabido disto antes, ao invés de ter trabalhado
para ganhar mais do que cem, teria se esforçado para viver apenas com
cinquenta...
Certo
cardeal confidenciou a um seu amigo querido: “Sabe, antes de entrar no
Seminário, o meu grande sonho era entrar para lá, mas depois que entrei, meu
sonho passou a ser padre, e depois que me tornei padre, meu maior sonho passou
a ser bispo, e depois que isto me tornei meu maior sonho passou a ser cardeal,
e agora que sou cardeal te confesso que não sonho em ser papa e honestamente
falando, preferiria não ser o que sou
agora. E fica sabendo que por incrível
que isto possa te parecer, a época mais
feliz da minha vida foi aquela em que era apenas um obscuro e modesto
seminarista.
colaborador : Dom Samuel Dantas, OSB
Dom Samuel(Émerson Dantas de Araújo), é natural de Mauriti- Ce. Monge professo solene de votos perpétuos do Mosteiro de São Bento da Bahia, Salvador. É licenciado em Filosofia e Bacharelado em Teologia pela antiga faculdade de São Bento da Bahia e mestre em Filosofia pela UFBA(universidade Federal da Bahia)
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