Camilo Santana - Ministro da Educação eis uma reflexão o Diálogo e união são o caminho. No MEC, as portas estão abertas para isso.
QUATRO NOTINHAS SOBRE CURRÍCULO
1. O currículo escolar brasileiro é impossivelmente extenso. Nem mesmo os professores o dominam. Peça a qualquer professor que resolva uma prova de todas as disciplinas do terceiro ano do ensino médio: ele certamente será reprovado. É loucura a exigência de que alunos adolescentes dominem uma cultura que os seus professores não conseguem ter. É claro que um currículo assim é criado para que não funcione, porque é insano. A escola ensina de fato um currículo oculto, e não o explícito: ela ensina bem a memorizar um conteúdo, fazer uma prova e depois esquecer. Não há como ser diferente.
2. O nosso atual currículo não cumpre nenhuma função educacional. Os egressos do nosso ensino médio estão completamente despreparados para a vida social, profissional e acadêmica. Em lugar disso, eles se tornam especialistas em resolver questões de prova. Richard Feynman já apontava esse caráter da escola e da universidade brasileira em 1952... Não espanta que uma quantidade muito significativa de pais sonhe para os filhos a carreira de “concurseiro”. As escolas de elite, a despeito de absolutamente não educarem, preparam bem para essa "profissão".
3. Muitos educadores enfatizam a questão do método, não a do currículo, e pensam que com um bom método pedagógico, aplicado corretamente, a Educação brasileira avançaria. Contudo, a catástrofe da nossa escola não tem início no “como” se ensina; ela começa pelo “o que” se ensina. Afinal, o método deve existir em função do currículo, e não o contrário. O “o que ensinar” determina o “como ensinar”. Isto é: o “como”, o método pedagógico, é um problema secundário; o problema primário é o nosso currículo completamente alucinado.
Uma escola que “realmente ensine”, que “ensine corretamente” um conteúdo nonsense não se torna uma instituição educadora; não, ela permanece anti-educadora, e será tanto mais anti-educadora quanto melhor ensinar esse currículo sem sentido. Métodos muito eficientes para ensinar um conteúdo insano não reduzem a insanidade: amplificam-na. Para que possa surgir a Educação nas escolas brasileiras, é necessário revolucionar por inteiro o currículo nacional.
4. Como criar um bom currículo escolar? O seu componente obrigatório no Ensino Fundamental precisa focar naquilo que é realmente básico: muita leitura, muita escrita, a matemática do dia-a-dia, uma ou duas línguas estrangeiras, o básico da História, da Geografia e das ciências naturais. No Ensino Médio, todavia, precisa ser reduzido ao mínimo: muita leitura, muita escrita, uma ou duas línguas estrangeiras vivas.
Ao lado desse currículo mínimo, precisam ser oferecidas, como eletivas, inúmeras opções de aprendizado e aprofundamento: as ciências naturais específicas, a matemática que vai além das necessidades cotidianas, línguas como grego e latim, aprofundamentos em História e Geografia, e noções de mecânica, de gastronomia, de marcenaria, de Direito, de Filosofia, de programação de computadores, de astronomia, de paleontologia, de música, de costura, e muitas outras matérias. Todas opcionais. Impossível? Ora, o ensino médio em vários sistemas escolares europeus funciona assim, e não consta que os seus egressos apresentem a terrível formação intelectual e cultural dos nossos jovens.
Em suma: para melhorar a escola, é preciso melhorar o nosso currículo – especialmente o do Ensino Médio. E melhorá-lo não é ampliá-lo: é reduzir o seu componente obrigatório ao mínimo essencial, e criar um componente eletivo vasto e variado.
texto de GUSTAVO BERTOCHE ( midia social)
Doutor em Filosofia na instituição de ensino UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro
MestrE em Filosofia na instituição de ensino UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Palavras de Camilo Santana - ministro da Educação
Os desafios para reconstruir a Educação nesse país são enormes. E nós precisamos construir tudo isso juntos. Nós precisamos nos unir, porque a Educação precisa estar acima de qualquer questão política, partidária. Nós precisamos garantir que as crianças e os jovens desse país possam ter uma oportunidade digna de vida e de melhoria, oportunidade de um futuro melhor.
Nós não podemos construir política de governo. Políticas educacionais têm que ser política de estado, para que, independentemente dos governos que estejam aí, elas continuem aperfeiçoando e garantindo a qualidade e a equidade da educação pública desse país.
Porque eu acredito que o diálogo e união são o caminho. No MEC, as portas estão abertas para isso.
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