Neste 2 de fevereiro de 2015, se vivo fosse, o Sr. Deoclécio
Ribeiro de Menezes, mais conhecido como Dió, estaria festejando o seu
centenário de nascimento. Para lembrar o evento seus filhos mandarão celebrar
no próximo domingo, 1º de fevereiro, uma Missa em Ação de Graças na Igreja de
São Miguel, às 10h30min.
Quem foi
Deoclecio Ribeiro de Menezes, filho de José Porfirio Ribeiro e Maria Bezerra de Menezes, nasceu em 02/02/1915 no sitio Pau seco em Juazeiro do Norte, onde
viveu até sua adolescência. Mais tarde
toda família veio morar na cidade. Com muita disposição para o trabalho e
pensando já em sua independência financeira ,iniciou sua vida profissional como
sapateiro, trabalhando na sapataria de Raimundo Siqueira. Em 1952 casou-se com a
juazeirense Anunciada Marques com quem teve oito filhos, sendo cinco mulheres. Como
no ramo de sapataria não estava ganhando o suficiente para o sustento da
família numerosa, resolveu investir noutra profissão e escolheu a que estava em
franca expansão na época, que é era a de vendedor ambulante de joias. Recebeu
todo apoio do seu cunhado, Zeca Marques, já estabelecido no ramo da
ourivesaria, e começou a fazer viagens. Inicialmente nas cidades da redondeza e
depois, à medida que os negócios melhoravam, passou a visitar também cidades de
outros estados, especialmente os da Região Norte do Brasil. Na década de 70, já detentor de um bom
capital, resolveu se estabelecer no ramo de comércio de cereais, abrindo o
Armazém Tapajós localizado na Rua São Paulo, onde ficou até se aposentar. A formação
humana e educacional, pautada da ética, honestidade e respeito para com o próximo
foi a maior herança deixada para seus filhos que hoje, todos com formação
universitária, festejam seu centenário.
Um caso real contado por Dió
Dió era devoto do Padre Cícero, cuja vida conhecia muito bem
através de leitura de livros. Ele contou ao Editor do Portal de Juazeiro um
fato interessante envolvendo o Padre Cícero o qual reproduzimos abaixo:
Em 1973 ele precisou ir a
Santarém, no Pará, para vender um carro (uma Rural Willys). O negócio
não foi feito e ele teve de voltar, trazendo o carro, viajando pela Transamazônica, àquela época uma péssima
rodovia. Quando estava entre as cidades
de Altamira e Marabá, o carro bateu numa pedra no meio da estrada, causando um
grande rombo no tanque de gasolina. Só depois de uma longa espera passou um
motorista que se propôs a ajudar. Mas quando viu do que se tratava o defeito
partiu para a gozação, dizendo:
- Vê-se logo que
você é marinheiro de primeira viagem, pois com material do próprio carro você
pode consertar o furo, e foi tirando uma borracha localizada na frente da
Rural, com a qual tapou o buraco do tanque de gasolina. Terminado o conserto,
ele notou que a placa do carro era de Juazeiro do Norte, e ironizou:
- Estou vendo que você é da terra do Padre
Cícero, que vocês dizem que é santo. Então, por que ele não fez um milagre para
evitar que você ficasse no prego?
Foi aí que Dió, num
feliz momento de inspiração, arrematou:
- Mas, meu amigo,
você quer milagre maior do que este! Foi Padre Cícero quem mandou você me
socorrer!
Encabulado, o cara foi embora apressado sem esperar
agradecimento.
Memória fotográfica
Dió em companhia dos filhos: Diógenes, Denise, Darci, Décio, Diana, Dilma e Darlene |
Casal Dió-Anunciada |
CENTENÁRIO DE NASCIMENTO DE
DIOCLECIO RIBEIRO DE MENEZES
Era 1915.
O poeta profeticamente rimava:
“Setembro passou com
Outubro e Novembro
Já estamos em Dezembro
Meu Deus, que é de nós,
Assim fala o pobre
Do seco Nordeste
Com medo da peste
Da fome feroz
A treze do mês
Ele fez experiência
Perdeu sua crença
Nas pedras de sal,
Mas noutra esperança
Com gosto se agarra
Pensando na barra
Do alegre Natal
Rompeu-se o Natal
Porém barra não veio
O sol bem vermelho
Nasceu muito além
Na copa da mata
Buzina a cigarra
Ninguém vê a barra
Pois barra não tem
Sem chuva na terra
Descamba Janeiro,
Depois fevereiro
E o mesmo verão
Então o nortista
Pensando consigo
Diz: "isso é castigo
não chove mais não". (Triste Partida -Patativa do
Assaré)
Numa das maiores secas do Nordeste, mais tarde retratada na
obra imorredoura de Raquel de Queiroz, O QUINZE, no sítio Pau Seco, situado à
margem esquerda do Rio Salgadinho, nascia o quarto filho de Porfírio Ribeiro de
Matos e de Maria Bezerra de Menezes (D. Maroca), sendo seus avós paternos
Antônio Félix Ribeiro e Maria Félix Ribeiro. E seus avós maternos, Joaquim
Micena Bezerra e Ana Bezerra de Menezes.
Naquele dia, os devotos do Pe. Cícero e de Nossa Senhora das
Dores, em louvores, cantavam:
Ó que caminho tão longo,
Tão cheio de pedra e areia.
Valei meu padim Ciço
E a mãe de Deus das Candeias.
E os primeiros povoadores e romeiros rogavam:
Rogai por nós ó Maria,
Auxílio dos pecadores.
Pedi a Deus nos dê chuvas,
Mãe de Deus por vossas dores.
O rebento abençoado pela Mãe de Deus das Candeias e pelo
Padim Ciço, nascido no correr de uma das maiores intempéries que se abateu
sobre o Nordeste brasileiro, se revelou, no decorrer de sua existência,
verdadeiramente, na feliz expressão de Euclides da Cunha, em os Sertões, UM
FORTE.
Saindo Sitio Pau Seco, começa desarnar-se nas primeiras
letras e a aprender a profissão de sapateiro, a qual exerceu com brilho, sendo
considerado um dos melhores soladores do Cariri.
Deixando a arte de sapateiro, onde juntamente a seus irmãos
Senhorzinho, José Porfírio e seu cunhado Vicente eram considerados MESTRES,
abraça a vida de comerciante ambulante, levando para fora do Estado a arte de
ourivesaria dos artífices da Terra do Padre Cícero.
Cessadas as viagens, estabelece-se comercialmente na rua São
Paulo, com o ramo de balas e bombons, buscando tornar menos amarga a vida dos
seus conterrâneos. Em tudo, um homem íntegro.
Filho extremado, que o digam os seus cuidados com D. Maroca,
por certo, restou frustrado por, logo cedo, ter sido furtado pela providência
divina da presença do seu genitor, o Professor Porfírio Ribeiro.
Irmão acolhedor, solícito, pronto a ajudar fosse com uma
palavra amiga, de conforto, de orientação e carinho, fosse com uma ajuda
material, às vezes, acima até de suas posses.
Marido amoroso, eterno amante de sua querida Anunciada, por quem era amado e, por que não dizer,
venerado. Hoje, por certo, juntos, na Glória, desfrutam da eternidade de Deus,
um ao lado do outro.
Pai dedicado, atento, educador pelo exemplo, severo, mas
justo, buscando sempre dar não só a sensação, mas a certeza de que no esteio da
família havia UM FORTE. Um eterno orgulhoso de sua família, cujas virtudes dos
filhos exaltava de um a um, uma a uma.
Avô preocupado, carinhoso, amigo, participativo, sem,
contudo, deixar de estabelecer as regras que entendia necessárias, isto, sem a
preocupação de desagradar os pais dos netos.
Genro e Cunhado merecedor de todos os encômios de seus
sogros e cunhados, haja vista que, até nos momentos em que divergia o fazia de
forma respeitosa.
Tio mui querido. Os
sobrinhos a eles se referiam de forma respeitosa e carinhosa, havendo entre
alguns, e são muitos, e não me perguntem quem são, pois eu não digo, uma
disputa sadia e ciumenta, na busca de saber quem era o sobrinho mais querido de
Tio Dió.
Hoje é só saudade. E eu, Raimundo meu fi, sou só lágrimas.
A ele nosso preito de carinho, admiração, GRATIDÃO e eternas
saudades.
Os Siqueira Ribeiro
02/02/1915 – 02/02/2015.