terça-feira, 1 de março de 2016

Irmã Annette fala sobre carta de reconciliação do Padre Cícero e contesta pesquisadores

A divulgação de uma notícia na imprensa segundo a qual três pesquisadores (Dr. Lauro Barreto, Pe. Neri Feitosa e o professor José Sávio Sampaio) contestam o conteúdo da carta sobre a reconciliação do Padre Cícero, divulgada no ano passado pela Diocese do Crato, está causando grande repercussão na imprensa e nas redes sociais. Abaixo transcrevemos um artigo na historiadora Anne Dumoulin, profunda conhecedora da história do Padre Cícero, o qual representa sua opinião abalizada sobre a polêmica em questão, contestando as argumentações dos pesquisadores.

“A reconciliação da Igreja com Padre Cícero é claramente um reconhecimento que a opinião que a Igreja tinha sobre este sacerdote estava errada e a carta apresenta diversas virtudes do Padre até mesmo apresentando-o como um modelo para a nova evangelização, para uma Igreja em saída! Claro que como todo ser humano, Padre Cícero não foi privado de erros e falhas durante sua longa existência de 90 anos! O Cardeal não desvaloriza as pesquisas e a análise dos pontos de controversos! Ainda tem trabalhos, prezados pesquisadores que somos! Mas a carta é pastoral vai ao centro da questão que são os frutos bons da missão sacerdotal do Padre Cícero! Basta citar aqui as frases seguintes: " Sem dúvida alguma, Padre Cícero foi movido por um intenso amor pelos pobres e por uma inquebrantável confiança em Deus... Ele procurou agir segundo os ditames de sua consciência, em momentos e circunstâncias bastantes difíceis.... É necessário, neste contexto, dirigir nossa atenção ao Senhor e agradecê-lo por todo o bem que ele suscitou por meio do Padre Cícero." 

Por favor... Um pouco mais de leitura teológica, esta vez, para reconhecer que a Igreja fez mais do que reabilitar (aliás, como reabilitar um falecido, reabilitar a celebrar a missa de novo? ) o Padre Cícero: ela, oficialmente, reavaliou e apreciou várias dimensões de sua vida como sacerdote... E não são poucas virtudes! Então, a Igreja não perdoou... Porque não tinha nada a perdoar... Tinha que corrigir uma visão errada e negativa que tinha do Padre Cícero, no passado! Ela não reabilitou Padre Cícero, pois as medidas disciplinarias são medidas que valem apenas neste mundo e não no Outro! A reconciliação com Padre Cícero é muito mais bonita, linda! Não se trata de beatificação, de canonização! O Papa fez um ato de JUSTIÇA, não somente em relação ao Padre Cícero mas também em relação aos seus romeiros tratados injustamente de fanáticos, ignorantes! Aliás, é a partir deles que o Papa está relendo a missão sacerdotal do Padrinho... A gente reconhece a árvore pelos seus frutos!”

Para entender a polêmica leia abaixo a notícia que a provocou.

Diocese de Crato, no Ceará, diz que cartas são provas do perdão a Padim Ciço, excomungado após "milagre da hóstia"

Uma polêmica e tanto agita os bastidores da Igreja Católica. Especialistas em processos canônicos contestam o alarde que a Diocese de Crato, no Ceará, a dez quilômetros de Juazeiro do Norte, vem fazendo em torno de duas cartas do Vaticano. Na visão da Cúria local, as correspondências garantem que Roma concedeu a tão sonhada reconciliação da Igreja com o Padre Cícero Romão Batista, um dos candidatos a santos mais populares do Brasil.

Padre Cícero foi excomungado pelo bispo do Ceará, Dom Joaquim Vieira, acusado de manipulação da fé. Ele não conseguiu fazer com que a Igreja reconhecesse o "milagre da hóstia” — as comunhões dadas por ele à beata Maria de Araújo teriam se transformado em sangue.

Como castigo, foi proibido de pregar, ouvir confissões e celebrar missas. Morreu em 1934, aos 90 anos, sem ter esses direitos restabelecidos como sacerdote. Após sua morte, o número de fiéis em romarias à cidade que ele fundou, Juazeiro do Norte, cresceu e transformou as peregrinações num dos maiores encontros de fé do País.

Para críticos, porém, ambas não endossam que o Papa Francisco tenha concedido de fato o perdão, transformando o episódio “numa possível farsa”, que seria alimentada pelo bispo de Crato, Dom Fernando Panico.

Em carta de sete páginas, de 20 de outubro de 2015, assinada pelo secretário de Estado do Vaticano, Pietro Parolin, e endereçada a Panico, a diocese interpreta trechos como sinônimo de reconciliação. Principalmente o que diz: “Mas é sempre possível, com a distância do tempo, reavaliar e apreciar as várias dimensões que marcaram a ação do Padre Cícero como sacerdote”.

Ao divulgar tal carta (íntegra em www.diocesedecrato.org), em dezembro, com festa para 50 mil devotos, o bispo fez o milagre de triplicar as romarias no Sertão do Cariri e a arrecadação para os cofres da Mitra Diocesana.

“Em momento algum o Vaticano fala em reabilitar, reconciliar ou perdoar o Padim Ciço. Apenas realça as qualidades de Cícero, nada mais. É embromação”, diz o advogado Lauro Barretto, devoto fervoroso do Patriarca do Nordeste. Como estudioso de processos canônicos, Barreto escreveu um livro que será lançado em abril.

Questionado pelo DIA, Armando Lopes Rafael, chanceler do bispado do Crato e porta-voz de Dom Panico, entregou à reportagem outra carta inédita, em italiano. Datada de 5 de setembro de 2014 e assinada pelo prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, cardeal Gerhard Müller, “comunicando”, segundo ele, a conciliação.

“O Papa raramente assina cartas, delegando essa tarefa ao secretário de Estado. Existe uma minoria que não gostou da reconciliação da Igreja com o Padre”, lamentou Armando. “Essa carta de 2014 não garante a reconciliação. A Diocese de Crato interpretou errado as duas cartas”, diz Lauro.

Jornal do Vaticano não deu a notícia
Em 2006, dom Fernando Panico formou uma comissão e deu entrada na Congregação para Doutrina da Fé, no Vaticano, no processo de reabilitação. A polêmica em torno da interpretação das cartas começa quando, com base nos estudos realizados pela Equipe de Direito Canônico do Vaticano, o Papa Francisco ventilou que a Igreja deveria conceder a reconciliação de Padim Ciço com a Igreja.

“Fico feliz por receber essa grande graça”, diz dom Panico num texto postado no site da Diocese. Reconciliação significa que a Igreja apaga qualquer oposição às ações de Padre Cícero.

Nenhuma agência de notícias oficial do Vaticano, entre elas a Gaudium Press, tocou na possível reconciliação. Para o historiador e professor José Sávio Sampaio e o padre Nerí Feitosa, maior biógrafo de Padre Cícero não há provas de que a Igreja fez as pazes com Padim Ciço. “Não há documento assinado pelo Papa Francisco, que diz claramente que a Igreja se reconciliou com Padre Cícero”, diz Sávio. “Sugerir uma reconciliação não significa que ela tenha se dado de fato”, diz Nerí
Severino Silva / Agência O Dia

Um comentário:

Unknown disse...

BREVE COMENTÁRIO:
SOBRE A “CARTA DE RECONCILIAÇÃO DA IGREJA CATÓLICA COM O PADRE CÍCERO” que foi divulgada pela DIOCESE DE CRATO.

PAULO MACHADO
(AUTOR DE “PADRE CÍCERO ENTRE OS RUMORES A A VERDADE”



Inicialmente cumpre destacar que a referida CARTA, datada de 20/10/2015, NÃO FOI ASSINADA PELO PAPA FRANCISCO, e sim pelo Secretário de Estado da Santa Sé Cardeal Pietro Parolin.
Essa Carta, deixa bem claro que “não é intenção ... pronunciar-se sobre questões históricas, canônicas ou éticas do passado” afetas ao PADRE CÍCERO ROMÃO BATISTA.
Aliás, o próprio Cardeal Parolin adverte o Bispo do Crato, para que ele tivesse o zelo e o cuidado, na “AUTÊNTICA INTERPRETAÇÃO DA MESMA” ao divulgá-la.
Mas estão dando uma maior dimensão a Carta do Cardeal Parolin.
O Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro-RJ Cardeal Orani João Tempesta, chama a atenção para o fato de a referida Carta “aponta o lado benemérito” da figura do Padre Cícero, visto apenas do ponto de vista eminentemente pastoral e religioso. É este fato, segundo o Cardeal Tempesta, “que a imprensa chamou de REABILITAÇÃO DO PADRE CÍCERO” ou RECONCILIAÇÃO como apregoa a DIOCECE DE CRATO.
O Padre Cícero, na visão da Igreja Católica continua sendo, segundo a CARTA do Cardeal PAROLIN , “UM VASO DE ARGILA”, uma figura “NÃO PRIVADA DE FRAQUEZA E DE ERROS”, uma pessoa que “NEM SEMPRE SOUBE ENCONTRAR AS JUSTAS DECISÕES A TOMAR OU ADEQUAR-SE ÀS DIRETRIZES QUE LHE FORAM DIRIGIDAS PELA LEGÍTIMA AUTORIDADE”, “LINHA TORTA”, “INSTRUMENTO IMPERFEITO” e, ainda, que outros aspectos do Padre Cícero “PODEM SUSCITAR PERPLEXIDADE.” Mas o Cardeal Parolin não deixa de exaltar que às vezes, “DEUS ESCREVE CERTO POR LINHAS TORTAS” E SE SERVE DE “INSTRUMENTOS IMPERFEITOS” PARA REALIZAR A SUA OBRA” (CF.LC 17:10)”
É nesse aspecto, segundo Parolin, que a Igreja Católica e, mais precisamente, a DIOCESE DE CRATO se serve ou tem incorporado esse movimento popular e da imagem do Padre Cícero para ir “ao encontro das periferias existenciais”, “para a solidificação da fé católica no ânimo do povo nordestino” . Para alguns, essa postura da Diocese mais parece um enredo a justificar a contínua manipulação da fé superficial e ingênua das massas.
Segundo Parolin, o Padre Cícero continua sendo “ objeto de estudos e análise, como atesta a multiplicidade de publicações a respeito, com interpretações as mais variadas e diversificadas”.
O Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé Gerad Müller RATIFICOU, através do “Decreto” datado de 27/10/2014, as PUNIÇÕES ANTERIORES ao PADRE CÍCERO ao lembrar o seguinte:
“São consideradas justas e justificadas as medidas disciplinares que a seu tempo foram exaradas pela Santa Sé no PROCESSO de Padre Cícero, e que foram mantidas até sua morte, e por isso não se pode atender ao pedido de reabilitação do sacerdote”
Logo, a REABILITAÇÃO está claro, NÃO FOI ATENDIDA.
E quanto a RECONCILIAÇÃO ?
Ora, se RECONCILIAR significa “restabelecer o acordo entre pessoas que se tinham malquistado”, “congraçar, fazer perder a má ideia que se tinha de alguém ou de alguma coisa”, da mesma forma, NÃO HOUVE RECONCILIAÇÃO. Padre Cícero para o Igreja continua sendo a pessoa acima descrita pelo Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Gerard Müller.
NÃO HOUVE, PORTANTO, RECONCILIAÇÃO DA IGREJA com o PADRE CÍCERO. O Cardeal Parolin conclui: “ MAS É SEMPRE POSSÍVEL, COM A DISTÂNCIA DO TEMPO E O EVOLUIR DAS DIVERSAS CIRCUNSTÂNCIAS, REAVALIAR E APRECIAR AS VÁRIAS DIMENSÕES QUE MARCARAM A AÇÃO DO PADRE CÍCERO.
RECONCILIAÇÃO E O PERDÃO DA IGREJA PARA COM O PADRE CÍCERO PODEM ATÉ OCORRER NO FUTURO, ESPERAMOS TODOS. MAS, no momento, com todo respeito a quem pensa de forma diversa: NÃO HOUVE.
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