Recebi, como oferta do autor, um exemplar do livro Cícero Romão Batista “Meu Padim” Quando a Igreja vai (re)ordená-lo padre?, de autoria de meu colega de infância, José Pereira Gondim. Na volumosa obra de 546 páginas, o autor que é fundador e presidente da Associação dos Amigos e Devotos do Padre Cícero, expressa sua mais profunda admiração ao Padre Cícero e reitera de forma veemente a reabilitação do Padre Cícero.
Isso mesmo, a reabilitação do Padre Cícero na mais legítima expressão do termo, pois isso que recentemente a Diocese do Crato anunciou, ou seja, uma possível reconciliação acenada pelo Vaticano, não é do agrado do escritor. Ele só ficará feliz mesmo quando a Igreja pedir perdão publicamente ao Padre Cícero, disser que errou na aplicação das penas impostas e por fim, reconhecer qualidades para o fundador de Juazeiro ser um dia elevado aos altares das igrejas.
Como um dos argumentos, diz o autor: “Se a Igreja exagerou na perseguição e nos seus castigos, se maltratou um justo e agora não quer dar a "mão a palmatória", como se diz no vulgo, isso é um problema estritamente da Entidade, que forçosamente terá de encontrar uma saída para esse imbróglio. Não é justo penalizar-se o Padre Cícero, por conta de histerismos, alienação, fanatismos e excesso de zelo pela doutrina, deixando de lembrar, que o clima de festa observado na comunicação da tal "reconciliação" foi maior do que realmente isso significava, uma vez que o certo e honesto seria a devolução de suas Ordens Sacerdotais, que lhe foram tomadas há longos 123 anos. O resto e fora disso é chover no molhado ou artifícios de se ganhar tempo e aparentar-se que algo grandioso foi feito, quando a realidade que sobrou não justifica tamanha euforia”.
E José Gondim vai mais além, sedimentando suas argumentações com essas colocações que ele acretida serem pertinentes e inequívocas: “Milhares de pessoas em várias profissões que perderam seus títulos por perseguições durante a vida foram reabilitadas depois de mortas, e, por que, apenas o Padre Cícero não tem esse direito? Por ocasião das ferozes intrigas perpetradas pela política nazista nas entranhas do Terceiro Reich, o Marechal de Campo von Blomberg, Ministro da Guerra e Comandante Supremo das Forças Armadas Alemãs na época, e o Coronel General Barão Freiherr Werner von Fritsch,. Comandante em Chefe do Exército, foram tolhidos por um vendaval de acusações infundadas, perderam suas patentes e mergulharam na desgraça. Mesmo depois de mortos foram reabilitados e tiveram seus postos devolvidos. Obviamente não mais vestiram a farda da Wehrmacht que honraram em vida, pois isso lhes era impossível, todavia, suas famílias tiveram a paz devolvida e voltaram a andar de cabeça erguida”.
Essa é a linha nuclear de raciocínio e de conduta do autor da obra recentemente lançada em Juazeiro, na Câmara Municipal. E ele no seu livro a expressa com muita determinação, veemência, talvez até raiva, sem se importar se a Igreja vai ou não aceitar suas argumentações. O homem está resoluto: para cada tiro de palavra que a Igreja disparar contra o Padre Cícero ele está pronto para revidar com uma rajada de balas de palavras tal qual uma metralhadora, e só irá calar, quando enfim a reabilitação do Padre Cícero sair conforme o figurino que ele idealizou.
Qualquer pessoa tem o direito de não concordar com o que José Gondim reivindica e nem aceitar a forma (passeatas, entrevistas, publicação de livro) como ele o faz, porém uma coisa é certa: o homem é corajoso, audacioso, e seu estilo de escrever é ácido, despojado e tem endereço definido. E não é um joão- ninguém, pois tem formação universitária, é escritor com vários livros publicados, culto, juazeirense e filho de um romeiro amigo do Padre Cícero.
Então, uma briga de potencial atômico foi comprada em defesa do Padre Cícero. Se José Gondim vai vencer, dobrando a Igreja com seus argumentos, ninguém sabe, só o tempo dirá. Mas que vai ser uma empreitada difícil de se concretizar, disso eu não tenho a menor dúvida, porquanto o Vaticano, na carta festiva tida como sendo de reconciliação, fez questão de afirmar que as medidas contra o Padre Cícero, aplicadas pelo bispo da época e referendadas pelo Santo Ofício, foram corretas e mais, não pensa em reabilitá-lo, porque o padre está morto. E pronto: Roma locuta est; causa finita est!
Será?
Para quem não sabe, esclareço que não faço parte da Associação que tem José Gondim como presidente, não participo dos movimentos encetados pela entidade, não estou aqui para condenar seu ponto de vista sobre o assunto, principalmente porque já expressei minha opinião publicamente, mas jamais deixaria de reconhecer o seu trabalho em prol do Padre Cícero desenvolvido com tanta pertinácia, tal qual o meu, embora por caminho e estilo diferentes.
2 comentários:
Mestre Professor Daniel, o José Gondim nosso conterrâneo e contemporâneo de bairro é um homem valente e corajoso, o admiro pela força e pelo grande conhecimento que possui, temos que valorizar a sua origem e os 64 anos de idade no coração da meca do cariri. Tanto você como o Zé sabe muito sobre a região, o Juazeiro e o Padre Cícero.
Parabéns e irei adquirir logo este precioso livro. Em tempo parabenizo a sua pessoa pelo belo programa e entrevista com o Dr Francisco, uma entrevista que deveria ser obrigatório que todos os juazeirenses tivessem acesso.
Ao meu amigo, José Gondim, amigo e irmão o meu mais efusivo abraço, o seu livro é leitura obrigatória para quem quer conhecer todos os lados desta empolgante história e importante personagem brasileira, que como disse ,hoje são mais de 500 obras falando do Padre Cícero. Abraços Iderval, um romeiro que mora em Salvador fazendo companhia ao embaixador de Juazeiro que mora na cidade do Cacau,Ilhéus, o Emaixador José Leite
Sei que a apresentação dos fatos abaixo não vão mudar as IDEIAS FIXAS da mente do Sr. José Gondim. Para mim fica uma dúvida: ele está agindo por desconhecimento dos fatos ou para disputar espaço na mídia ?
Abaixo, uma parte do texto da correspondência recebida pela diocese, escrita pelo Cardeal Gerard Ludwig Müller, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Texto de uma claridade solar – insofismável e transparente – sobre o pedido feito pela Diocese de Crato para que a Santa Igreja Católica Apostólica Romana aprovasse a “reabilitação” das ordens sacras do Revmo. Padre Cícero Romão Batista. O que se publicar a partir da decisão daquela Congregação, seja fora deste contexto, seja para criar falsas ilações, seja por motivos escusos, não tem para mim a mínima credibilidade.
A carta do Vaticano tem data de com data de 27 de outubro de 2014. A conferir:.
“Seguem as conclusões (do pedido de reabilitação do Padre Cícero), decididas na Sessão Ordinária da Congregação, realizada em 2 de julho de 2014, que decretou o que segue:
TODOS: (os membros da Congregação que analisaram o pedido da Diocese de Crato) consideraram justas e justificadas as medidas disciplinares que a seu tempo foram exaradas pela Santa Sé no processo de Pe. Cícero, e que foram mantidas até sua morte, e por isso não se pode atender ao pedido de reabilitação do sacerdote.
TODOS: (os membros da Congregação que analisaram o pedido da Diocese de Crato) CONSIDERAM OPORTUNA, ENTRETANTO, A FORMA DE “RECONCILIAÇÃO HISTÓRICA”, QUE LEVE EM CONTA TODOS OS ASPECTOS DA VIDA HUMANA E SACERDOTAL DO PE. CÍCERO, E TRAGA À LUZ O LADO POSITIVO DA SUA FIGURA. O SANTO PADRE FRANCISCO, DURANTE A AUDIÊNCIA DE 5 DE SETEMBRO DE 2014 APROVOU A DECISÃO ACIMA E PEDIU QUE SEJA PREPARADA UMA MENSAGEM POR UM ORGANISMO DA SANTA SÉ, ENDEREÇADO AOS FIÉIS DESSA DIOCESE, QUE AGORA ESTÁ CELEBRANDO O PRIMEIRO CENTENÁRIO DE SUA ELEVAÇÃO. (grifo nosso) Com essa iniciativa se poderá operar a desejada “reconciliação histórica”, possibilitando uma serena apresentação geral da figura histórica, sacerdotal e apostólica do Pe. Cícero, no contexto da devoção mariana e eucarística dos peregrinos de Juazeiro do Norte.
Tendo em vista a preparação de tal Mensagem, peço-lhe gentilmente para fornecer aqueles elementos que, a seu critério, fazem hoje do Pe. Cícero uma figura a ser valorizada do ponto de vista pastoral e religioso.
a) Cardeal Gerard Ludwig Müller
Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé”.”
Existe algo mais claro do que isso?
Armando Lopes Rafael
Crato - Ceará
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