SELVA DE PEDRA
imagem de abril 2022
Em 1986, assistia à nova versão da badalada novela Selva de Pedra. Confesso que desde pequeno aquele título me intrigava. O que não imaginava é que, 36 anos depois a explicação para a escolha do nome estaria bem ali, debaixo do meu nariz. Lamentavelmente, minha “selva de pedra” hoje é Juazeiro do Norte.
Nas últimas décadas, a cidade cresceu de forma tão avassaladora que, a cada dia, sepulta suas tradições e memórias. É fato que a modernidade traz profundas modificações, todavia, cidades inteligentes cuidam de sua identidade, daquilo que são porque um dia foram.
Não à toa, estamos cercados de outros municípios que também cresceram, mas mantiveram vivas suas raízes. Infelizmente, a terra ciceropolitana assiste, gradativamente, à demolição de prédios e casarões que, aos poucos, dão lugar a estacionamentos, clínicas e tantos outros equipamentos modernos.
É visível, há tempos, a falta de políticas públicas realmente preocupadas com os pontos históricos da cidade. O legado está se resumindo, cada vez mais, aos livros de estudiosos/historiadores, talvez os únicos preocupados em manter acesa a chama da memória.
No mais, casas antigas se esvaem e dão lugar a suntuosas obras apoteoticas . Árvores seculares (ou quase isso) sucumbem ante às derrubadas que se dão, muitas vezes, por motivos que sequer conhecemos. Daqui a pouco, em vez de iniciarmos uma história contando aos nossos filhos “Estão vendo aquele pequizeiro? Brinquei ali com os colegas de primário” passaremos a dizer “Estão vendo aquele shopping? Pois é, ali um dia teve um pequizeiro”.
Alucinada pela crista da onda capitalista, a terra daquele que dizia “Plante ao menos um pé de algaroba” está imersa no pó do asfalto quente e dos muros de concreto. A cidade que, etimologicamente, homenageia o nome de uma árvore, respira cimento e areia.
É triste vermos nossa identidade, locais (e muitos locais) que um dia foram significativos para nós simplesmente não mais existirem, porém, o mais lamentável é saber que o triste desfecho que alguns deles tiveram, poderia ter sido evitado, se tivéssemos políticas públicas de conservação ao patrimônio mais eficazes.
Se continuar assim, a história de uma cidade que era real, só poderá ser vista pelas gerações futuras em forma de novela, cujo título, não há outro mais apropriado: SELVA DE PEDRA!
fonte: texto facebook Romero Dodou
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