quinta-feira, 12 de julho de 2018

O crescimento vertiginoso de Juazeiro do Norte
 Imagem aérea de Juazeiro do Norte. a foto já tem algum tempo, mas dá para perceber que a Terra do Padre Cícero já atinge o limite das cidades vizinhas

Recentemente um jornal de Fortaleza publicou longa matéria sobre o crescimento vertiginoso da cidade de Juazeiro do Norte. Hoje, Juazeiro do Norte tem 96% de sua pequena área territorial já urbanizada. Tem a terceira maior densidade demográfica do Ceará, ficando atrás, apenas, de Fortaleza e Maracanaú. Em 1950, Juazeiro do Norte tinha 56.146 habitantes. Vinte anos depois – em 1970 – sua população quase dobrou, atingindo a marca 96.047. Na sua curta existência, Juazeiro do Norte passou por mudanças imprevisíveis nos seus espaços físicos. O antigo Terminal Rodoviário foi construído, na década 70, onde hoje é o Hospital Tasso Jereissati. O primeiro aeroporto da cidade ficava onde é o atual prédio da Receita Federal. O primeiro cemitério ficava onde hoje está a Rua Dr. Floro,  agora um conjunto de casas no centro agitado da urbe. Se a velocidade do progresso de Juazeiro continuar assim, os urbanistas preveem que seu crescimento vai beneficiar – por gravidade – as duas cidades vizinhas: Crato e Barbalha. Faz sentido. Do pouco território juazeirense, ainda não urbanizado, restam pouquíssimas áreas onde podem ser construídas residenciais, indústrias ou outras edificações de grande porte.
Escritores caririenses
Se vivo fosse, Tomé Cabral (foto ao lado) teria festejado cento e onze anos de idade no último dia 7 de julho. O Cariri é um celeiro de escritores. Tomé Cabral foi um deles. Nascido no sítio Riachão, em Milagres, em 1907, aos 5 anos veio morar em Crato, onde realizou os primeiros estudos, casou e foi funcionário do Banco do Brasil. Tomé Cabral residiu esporadicamente em Assaré, Quincucá, Farias Brito, Quixelô e Jucás.  Veio a falecer em Crato, em 15 de junho de 1988.   Deixou escritas várias obras literárias. Até a década 70 do século passado viajar do Brasil para a Europa era uma epopeia. Utilizavam-se quase sempre navios, e os percursos duravam muitos dias. Hoje as pessoas embarcam no aeroporto de Juazeiro do Norte e em 45 minutos chegam à Fortaleza. Da capital cearense para aterrissar em Lisboa gasta-se apenas seis horas de voo. Em 1968, Tomé Cabral foi à Europa. No retorno, escreveu o livro “A Europa é bem ali”. A obra conta as impressões de Tomé Cabral sobre vários países europeus, berços da civilização ocidental.

A Europa é bem ali...em Santana do Cariri
Pois hoje, uma família de Santana do Cariri construiu paisagem europeia naquele município. Fica na vila de Araporanga, zona rural de Santana do Cariri – em plena na Chapada do Araripe – onde os irmãos Pereira Silva construíram suas residências fazendo réplicas de diversas arquiteturas típicas dos países europeus. Edificaram uma casa no estilo da arquitetura italiana, outra na arquitetura inglesa, outra na francesa, uma réplica grega, um castelo fortificado português, uma ponte suíça que passa sobre um pequeno lago. Existe um jardim inspirado num palácio russo; um moinho de vento holandês; um teatro ao ar livre, ao estilo grego... sem falar de um prédio inspirado nas construções do famoso arquiteto catalão Gaudi.

Fotografias da Vila Europa de Santana do Cariri


Como tudo surgiu
A família Pereira Silva era composta de 12 irmãos (o ex-deputado Iranildo Pereira é um deles). O caçula, Francimar (já falecido), residia na Europa. Lá obteve graduação em Urbanismo e trabalhava para a UNESCO. E sempre que Francimar vinha passar férias em Araporanga, estimulava a irmandade a construir a Euroville.  Após a morte dele um dos irmãos – Zé Pereira –, resolveu enfrentar a continuidade da obra, que hoje está concluída. E já virou uma atração turística em Santana do Cariri, ao lado do Museu de Paleontologia e da veneração à menina Benigna Cardoso. Esta, conhecida como “Mártir da Castidade”, tem sua causa de beatificação no Vaticano, por iniciativa do ex-Bispo de Crato, dom Fernando Panico. 

História: Pinto Madeira, esse desconhecido
O Cariri foi palco de vários movimentos armados, ao longo da sua história. No século XIX tivemos os movimentos pró-república em 1817 (um braço da Revolução Pernambucana daquele ano) e a Confederação do Equador, em 1824.  Em 1914 foi a vez da “Sedição do Juazeiro”, quando esta cidade sofreu tentativa de invasão de forças policiais para atingir o Padre Cícero.  Um dos movimentos armados pouco comentados foi a “Guerra do Pinto”, ocorrida em 1832. Ela foi liderada pelo monarquista Joaquim Pinto Madeira, o Capitão de Ordenanças e Coronel das Milícias de Crato.
Quem era Pinto Madeira
 No auge do seu prestígio, Pinto Madeira era chamado pelo povo de “Governador do Centro” do Ceará, devido à área da influência desse caudilho, num território que se estendia desde a cidade de Quixeramobim – no Sertão Central – até as terras do Cariri, numa distância de quase 400 Km.  Afeiçoado por índole às coisas da Monarquia e à Dinastia dos Bragança, Pinto Madeira lutou ativamente contra os que promoveram os movimentos republicanos da Revolução Pernambucana, em 1817 e da Confederação do Equador, em 1824. E passou à história quando o Imperador Dom Pedro I, em 1831, renunciou ao trono brasileiro.  Pinto Madeira não se conformou com a renúncia, pois acreditava que o gesto de Pedro I teria sido forçado pelos liberais. O que era um engano.
O fim do “Governador do Centro”
O Coronel das Milícias Pinto Madeira montou no cavalo, juntou as tropas e saiu invadindo as cidades do Sul do Ceará. Colecionou importantes vitórias. Mas sucumbiu as forças do então governo das Regências Provisórias. Pinto Madeira se entregou e perambulou durante dois anos pelas prisões de capitais nordestinas. Retornou preso ao Crato em 1834. Lá, num júri parcial – composto por antigos inimigos seus – Pinto Madeira foi condenado à forca, sentença posteriormente comutada para fuzilamento, em face de o réu ter alegado sua patente militar de Coronel.

Conforme o historiador Irineu Pinheiro (ver o opúsculo “Joaquim Pinto Madeira", impresso na Imprensa Oficial do Ceará, em 1946):

"Morreu virilmente Pinto Madeira. Conta a tradição, ouvida por mim desde menino, que momentos antes do fuzilamento, ofereceu-lhe um lenço, para que vedasse os olhos, um dos seus mais implacáveis inimigos. Recusou o condenado a oferta (...) quando a primeira saraivada de bala o abateu, Pinto Madeira ainda teve forças para gritar:
    – Valha-me o Santíssimo Sacramento.
 Durante anos a fio, fez-lhe promessas o rude povo do sertão, considerando-o um mártir, isto é um santo". (Até aqui citamos Irineu Pinheiro).

Nossa homenagem a uma grande caririense: Madre Neli Sobreira




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