JUAZEIRO QUE TIVE O PRAZER DE CONHECER! “ALÉM DOS OSSOS SUMIDOS PELA IGREJA, ESTA AINDA A PROBIU DE TER UM TÚMULO”!
CAPELA DE NOSSA SENHORA DO PERPETUO SOCORRO
Maria Magdalena do Espírito Santo de Araújo nasceu no dia 24 de Maio de 1862, no povoado de Joaseiro, sendo filha de Antônio da Silva Araújo e Ana Josefa do Sacramento. Conforme descrição do escritor Manoel Diniz "era mestiça, cabelos quase crespos que usava cortados baixinho, estatura média, franzina, cabeça pequena, um pouco arredondada, olhos quase negros e suaves na expressão, lábios um pouco grossos, nariz pequeno, faces um pouco salientes, queixo pequeno, pescoço bem proporcionado".
Segundo o padre Azarias Sobreira, que a conheceu, ela "não despertava a atenção a não ser pela simplicidade de manias, boa educação doméstica, fácil inteligência das coisas, apesar de analfabeta". Na condição de filha de família pobre teve infância sofrida, onde trabalhava fiando algodão e fazendo bonecas de pano para vender. A mandado do Padre Cícero Romão Batista, ensinava este ofício a algumas meninas de sua idade, e também chegou a prestar serviços numa olaria, contando tijolos. Como perdeu o pai muito cedo, foi morar na casa desse sacerdote, e, como gostava de rezar muito passou a vestir o hábito de beata em 1885, com 22 anos, após ter participado de uma espécie de curso de beata, (na verdade, um retiro espiritual de oito dias) ministrado pelos Padres Cícero Romão Batista e Vicente Sóter de Alencar.
O Padim tinha pela Beata Maria de Araújo uma particular consideração, razão porque, quando ela morreu, lhe dedicou uma atenção toda especial mandando abrir-lhe uma sepultura na Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e providenciou-lhe um enterro digno de uma pessoa ilustre. O sepultamento de religiosos, bem como plebeus no interior de igrejas, no entanto, era um costume cristão bastante comum, conforme se nota em vários registros, no País e alhures.
A Beata Maria de Araújo faleceu no dia 17 de Janeiro de 1914, quando estava em curso à chamada "Revolução de Juazeiro". Entretanto, no dia 22 de Outubro de 1930 seu túmulo foi aberto "clandestinamente" por monsenhor José Alves de Lima (vigário do Juazeiro do Norte), com toda certeza no cumprimento de uma ordem de seus superiores (do Vaticano, porque o bispado estava vago, com o falecimento de dom Quintino), que, deliberadamente, não deixavam o Padre Cícero em paz, não respeitavam nem a idade e a saúde abalada, de um ancião doente e quase nonagenário.
O túmulo, construído no interior da Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro foi totalmente destruído e os restos mortais da Beata, imediatamente sumidos, ou atirados numa vala qualquer (como um cão raivoso, uma víbora peçonhenta, um escorpião?) em local ignorado. Será se foram mesmo sepultados, ou incinerados como os "paninhos" do suposto milagre? O que a Igreja fez com os "despojos" dessa pobre mulher, que faz parte da história do Juazeiro é tipificado como crime de vilipêndio (ultraje) de cadáver, algo monstruoso, mormente quando perpetrado por uma religião, que se apresenta ao público, a fiéis seguidores totalmente fanatizados, como reservatório de amor e perdão (?)! Onde mesmo (?)? O povo deveria querer saber, mas, parece-me que tem medo...
O relato da violação do túmulo da Beata Maria de Araújo está contido na obra de Lira Neto: "Padre Cícero: Poder, Fé e Guerra no Sertão" e foi registrado no Cartório da Cidade pelo Padre Cícero, no dia 22 de Outubro de 1930, quando ocorreu essa agressão somente comum em filmes de terror, em películas da Máfia siciliana e outras ou de tramas criminosas!
Pois bem, durante a ditadura militar, aqui e na Argentina, vários cadáveres de terroristas ou pessoas eliminadas por esses "regimes de exceção" e que se engajaram na guerrilha, ou participaram de ações armadas ou não contra o status quo foram desaparecidos, enquanto isso, a Igreja Católica Apostólica Romana sequestrava os ossos de uma Beata que protagonizara um suposto milagre, na cidade de Juazeiro do Norte.
Os dois lados da moeda são terríveis, execráveis e totalmente apodrecidos, sim senhor! Cadê o amor da Igreja? Cadê o perdão? É bastante estranha a postura duma Entidade religiosa que chega a esse ponto, na defesa de suas crendices, dogmas, tabus, ou outras "estórias".
A postura observada na ditadura, num regime de força é cruel, mas, se trata dum "ambiente de guerra", (onde o poder justificava seus atos através da violência), enquanto a Igreja que prega tolerância e amor simplesmente mergulhou na hediondez praticando um ato condenável, capaz de envergonhar as pessoas honestas (?)! Nesse sentido, e na condição de um filho do Juazeiro e de uma pessoa perplexa com tanta maldade, este Autor deixa no ar algumas indagações pertinentes, ou seja:
• Por que a Igreja nega um túmulo a Beata Maria de Araújo?
• Por ela ser negra?
• Por ela ser protagonista do suposto milagre das hóstias?
• Por ela ser mulher?
• Por ela ser pobre?
• Por ela ser analfabeta (da cartilha? das letras?)?
• Por ela fazer parte da verdadeira história do Juazeiro?
• Por que seus ossos foram "sumidos"?
• Por que a cidade não cobra essa devolução da Igreja?
• Não existirá no Juazeiro/CE ninguém interessado na tradição Cristã ou desejando colocar flores no seu túmulo, ou acender-lhe uma vela?
• Onde andarão os parentes da Beata, que não se manifestam?
• Na cidade não existe nenhuma Entidade ou advogado interessado em fazer essa caridade a Beata, ou resgatar a trajetória da Vila Joaseiro?
• Para esse crime não caberia uma Ação de Cobrança na justiça? Isso, por acaso não seria uma exaltação da Lei?
• Na Cidade, no País, não há ninguém que se preocupe com a redenção da verdadeira história?
• Algum integrante da Igreja (o papa Francisco) acha esse procedimento errado e esboça o desejo de reparar tal agressão?
• A Igreja está acima da Lei, da Justiça? Isso por acaso é certo?
• Será isso um ato de amor e caridade cristã, meus senhores?
• Por que a cidade ignora esse fato criminoso e de truculência infinda? Medo do Inferno? Da perdição da alma?
• Os direitos de Maria de Araújo foram violados, ou não?
• Onde estarão os Direitos Humanos do País, que nunca "moveram uma palha" nesse sentido?
FONTE José Pereira Gondim é autor das trilogias: Cícero Romão Batista “Meu Padim”: Quando a Igreja vai (re)ordená-lo Padre?, A Forja do Cinismo e Jesus e o Cristianismo (a venda em “O Sebo Cultural/PB”, nas Livrarias Nobel, Saraiva, Estudantil e Imperatriz/PE, e algumas mais no País.
– Autor: José Pereira Gondim (Texto Revisto na Tarde de 23/05/2022)
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