Histórias de Cococi-Ce A Cidade Fantasma do Sertão dos Inhamhuns
Entre lendas e fatos: as histórias não contadas da cidade-fantasma do sertão cearense
O município de Cococi foi extinto. Restou povoado deserto, duas famílias residentes no distrito, casarões abandonados e ruínas a ecoar lendas no sertão. As vivências de lá tornam viva a memória do lugar
A cidade foi amaldiçoada por um padre. O infortúnio nasceu da disputa entre o religioso e uma importante família do lugar. Por isso, quando um dos primogênitos do clã faleceu, transformou-se em serpente. No túmulo, para que não escapasse e tirasse o sossego de todos, sempre precisavam amarrar correntes e passar cimento em cima, vigas de ferro. Havia perigo de que o caixão rompesse.
Essa é a versão do imaginário popular sobre o abandono de Cococi. O local pode ser denominado de várias formas – povoação deserta, cidade-fantasma, território extinto. Mas há mais.
São muitas histórias por trás do cenário em ruínas, resultado de processos que culminaram no apagamento do município cearense, localizado no Sertão dos Inhamuns, em 1979. Desde essa época, ele se tornou um distrito de Parambu, a cerca de 37 quilômetros do local, e luta para manter viva a memória....
Um dos comentários à boca pequena, por exemplo, é de que os espaços de festa na antiga cidade se chamavam "O Galo" e "A Galinha". Em um, apenas homens frequentavam; no outro, somente mulheres.
A curiosidade também se materializa em detalhes políticos. A última eleição do Cococi, em 1966, teve um diferencial: apenas 378 votos, um branco e sete nulos, para uma população com aproximadamente dois mil eleitores. Essa conta que não fecha é explicada com rigor técnico no trabalho, bem como a história de seu Luís Quililiu, falecido durante a produção do projeto, aos 85 anos. Figura importante, viveu várias fases do distrito. Foi vaqueiro, agricultor e confeccionou malas de couro para a elite da região. "Deixou um legado muito grande porque sempre morou nessa região. Na verdade, ele nasceu e se criou muito próximo do Cococi.
O lugar que ele morou mais longe da sede do Cococi foi em Juá, a uns 18 quilômetros. Tudo dele era muito ligado à aquela comunidade, então vivenciou muita coisa, momentos bons e ruins". Atualmente, a sede do distrito vive em estado de abandono. Conforme a jornalista, os problemas estruturais não são apenas fruto dos efeitos do tempo, mas principalmente do descaso público, que facilita o esquecimento do lugar. As duas famílias moradoras na vila precisam buscar água em outras localidades para saciar a sede, fazer comida e tomar banho. O motivo do deslocamento é a péssima qualidade da água do poço local.
Apesar das próprias particularidades, o povoado se assemelha a várias localidades rurais do interior cearense – indo desde a vegetação típica do semiárido brasileiro, o vai e vem de pessoas de comunidades vizinhas, o telefone rural até a popularização da tecnologia, a exemplo de wi-fi. Afinal, viver na vila do Cococi não significa estado de retrocesso.
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