Na comemoração dos 150 Anos de Ordenação Sacerdotal do Padre Cícero, portaldejuazeiro.com Relembra uma crônica escrita pelo editor desse jornal, Daniel Walker, na década de 80 sobre a importante figura do Padre Cícero, fundador desta cidade, hoje chamada Capital da Fé.
SÍNTESE BIOGRÁFICA DO PADRE CÍCERO
Daniel Walker
Nasceu o Padre Cicero Romão Batista na cidade de Crato, Ceara, em 24 de março de 1844. Filho de Joaquim Romão Batista e Joaquina Vicência Romana, male conhecida como Dona Quinou.
Muito cedo, demonstrou inclinação para a vida sacerdotal. E muito cedo, também, perdeu o pai, vítima do cólera-morbo que dizimou parte da população do Ceará em 1862, e por isto, teve de deixar os estudos, ficando em casa para ajudar a mãe na administração do lar e dos negócios da família.
Mais tarde, as custas do seu padrinho de Crisma Coronel Antônio Luiz Alves Pequeno, reiniciou os estudos, ordenando-se em 30 de novembro de 1870, no Seminário de Fortaleza.
Em 1872, fixou residência em Juazeiro, à época humilde povoado, com pouquíssimas habitantes, a maioria casas de taipa. Rapidamente, conquistou a simpatia e admiração dos habitantes do lugarejo, graças a sua conduta de pastor piedoso, caridoso e simples. Em pouco tempo, tornou-se conhecido e respeitado, passando a exercer grande liderança na comunidade.
Foi ele quem introduziu o hábito de se usar no pescoço o rosário da Mãe de Deus, costumo hoje, amplamente disseminado, em todo o Nordeste. Fundou as Conferências Vicentinas e o Apostolado da Oração. Muito contribuiu para a educação de sua gente, dando, aulas particulares, custeando despesas de estudantes pobres e fomentando a criação das novas escolas. Foi também um dos pioneiros na campanha de construção do Seminário do Crato e na terrível seca de 1877, desempenhou papel de destaque, tendo intercedido junto aos poderes competentes, no sentido de serem as vítimas socorridas, recebendo toda a assistência.
No global, a atuação do Padre Cícero extrapolou os limites de sua missão sacerdotal. Exerceu larga influência no desenvolvimento da Agricultura e da indústria, em todo o Vale Caririense. Incrementou o cultivo da mandioca e da cana de açúcar. Forneceu dinheiro e deu orientação aos agricultores. Convocou e empregou mão-de-obra especializada nos diversos trabalhos do campo. Praticou, também, a medicina popular, prescrevendo remédios caseiros com excelentes resultados. E por fim, fez florescer um tipo de artesanato que é hoje conhecido e admirado, no Brasil e no exterior.
Mas algo de muito sério aconteceu para martirizar a vida do Padre Cicero. Em março de 1889, a beata Maria de Araújo, ao participar de uma comunhão geral, oficiada por ele, não pôde engolir a hóstia, pois esta se transformou numa substância vermelha... hematóide! Tal fenômeno repete-se dezenas de vezes, sendo conservado em segredo até 1891, quando monsenhor Francisco Monteiro, do púlpito, anuncia o fato como milagre. Nesse dia, quebra-se a tranquilidade da vida sacerdotal do Padre Cicero sobre quem desaba uma campanha de inveja, de intrigas e perseguições.
Foi isto que desencadeou a conturbada Questão Religiosa de Juazeiro tão polêmica no clero cearense. O desfecho não foi nada favorável ao Padre Cícero que sofreu severas punições: suspenso de ordem, obrigado a deixar Juazeiro, com exílio em Salgueiro, Pernambuco, além de sujeitar-se à retratação pública para negar a ocorrência do que considerava e acreditava ser um milagre.
Proibido, oficialmente, de celebrar atos religiosos, ele, porém, jamais afastou-se de fato da sua Igreja, à qual procurou servir até morte. Entretanto, para atender aos insistentes apelos de amigos, passou a colaborar na política, opção que lhe trouxe, também, grandes dissabores.
Trabalhou pela independência política de Juazeiro e foi eleito seu primeiro Prefeito. Ocupou, também, o cargo de Terceiro Vice-presidente do Ceará, mas não quis a vaga de Deputado Federal a que teve direto, em virtude da morte do seu grande amigo Dr. Floro Bartolomeu, em 1926.
Em 1913, eclodiu em Juazeiro rumoroso movimento revolucionário com o flagrante objetivo de depor o Presidente do Ceará Coronel Franco Rabelo, o que, efetivamente, ocorreu no ano seguinte com grande derramamento de sangue e o sacrifício de muitas vidas. A Revolução foi decidida e planejada pelos altos escalões da esfera federal (então insatisfeitos com a vitória do partido de oposição), tendo o mentor político de Juazeiro, Dr. Floro Bartolomeu da Costa, sido incumbido oficialmente de chefiá-lo. Todavia, há quem afirme, por maldade ou ignorância, ser o Padre Cicero o comandante da Sedição.
Com respeito a isto, disse ele no Testamento escrito em 1923: posso afirmar, sem nenhum peso de consciência, que não fiz revolução, nela tomei parte, nem para ela concorri.
Padre Cicero morreu no dia 20 de julho de 1934, com 90 anos de idade, em Juazeiro, acometido de renitente enfermidade renal e outras complicações orgânicas. Sua morte, como era de esperar, causou profunda consternação no seio da população juazeirense e nos seus milhares de devotos espalhados por todo o Nordeste.
Hoje, embora tenha morrido há mais de meio século, sua memória continua cada vez mais viva e a cidade de Juazeiro, que muitos disseram que iria se acabar com a morte do seu ídolo, prossegue em ritmo de franco desenvolvimento, confirmando uma profecia feita por ele mesmo, quando disse textualmente: depois da minha morte é que juazeiro irá crescer!
Sobre o Padre Cicero já foi escrito um grande número de livros (mais de uma centena), o que o torna uma das personalidades mais biografadas do Brasil. Mesmo sem ter sido canonizado pela Igreja, Padre Cicero foi aclamado santo pelo povo e como tal é venerado em muitas localidades brasileiras.
Daniel Walker é jornalista e professor universitário em Juazeiro do Norte. É autor de vários trabalhos sobre o Padre Cicero.
Podemos citar outros tantos acontecimentos , por exemplo , em março de 2001, em eleição promovida pelo Sistema Verdes Mares de Televisão, Padre Cícero foi escolhido O CEARENSE DO SÉCULO XX . Fica aqui nossa homenagem, através das pesquisas e escritos de Daniel Walker o "guardião da história de Juazeiro" (in memorian)
fonte: arquivo de Tereza Neuma e Daniel Walker
revisão : Zenaide Alves
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