Realizou-se na manhã de hoje, às 9 h, na Basílica de Nossa Senhora as Dores, missa em homenagem ao centenário de ordenação sacerdotal de Padre Azarias Sobreira Lobo. O evento que vai ter depois continuação com exposição fotográfica e outras atrações culturais, foi organizado pelo Dr. Geová Sobreira com a participação de Dr. Renato Casimiro. A missa foi celerada pelo Padre Cícero José e a igreja estava ricamente ornamentada e contando com a presença de alguns familiares e admiradores do homenageado, além de alguns romeiros. Prefeitura Municipal, Câmara Municipal, Clubes de Serviços e demais entidades classistas não se fizeram representar na solenidade, numa evidente prova de desconsideração ao ilustre filho de Juazeiro, grande defensor do Padre Cícero e primeiro padre juazeirense a ser ordenado pela Diocese do Crato em 1917. Também não compareceu nenhum padre afora o celebrante. Isto é coisa do Juazeiro de Hoje, que se desenvolve sem nenhum apego ao Juazeiro de Ontem, relegando a segundo plano fatos e personalidades que fizeram a história da cidade. No Juazeiro Atual parece que somente o Padre Cícero merece consideração. É lamentável que seja assim, pois a cidade é rica em valores históricos, verdadeiramente dignos da louvação da comunidade.
Encerrando a solenidade, Geová Sobreira proferiu o discurso abaixo transcrito:
"No dia 22 de abril de 1917, na Sé do Crato, em solene e concorridíssima celebração religiosa, contando com a presença maciça de todas as autoridades da Região do Cariri deu-se a primeira cerimônia eclesiástica de ordenação sacerdotal na recém-criada Diocese do Crato do jovem Azarias Sobreira Lobo, filho de Pedro Lobo de Menezes e de Carolina Augusta Sobreira Lobo. Os atos sacros foram presididos por Dom Quintino de Oliveira o primeiro bispo do Crato. Azarias Sobreira Lobo foi o primeiro afilhado do Padre Cícero Romão Batista e, também, o primeiro filho do Juazeiro a ser ordenado sacerdote. Azarias Sobreira era aluno do Seminário da Prainha concluindo seus estudos de Teologia e já tinha, então, recebido as ordens menores, quando, em 1916, retornando da Bahia depois de sagrado bispo, Dom Quintino de Oliveira solicitou a Dom Manuel, arcebispo do Ceará, a cessão do jovem diácono Azarias Sobreira para, como secretário, auxiliá-lo na organização da nova diocese. Havia, também, uma relação velha de amizade entre o jovem diácono e novo bispo do Crato, pois foi dom Quintino, quando vigário da paróquia do Crato, quem fez gestão junto aos seus superiores para o ingresso de Azarias Sobreira no seminário.A intensa agenda de trabalho para o jovem diácono era imensa porque como secretário do bispado tinha que organizar o funcionamento da nova diocese constituída de mais de uma dezena de paróquias espalhadas pela região do sul do Ceará e sem qualquer vínculo de obediência com o novo bispo. As paróquias funcionavam ainda nos primeiros anos da República quase entidades autárquicas, como herança do sistema do padroado desde os tempos de Colônia do Império Português. Estava sendo lento o processo de implantação da Romanização da Igreja no Brasil, de modo especial no Nordeste. Além de construir a unidade diocesana foi-lhe atribuída a missão de reabrir o Seminário São José e assumir a cadeira de diversas matérias. A enorme carga de trabalho debilitou a já frágil saúde do diácono Azarias Sobreira. Mesmo assim, na ânsia de servir a Deus aceitou, pela estima pessoal que devotava a dom Quintino, o cargo de Reitor do Seminário São José. Apesar de todos os incômodos da viagem a cavalo, Crato/Juazeiro, pois, desde menino nunca foi bom cavaleiro, o Padre Azarias ia visitar sua mãe e a sua irmã Micol no sítio Timbaúba e na vinda ou volta ia tomar a bênção do seu padrinho de já frágil saúde do diácono Azarias Sobreira. Mesmo assim, na ânsia de servir a Deus aceitou, pela estima pessoal que devotava a dom Quintino, o cargo de Reitor do Seminário São José. Apesar de todos os incômodos da viagem a cavalo, Crato/Juazeiro, pois, desde menino nunca foi bom cavaleiro, o Padre Azarias ia visitar sua mãe e a sua irmã Micol no sítio Timbaúba e na vinda ou volta ia tomar a bênção do seu padrinho de batismo - o Padre Cícero -, pedir-lhe conselhos e ouvir suas orientações para o desempenho de missão sacerdotal, que as escutava com compungida devoção. Numa dessas visitas ao seu padrinho de batismo a conversa fluía mansamente, quando o Patriarca do Juazeiro pegou as duas mãos do seu afilhado e, em tomo sereno e firme, disse-lhe: - Meu filho, eu tenho um pedido a lhe fazer e o faço do fundo do coração, quero que me ouça em confissão e que seja a partir de agora o meu confessor. - Dito isso, o Patriarca se ajoelhou aos pés do jovem sacerdote e seu afilhado Padre Azarias Sobreira. É impossível até mesmo imaginar os turbilhões de emoções que invadiram o coração e alma do jovem sacerdote diante daquela cena e muitos e muitos anos depois o Padre Azarias ainda era tomado de fortes emoções e ficava com os olhos marejados de lágrimas quando relembrava o Padre Cícero levantando-se da cadeira calmo e serenos indo ajoelhar-se a seus pés para ser ouvido em confissão. A partir daquele momento, o Padre Azarias dedicou-se a refletir e analisar a densa, agitada, tumultuada e gloriosa história do Juazeiro e a atribulada trajetória de vida de seu padrinho de batismo. Por dez anos permaneceu na Diocese servindo com desvelo a Dom Quintino, nos momentos tensos da questão religiosa do Juazeiro. Depois foi exercer o cargo de Vigário na cidade de Milagres reunindo seus familiares mais próximos, quando sofreu intensamente o drama de sua irmã Micol, que se viu viúva uns 10 dias depois do casamento, sendo o seu marido brutalmente assassinado. Viu em Milagres o drama da seca de 1932 com centenas e centenas de retirantes acampados nas praças públicas de Milagre e crianças pequenas mendigando de casa em casa para não morrer de fome e o pobre vigário sem poder fazer a não ser o seu próprio pão. Aflito com a situação de calamidade reinante, o Padre Azarias foi a Fortaleza implorar ao interventor estadual recursos e meios para ao menos minorar o sofrimento dos flagelados. Depois da seca de 1932, foi para a cidade de Aracati onde dava aulas em escolas particulares e refletia sobre os acontecimentos do Juazeiro. Foi somente, no início da década de 1960, que o arcebispo do Ceará, Dom Delgado, convida o Padre Azarias para ser professor do Seminário da Prainha e concluir seus estudos sobre a questão religiosa do Juazeiro. Foi Dom Delgado quem conferiu ao Padre Azarias o seu mais glorioso título nobiliárquico: O Padre Azarias Sobreira é o padrinho do movimento pela "reabilitação" do Padre Cícero. Hoje, Azarias é o Padrinho do seu Padrinho de batismo."
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