sexta-feira, 5 de agosto de 2022

JUAZEIRO QUE TIVE O PRAZER DE CONHECER! POR QUE A BEATA MARIA DE ARAÚJO NÃO PODE TER UM TÚMULO?

JUAZEIRO QUE TIVE O PRAZER DE CONHECER! POR QUE A BEATA MARIA DE ARAÚJO NÃO PODE TER UM TÚMULO? POR QUE? ONDE ESTARÃO O AMOR E O PERDÃO PREGADOS PELA IGREJA? – 


Maria Magdalena do Espírito Santo de Araújo foi uma beata da raça negra, franzina, pobre ou paupérrima, analfabeta e nascida na Vila do Joaseiro, no Sul do Ceará, em meados do século XIX, ou mais precisamente, em 24 de Maio de 1862. Sem uma profissão certa ou definida e radicada num ambiente rústico e totalmente farto em dificuldades, senão miséria! 
Da confecção de bonecas, ao interior das cozinhas, foi conferente de tijolos numa olaria, até ingressar na vida religiosa, a irmandade das beatas nordestinas estimuladas pelo padre Ibiapina, sob a orientação do Padre Cícero Romão Batista, o capelão do lugar, logo após a sua chegada, em 1872. 
Maria de Araújo gostava de rezar, e desde cedo passou a ter visões e experimentar de êxtases, que culminaram nos fenômenos de que foi protagonista, na capela de Nossa Senhora das Dores, no dia 1º de Março de 1889, após uma vigília de orações que varou toda noite. 
A exemplo de Anna Catarina Emmerich, Tereza D’Ávila e a jovem Bernardette de Soubirous relatou para seu confessor e guia espiritual, como também aos componentes da Primeira Comissão Episcopal de Inquérito, que teve arrebatamento celestiais, quando visitou Céus e Purgatório, inclusive, e igualmente a consagrada Tereza D’Ávila experimentou de êxtases sublimes e numa cerimônia fantástica contraiu núpcias com Jesus Cristo, filho de Deus.
Enquanto as três santas e expoentes do catolicismo, acima citadas foram exaltadas pela Igreja, a Beata Maria de Araújo (teve os ossos sumidos e foi cruelmente proibida de ter um túmulo) foi impiedosamente e ferozmente execrada por essa Entidade e seus apologistas. 
Na oportunidade, vale à pena conferir o tom agressivo e desrespeitoso usado por sacerdotes e outras autoridades na sua conceituação. Por que tudo isso? Por ela ser Negra? Por ela ser Pobre? Por ela ser Analfabeta?
"Pobre moça, reconhecidamente doentia, pensando que fazia milagres, sacrificou-se, empregando esforços para fazer vir sangue à boca" - dom Joaquim José Vieira, bispo diocesano do Ceará.
"Maria de Araújo era uma cacodemoníaca, cujas tendências se revelaram na conduta sui generis de toda sua vida, ou no fanatismo militante em que sempre viveu" - Lourenço Filho, educador, escritor.
"Era uma negra ignorante, que ingeria bons goles de cachaça, depois de fingidos êxtases" - padre Antônio Gomes de Araújo.
Contrariando os depoimentos acima, onde o ranço arrivista não pode ser ocultado, em face de sua saliência, o padre Clycério da Costa Lobo, teólogo e alguém que a conheceu de perto, assim se expressou:
"Em abono da verdade, sou obrigado a declarar aqui, querendo cumprir o juramento que prestei de ser fiel à missão que me foi confiada, que todo aquele que bem estudar o espírito de Maria de Araújo, [...] como procuramos fazê-lo, excluirá toda idéia de artimanha e embuste nessas comunhões miraculosas ensangüentadas"!
O padre Clycério da Costa Lobo, um sacerdote detentor de larga bagagem intelectual e teológica, inclusive portador de diplomas conferidos pelas escolas do Vaticano chefiou a 1ª Comissão Episcopal de Inquérito, e teve um contato de quase ou mais de um mês com a Beata Maria de Araújo, inclusive ministrou-lhe a comunhão por várias oportunidades, onde testemunhou o fenômeno das hóstias ensangüentadas. 

Obviamente seu relatório foi técnico, o que desapontou sobremaneira o bispo diocesano, dom Joaquim José Vieira, de vez que esse já tinha as suas conclusões sobre o assunto e jamais admitiria ser contrariado. Destarte, como os demais sacerdotes simpáticos ao pretenso milagre, padre Clycério sofreu retaliações, e durante certo período manteve inalterada suas conclusões expostas no relatório emitido e de sua responsabilidade, e apresentado no encerramento da "Comissão"! 

Na consolidação dos trabalhos da 2ª Comissão Episcopal de Inquérito, a intolerância manifestou-se em letras maiúsculas (a Beata foi agredida e apanhou do padre Alexandrino, ou seja, um homem truculento e intolerante bateu numa mulher amedrontada e indefesa, e, até hoje, ninguém se escandaliza com essa postura arrogante e reacionária da religião), uma vez que o objetivo dos "inquisidores" que a compunha era a desmoralização da Beata Maria de Araújo, do Padre Cícero e de todos aqueles que acreditavam nos pretensos milagres; a rigor criaram-se dois partidos. 

Com a divulgação dos resultados, mormente por ocasião da aplicação dos castigos, um pesado clima de medo foi introjetado na população, onde qualquer comunicação com a Beata Maria de Araújo poderia deixar as pessoas em maus lençóis, pois o espectro da excomunhão era uma nuvem densa a envolver a todos. Essa parte da história foi escrita com muita perseguição e sofrimento!  AMÉM!
NOTA: Esse texto "COMPLETO" está contido na obra: “Cícero Romão Batista - Meu Padim: Quando a Igreja vai (re)ordená-lo Padre?” lançado na Câmara Municipal do Juazeiro/CE, no dia 12 de Julho de 2016, data do centenário da EXCOMUNHÃO desse sacerdote pela Igreja (12/07/1916). Na oportunidade, este Autor distribuiu gratuitamente entre os presentes cem exemplares de sua produção. Por sugestão de jornalistas que o entrevistaram deixou alguns exemplares para venda, através duma livraria na Cidade. 
Decorrido quase dois meses voltou a essa loja, onde constatou que seu livro não estava nas prateleiras, não constava da relação computadorizada de títulos disponíveis e era mantido praticamente escondido numa espécie de caixote ou "Limbo", longe do público. Isso, além de estranho demonstra que a alienação é grande e que a discussão da história da Cidade parece não interessar a maioria, que simplesmente abomina a verdade! 
A história não pode ser amordaçada, tão pouco aprisionada e muito menos condicionada a atender a conveniências balizada pelos "poderosos", pelo fanatismo, em detrimento da verdade! E apôis! Isso merece uma séria e demorada reflexão, algo totalmente diferente de palestras, de simpósios, de seminários e outros "chás de Senhoras e Cavalheiros" que sempre terminam em efusivas palmas, distribuição de refrigerantes, bolos e cafezinhos e o assunto é transformado num relatório, fatalmente arquivado, de vez que o PADRE CÍCERO jamais será REABILITADO e os OSSOS da BEATA MARIA DE ARAÚJO sumiram, definitivamente e PONTO FINAL! 
Quanta hipocrisia!

Autor: José Pereira Gondim (Texto revisto na Noite de 03/08/2022)

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