terça-feira, 14 de julho de 2015

Irmã Annette, 80 Anos

PARABÉNS, IRMÃ ANNETTE!
Por José Carlos dos Santos

“Eu deixei Pai e deixei Mãe. Deixei todos os meus Irmãos. E cheguei no Juazeiro, para servir ao romeiro.”
Há quarenta anos em Juazeiro do Padre Cícero, uma voz forte canta na Igreja de Nossa Senhora das Dores. No altar, uma mulher de chapéu de palha, anima, acolhe e celebra com os romeiros a vida e os mistérios da fé. Ela chega neste dia 14 de julho de 2015, aos 80 anos de uma vida doada com muito amor aos irmãos. Estamos falando de Anne Dumoulin, conhecida popularmente como Irmã Annette Dumoulin.
Ela nasceu no dia 14 de julho de 1935, exatamente um ano após a morte do Pe. Cícero. A sua cidade natal é Liége na Bélgica. Seus pai era o médico Maximiliano Dumoulin e sua mãe Inês Colaris, ambos falecidos em 1970. Os seus Irmãos são Maria Laura, ainda viva e que já passou muitos meses em Juazeiro. A sua irmã Ghislaine, falecida em acidente de carro em 1972 e seu irmão gêmeo Pierre Dumoulin falecido com idade de 23 anos de uma acidente aéreo em 1948. Caso estivesse vivo estaria completando também 80 anos na data de hoje. Ela tem 06 sobrinhos: Christine, Pierre, Eric e Sylvie, filhos de sua irmã Maria Laura e Dominique e Gery, filhos da sua irmã Ghislaine.  
Annette Dumoulin viveu sua infância no seu país, mas logo cedo durante a Segunda Guerra Mundial teve que viver a experiência da Migração, quando sua família foi para o sul da França, pois seu pai teve que dar assistência médica as vítimas da guerra. Na sua lembrança, guarda momentos de conflitos, tensão e medo sofridos com esta experiência migratória. Retorna ao seu país e aprendeu uma lição do seu pai: “A felicidade consiste em ajudar os outros”. Transforma este ensinamento em sua filosofia de vida. 
Em 1955, a jovem Annette formou em educação física na Bélgica e em 1958 graduou-se em Ciência da Religião pela Universidade Católica de Louvain, seguida também da formação em Psicologia da Religião, obtendo os títulos de mestre e doutora em Ciência da Educação com especialidade em Psicologia da Religião pela mesma Universidade Católica de Louvain.
Na sua vida acadêmica, Irmã Annette foi Assistente no Centro de Psicologia da Religião na Universidade de Louvain(UCL) no período de 1964 a 1970 e na mesma Universidade foi Professora de Ciências da Educação e Psicologia da Religião nas Faculdades de Teologia e Ciências da Educação e Psicologia entre 1970 e 1975.
Ela descobriu sua vocação para a vida religiosa, sendo consagrada no dia 01 de janeiro de 1960, há exatamente 55 anos na Congregação de Nossa Senhora (Ordem das Cônegas de Santo Agostinho). 
A Irmã Annette juntamente com Irmã Ana Teresa chegam ao Brasil para estudar e pesquisar as Comunidades Eclesiais de Base(CEBS) e vão morar na periferia do Recife sob os cuidados do grande mensageiro da paz, Dom Helder Câmara. Naquela convivência com o povo, descobre a figura do Padre Cícero através da vizinha da sua casa, Maninha de Juazeiro. Elas vieram a Juazeiro e se hospedaram  durante uma semana na casa de seu Mocinho e Dona Tita e vivenciaram um momento forte de encantamento e forte admiração ao padre Cícero e aos romeiros.
Há 40 anos, ela juntamente com a Ir. Ana Teresa descobriram um tesouro nas suas vidas: o Padre Cícero, as Romarias e os romeiros.  Chegaram como estudiosas e pesquisadoras e acolheram como sinal de Deus nas suas vidas: o chamado para deixaram suas terras e morar e viver em Juazeiro do Norte. 
Na noite de São João de 1974, as irmãs Annette e Ana Teresa precisam voltar a Bélgica, para as atividades acadêmicas na Universidade de Louvain, mas no caminho do horto diante de uma fogueira, deixaram um registro em uma cabaça: “UM DIA VOLTAREMOS PARA MORAR EM JUAZEIRO”.
A profecia daquela noite se realiza em 1976, quando Irmã Annette pediu exoneração como professora da Universidade Católica de Louvain na Bélgica e fez a sua romaria ao santo Joaseiro juntamente com a querida Irmã Ana Teresa Guimarães. Uma belga e a outra paulista, a partir daquele instante tornaram-se romeiras de Nossa Mãe das Dores e do Padre Cícero. 
Acolhidas pelo Padre Murilo de Sá Barreto e Padre José Alves de Oliveira abraçaram a causa em defesa do Padre Cícero e no acolhimento aos romeiros do nordeste. Imediatamente criaram dois centros: O centro de acolhida aos romeiros e um Centro de Psicologia da Religião, na Paróquia de Nossa Senhora das Dores.
Nestes 40 anos, as Irmãs Annette e Ana Teresa incentivaram a criação e organização da Associação dos Artesãos de Nossa Senhora das Dores.  Promoveram uma ação pastoral na Rua do Horto com círculo bíblico e até hoje, desenvolvem um trabalho de educação através da Escola Comunitária O semeador no bairro aeroporto e da Escola Poço de Jacó no caminho do horto. Elas contribuem com os estudiosos nas pesquisas sobre a história e a vida do Padre Cícero e as romarias e vem coordenando um programa na rádio Padre Cícero A sombra do Pé de Juá. 
Destaca-se também no trabalho destas duas mulheres Annette e Ana Teresa, a formação de outras jovens que descobriram sua vocação e hoje, são consagradas na ordem religiosa das cônegas de Santo Agostinho. 
Há quarenta anos uma voz que todos reconhecem quando chegam na Igreja de Nossa Senhora das Dores. Ela com seu chapéu de palha se mistura no meio dos romeiros, faz animação e deixa o romeiro falar e expressar as suas histórias, as suas alegrias, os seus sofrimentos e as suas vitórias. A experiência de vida do romeiro é valorizada e os romeiros são reconhecidos como protagonista da sua romaria. Ela verdadeiramente dar a voz aos romeiros. Quem já foi na reunião das 3 horas da tarde no círculo operário São José é testemunho deste gesto de amor aos romeiros.
Quanta prova de amor, carinho, dedicação e total entrega aos romeiros e ao povo de Juazeiro. 
Por tudo isso, este 14 de julho é dia de festa e alegria! Celebramos a gratidão a Deus pelo dom da vida e o valor da história de 80 anos desta mulher forte, guerreira, lutadora e comprometida na defesa do nosso Padim Ciço e dos seus romeiros.
PARABÉNS, IRMÃ ANNETTE!

José Carlos dos Santos
Professor de Filosofia da Universidade Regional do Cariri(URCA) e do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará em Juazeiro do Norte.
Colaborador do Programa A Sombra do Pé de Juá
E-mail: josecarlos@ifce.edu.br

Irmã Annette, o presente que a Bélgica deu a Juazeiro
Daniel Walker

Estávamos nos anos 70. Em 1971 eu, José Carlos Pimentel, Renato Casimiro, José Onofre Marques e Antônio Calábria com a imprescindível ajuda do vigário da Paróquia de Nossa Senhora das Dores, Padre Murilo de Sá Barreto, havíamos realizado com grande êxito a Primeira Exposição Fotográfica de Juazeiro Antigo, tendo como local o Edifício Dom Pires. Até então, Padre Murilo não havia se engajado, como o fez depois, na pesquisa e defesa do Padre Cícero. Mas a Exposição com certeza mexeu com ele, pois daí em diante, mesmo timidamente,  ele começou a ler os livros que eu e Renato indicava. 
Mas foi a presença de Irmã Annette em Juazeiro que fez o Padre Murilo se empolgar mesmo pelo estudo da vida do Padre Cícero. Um dia ele me disse:
 - Daniel, esse Padre Cícero é mesmo extraordinário! Imagine só, essas irmãs belgas (ele chamava as irmãs Annette e Teresinha de belgas, embora só Annette fosse belga) vêm de tão longe e se apaixonam pela história dele e aqui, ainda há gente que lhe nega o devido valor. Se elas que têm tanta cultura, são doutoras, reconhecem o valor do Padre Cícero, então, é porque ele tem mesmo. 
E assim , daí para a frente Padre Murilo mergulhou com muita determinação na história do Padre Cícero e deu no que deu: transformou-se num dos  seus maiores admiradores e defensores e, mais ainda, passou a amar os romeiros como só o Padre Cícero sabia fazer. 
Padre Murilo não tinha medo de defender o Padre Cícero, mesmo às vezes até contrariando determinações dos seus superiores hierárquicos. Sua maior ousadia foi ter tido a coragem de proclamar em alto e bom tom, dentro da Igreja de Nossa Senhora das Dores, perante um a imensa multidão de romeiros, o grito que há tempos se escondia dentro do seu coração: VIVA O PADRE CÍCERO! 
Isto foi um delírio para os romeiros e uma grande surpresa para o bispo da época que depois soube do ocorrido. 
Irmã Annette tem uma grande parcela de contribuições prestadas a esta cidade. Tudo o que Juazeiro fizer por ela será insuficiente para pagar tamanha dádiva. Padre Murilo reconhecia o seu ingente trabalho em prol do Padre Cícero, da Igreja, de Juazeiro e dos romeiros e por isso não lhe negou  nenhum apoio, pelo contrário, a estimulou, entregando aos seus cuidados e de suas colegas de hábito a pastoral das romarias. E aí é realizado um trabalho inestimável. 
Irmã Annette tem pelos romeiros uma dedicação toda especial; ela é de fato amiga deles.  E a recíproca é verdadeira. Existe entre ambos uma sintonia que tem como balizador o Padre Cícero e isso vai durar eternamente. 
Deixo de falar sobre a biografia de Irmã Annette porque isto está muito bem contado no texto acima de José Carlos dos Santos. Apenas acrescento, neste momento em que festejamos seus 80 anos, 
IRMÃ ANNETTE FOI O PRESENTE QUE A BÉLGICA DEU A JUAZEIRO.

Daniel Walker
Professor universitário, aposentado, escritor com vários livros publicdos, editor do Portal de Juazeiro

ICONOGRAFIA
















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