Olhe ao seu lado: Mesmo com todas as inovações tecnológicas a fome só aumentou em toda humanidade. Dados da fome no Brasil
Três séculos atrás, o economista inglês Thomas Malthus vaticinava que, sem controle de natalidade, o mundo estaria destinado à fome. "A população, quando não contida, cresce em progressão geométrica. A subsistência cresce apenas em progressão aritmética. Um pouco de conhecimento em matemática mostrará a imensidão da primeira potência em comparação com a segunda", escreve ele em seu célebre "Ensaio sobre o Princípio da População", de 1798.
A tese ecoa ainda hoje --quando a população mundial atinge a marca dos 8 bilhões, dez vezes a da época do pai da demografia-- e influenciou do movimento ambientalista a setores conservadores, que se apropriaram do argumento para defender agendas anti-imigração, por exemplo.
A previsão de Malthus estava errada --ao menos desde a década de 1960, a produção de alimentos, auxiliada pelas inovações tecnológicas, supera o crescimento da população global ano após ano. Mesmo assim, a fome não abandonou a humanidade.
- Relatório mais recente da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês) indica que o percentual de pessoas que sofrem de subalimentação no mundo só cresceu nos últimos anos, indo de 8% em 2019 para 9,3% em 2020 e 9,8% em 2021. Isso significa que entre 702 milhões e 828 milhões de indivíduos não têm acesso às calorias mínimas necessárias para uma vida ativa e saudável. (Clara Balbi)
"Dados da fome no Brasil
A fome é um problema que acomete 33,1 milhões de pessoas no Brasil, o que significa dizer que 15,5% da população brasileira não tem acesso à alimentação regular. Esses dados foram levantados pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), por meio do 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, divulgado no ano de 2022.|
O número de pessoas sem ter o que comer aumentou significativamente no Brasil nas últimas duas décadas, especialmente quando se leva em conta que a parcela da população convivendo com a fome havia caído de 9,5% no início do presente século para 4,2% em 2013. Em função disso, no ano de 2014, o Brasil foi retirado do Mapa da Fome, que é elaborado e atualizado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Fatores de ordem conjuntural, entretanto, fizeram com que a fome no país aumentasse mais uma vez, chegando então ao cenário atual.
Em números relativos, é na região Norte onde o problema da fome incide de forma mais grave e acentuada, acometendo 25,7% das famílias. A segunda região mais afetada é o Nordeste, onde 21% das famílias convive diariamente com essa condição.
Levando em conta as formas moderada e grave de insegurança alimentar, os índices para ambas as regiões são ainda mais alarmantes. De acordo com o estudo da Rede Penssan, 45,2% das famílias do Norte convive com a insegurança alimentar moderada ou grave, enquanto no Nordeste a parcela é de 38,4%.
Quando se analisa a distribuição da fome no Brasil por meio de números absolutos, a região Nordeste aparece como a área com a maior população carente de alimentos no país, com 12 milhões de pessoas. Na sequência vem o Sudeste, com 11,7 milhões.
O Centro-Oeste é a região do Brasil com o menor número de pessoas acometidas pela fome: 2,15 milhões. No Norte e no Sul, os números são respectivamente de 4,85 milhões e três milhões de pessoas.| Ainda em termos espaciais, temos que a incidência da fome é maior na população rural do que na população das cidades.
Outro aspecto da fome no Brasil que é importante de ser destacado diz respeito ao perfil da população que é mais atingida por esse problema. A insegurança alimentar grave é maior naqueles lares chefiados por pessoas que se autodeclaram negras (que compreendem pretos e pardos, de acordo com o IBGE). Além disso, as famílias chefiadas por mulheres apresentam maior índice de insegurança alimentar grave do que aquelas que possuem homens como responsáveis.
Pandemia e a fome no Brasil
A pandemia de covid-19 se instalou no Brasil no início do ano de 2020, espalhando-se de forma alarmante por todo o território nacional e rapidamente se transformando em uma crise sanitária. Essa crise afetou a economia de diversos países, como o Brasil, gerando problemas como o aumento da inflação e do preço de produtos básicos, como os alimentos, e causando transformações no perfil socioeconômico da população.
Dentre as transformações ocasionadas podemos citar a diminuição da renda e do poder de compra e o aumento da pobreza e das desigualdades sociais no território nacional. Além disso, houve o aprofundamento de problemas que já estavam em curso, como foi o caso do desemprego.
Todos esses fatores em conjunto contribuíram para a ampliação da parcela da população em situação de insegurança alimentar grave, que caracteriza a fome. No início da pandemia, 9% da população convivia com os efeitos da escassez de alimentos. Essa parcela, como vimos, saltou para 15,5% apenas dois anos mais tarde.
Insegurança alimentar no Brasil
A insegurança alimentar é definida como a falta de acesso regular a alimentos saudáveis e em quantidade suficiente para atender às demandas nutricionais de um indivíduo. Essa condição pode ser leve, moderada ou severa. Esse último caso ocorre quando uma pessoa fica completamente sem ter o que comer, passando um dia inteiro ou períodos do ano sem se alimentar, o que a coloca em uma situação de fome.
Pouco mais da metade da população brasileira, mais precisamente 58,7% ou 125,2 milhões de pessoas, convive com a insegurança alimentar. Desses, como vimos, 15,5% sofre com o grau mais grave desse problema, que configura a fome.
A insegurança alimentar aumentou nos últimos anos e atinge principalmente a população de baixa renda, que recebe menos do que um salário mínimo por mês. As formas moderada e grave de insegurança alimentar estão presentes em maior escala nas famílias que vivem no campo, bem como nas populações das regiões Norte e Nordeste do Brasil.
Consequências da fome no Brasil
A fome implica graves consequências para os indivíduos, afetando diretamente a sua qualidade de vida e a saúde física e mental.
Uma dessas consequências é subnutrição, descrita como a falta de nutrientes, como vitaminas e proteínas, importantes para a manutenção do organismo. Nos casos de maior gravidade, há a ocorrência da desnutrição, que pode desencadear outras doenças associadas ou não à deficiência de nutrientes, uma vez que ela diminui as defesas do corpo e pode gerar consequências a longo prazo para o organismo.
A desnutrição pode afetar ainda o desenvolvimento infantil e, em uma situação mais severa, ocasionar a morte dos indivíduos pelo longo tempo sem a ingestão de alimentos apropriados ou pela perda de capacidade do organismo de absorver os nutrientes necessários."
- Veja mais sobre "Fome no Brasil" em: https://brasilescola.uol.com.br/brasil/fome-no-brasil.htm
- fonte: folha de São Paulo ( folhapress) - texto Clara Balbi
- Leia também: Pobreza no Brasil — dados sobre esse grave problema socieconômico em território brasileiro
- https://brasilescola.uol.com.br/brasil/fome-no-brasil.htm
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