Segundo o escritor Humberto de Campos: “Cada um, ao nascer, traz no coração, ou nas mãos, a história do seu destino”.
Qual seria o destino desses dois homenageados?
Como tudo tem um início, vou começar dizendo como eles nasceram, mas para isso vou usar a descrição feita pela irmã deles, a Professora Alacoque Bezerra, como está no livro que ela escreveu sobre o pai. Diz ela:
“Estava na casinha das Eufrasinas (nossas moradoras) ansiosa e chorando por ouvir os gemidos da minha mãe, que aguardava a chegada do quinto filho. Chega meu pai da procissão, durante a qual pediu muito a Deus felicidades para o filho que ia chegar. Vieram dois. Quanta surpresa e alegria duplicada. Quanto amor e enlevo ao redor de uma redinha branca, onde dormiam a menina dos olhos do meu pai: seus gêmeos, dois filhos homens. Parece que tudo parou e ressurgiu uma nova aurora de tons alvissareiros que se iam acentuando, à proporção que os dias passavam. Para presentear meus pais, Deus os mandou para suprir a carência dos dois primeiros que levara. Como acomodar dois, com roupinhas, cueiros, sapatinhos de lã, que só foram preparados para um? Uma correria grande. Minha tia Lindalva encarregou-se de prover tudo. Como distingui-los? E os nomes? José Adauto e Francisco Humberto. A identificação fora simples: uma touquinha branca para Adauto e uma touquinha preta para Humberto, isso até que os traços fisionômicos permitissem uma identificação mais concreta. Depois, na pequena casa onde nasceram, no Salgadinho, Adauto, já Governador, mandou colocar uma placa simbólica informando que ali eles nasceram”.
Agora, relato a procedência. Eles são descendentes do Brigadeiro Leandro Bezerra Monteiro, logo pertencem ao tronco familiar que iniciou a história do lugar, que mais tarde Padre Cícero colocou no mapa do Brasil e tem o nome de Juazeiro do Norte.
A entrada dos dois irmãos aniversariantes na história de Juazeiro tem início quando ambos ingressaram na vida política, mas sem disputar cargo, e sim, ajudando na campanha para eleição do candidato a Prefeito de Juazeiro, o parente e amigo José Geraldo da Cruz, em 1954.
Como não eram ainda muito conhecidos no ramo, usaram a estratégia de pedir votos em nome do pai, José Bezerra de Menezes, conceituado político e homem de negócios já bastante conhecido aqui, o qual, por uma infeliz coincidência, tinha morrido naquele mesmo ano, antes de a campanha decolar.
O pai prometera eleger José Geraldo, e certamente o faria se estivesse vivo; por isso coube aos dois filhos gêmeos neófitos em política o cumprimento da promessa. Afastaram-se temporariamente do Quartel, engajaram-se na campanha e o candidato venceu.
Com essa estreia coroada de êxito, os dois - mais Adauto do que Humberto - descobriram que tinham o gen da política no sangue. E assim, à carreira militar que seguia brilhante, agregaram a carreira política.
E este ingresso gerou um fato da maior importância para a história política do Município: o fim do embate entre duas lideranças pela disputa da hegemonia e da consolidação do poder, conduzindo às urnas duas grandes legiões de adeptos conhecidas popularmente por gogós e carrapatos.
O passo seguinte foi mais longo, mais ousado, também vitorioso, e começou com Adauto. Atendendo aos apelos dos amigos do pai, candidatou-se a Deputado Estadual, e uma vez eleito, transformou-se no primeiro filho de Juazeiro a ocupar tal cargo.
Ao se eleger Deputado Estadual, o coronel Adauto escreve mais uma página na história de sua terra.
No dia 15 de março de 1975 ele assume o cargo político mais alto do Estado, o de Governador, e aí escreve outra página na história de sua cidade, pois foi o primeiro e único juazeirense até hoje a ser eleito para este alto cargo.
Como governador ele fez muito pelo Juazeiro. Construiu dezenas de obras ainda hoje existentes. Na história da educação juazeirense, por exemplo, seu nome figura como construtor de muitas escolas, entre as quais a que tem o seu nome, a que tem o nome de sua mãe e a que tem o nome do Presidente Ernesto Geisel, porém sempre conhecida como Polivalente.
Mas na história da educação juazeirense o nome do Coronel Adauto Bezerra tem um realce maior ainda, pois foi ele quem trouxe, em 1976, a Faculdade de Engenharia Operacional, primeira faculdade de Juazeiro, antes pertencente à Universidade Estadual do Ceará e agora com o nome de Curso de Engenharia de Produção, pertencente à Universidade Regional do Cariri.
Quando estava em pleno mandato de governador uma tragédia tomou conta da cidade: o tradicional Mercado Central, nosso shopping popular, foi consumido pelas chamas de um incêndio avassalador. O trágico acontecimento causou desalento geral nos feirantes e uma grande baixa na economia do município.
Aí o Coronel Adauto vem em socorro dos aflitos e escreve mais uma página na história juazeirense, construindo a partir das cinzas e em tempo recorde o novo Mercado que continua até hoje.
Na história de Juazeiro ele ainda figura como Deputado Federal, como superintendente da SUDENE, banqueiro bem sucedido e um dos fundadores da Rádio Progresso AM e da Rádio Transcariri FM, esta a primeira estação de FM de Juazeiro.
Coronel Adauto Bezerra certamente continuará fazendo história.
A participação do Coronel Humberto na história de sua terra natal não é menos importante em relação à do seu irmão gêmeo. Como Prefeito de Juazeiro, empossado em 1963, ele iniciou uma nova fase na administração pública juazeirense.
E a partir daí eu já sou testemunha presencial da sua história, pois estava iniciando minha vida de jornalista e documentei muita coisa nas páginas do jornal O Povo de Fortaleza, do qual era seu Correspondente aqui, e no Grande Jornal Sonoro Iracema, da Rádio Iracema, do qual era o Redator do noticiário local.
Eis o que ele disse ao ser empossado no cargo: “O que desejo, na minha administração que hoje se inicia, é serenidade no trabalho, austeridade de ação e honestidade na arrecadação e na aplicação dos dinheiros públicos”.
Trabalho. Honestidade. Moralidade. Autoridade. Estas palavras tão ouvidas no Quartel foram incorporadas à sua administração com sucesso absoluto.
O então Capitão Humberto Bezerra foi o primeiro candidato a Prefeito de Juazeiro a ter um Plano de Governo. Mas inovou também noutro aspecto. Hoje se fala muito em administrar com transparência, mas na verdade isso não tem nada de novo.
O Capitão Humberto Bezerra, quando Prefeito de Juazeiro, já fazia isso. Eu me lembro muito bem, pois estava lá quando ele, religiosamente, todo mês, comparecia ao estúdio da Rádio Iracema para prestar contas de sua administração, fazendo um balanço das atividades realizadas e da aplicação dos recursos arrecadados. Era tudo transparente e a cidade inteira parava para ouvi-lo.
Numa época em que as verbas recebidas pelo Município eram insignificantes, comparadas com as de hoje, ele fazia verdadeiros milagres, como bem demonstravam as obras realizadas, resultado de uma administração honesta, revolucionária, inovadora e realizadora.
Aumentou a arrecadação municipal, como nunca fora visto antes; fez todo mundo pagar imposto predial. Não dispensou de ninguém, de ninguém mesmo, nem dos familiares. No começo, muitos amigos seus reclamaram, mas pagaram. Depois ficaram satisfeitos porque viam o imposto pago convertido em obras para a comunidade.
A história de Juazeiro não pode deixar de registrar seu pioneirismo na expansão dos limites urbanos, pavimentando ruas até então intransitáveis e fazendo com isso desaparecer da lembrança do povo juazeirense uma palavra feia, porém muito usada na época que era o “arisco”. Em Juazeiro, naquele tempo, morar no arisco era uma humilhação.
Logo após a chegada da energia de Paulo Afonso, o Capitão Humberto que já havia calçado o arisco agora também o iluminava, e assim cobria de dignidade a população ali residente.
Com ajuda do Governador Virgílio Távora construiu o magnífico prédio da Prefeitura Municipal, ainda hoje mantendo sua arquitetura inicial. Na época de sua inauguração, com aquela fonte luminosa multicolorida, foi um delírio para quem assistiu. Era o orgulho da cidade.
O Prefeito Humberto Bezerra construiu escolas, abriu estradas vicinais interligando os sítios à sede do município e levou eletrificação ao distrito Padre Cícero, o qual foi pioneiro no recebimento deste benefício em todo Estado do Ceará.
Em sua administração foi inaugurada a Quadra João Cornélio, um aprazível local onde as crianças brincavam no Parque Infantil, os jovens praticavam esportes, e também onde eram realizados shows de artistas renomados e os estudantes participavam de atividades literárias, graças às conhecidas “Promoções HB” idealizadas pelo jovem, meu amigo José Carlos Pimentel, em nome da biblioteca Dr. Possidônio Bem, instalada na mesma Quadra. Juazeiro do Norte experimentava realmente bons momentos.
Depois ele seguiria na carreira política elegendo-se Deputado Federal. Foi também Vice-governador e Secretário de Estado, mas terminou perdendo interesse pela política e passou a exercer somente sua atividade de banqueiro.
Mas o encerramento da carreira política do Coronel Humberto não estancou sua presença na história de Juazeiro. Em 1995, por ocasião do Centenário de Nascimento do seu pai, ele entregou uma das maiores obras assistenciais já realizadas nesta cidade: a Casa do Idoso.
Não é uma obra de político, mas uma obra de iniciativa pessoal dele. Lá ninguém vive desprezado, nem sabe o que é solidão. Quem mora na Casa do Idoso reencontra a dignidade perdida ou adquire a dignidade que nunca teve, porque lá existe um ambiente de aconchego familiar, de acomodações dignas, higiene incomparável, alimentação farta e boa, tudo isso graças ao trabalho da eficiente equipe coordenada por Irmão Bernardo sob o olhar sempre atento do patrão que mora em Fortaleza, porém a visita várias vezes por ano. A Casa do Idoso é uma obra que orgulha a nossa cidade e deixa o Coronel Humberto muito feliz.
Estes são apenas alguns lances para mostrar o quanto estes dois ilustres aniversariantes e detentores da Medalha Padre Cícero são protagonistas da história de Juazeiro.