O Cariri sempre foi uma região bastante autêntica, com seus próprios costumes, com sua própria cultura. Apesar de sermos cearenses, às vezes fica a sensação de morarmos em outro estado, pois até o nosso sotaque é diferente do linguajar das áreas próximas ao litoral. Ou pelo menos era diferente!
Nos últimos anos, nossa região tem se tornado bem mais cosmopolita. Juazeiro do Norte, por exemplo, cuja população já era formada em boa parcela por famílias vindas do interior de estados vizinhos nordestinos, agora também atrai muitos profissionais da capital cearense e até do Sul e Sudeste, todos em busca das novas oportunidades surgidas pelo recente crescimento econômico. Além de sua valorosa contribuição intelectual, estes novos moradores também trazem consigo o seu sotaque, o qual foi incorporado por alguns juazeirenses e hoje já existe uma verdadeira mistura quanto ao modo de falar.
Eu mesmo testemunho diariamente esta mistura. Quando vou deixar meu filho em sua escola, vou cumprimentando nos corredores pais e professores com o tradicional “bom dia”. Para a resposta ouço “bom djia”; assim, com o chiado das consoantes “d” e “t” peculiares da capital cearense e Sudeste do país. E não termina por aí: lá a borracha não é mais “de Pedro”, é “do Pedro”, com o artigo antes do nome próprio sem este ser especificado.
Realizada a primeira parte de minha rotina diária, em pouco menos de 30min já estou no Posto de Saúde onde trabalho. Já neste ambiente, com pessoas que não mantém muito contato com o falar da capital, o “bom dia” volta a ser pronunciado do jeito que eu falo, sem chiado. E o remédio não será para a Maria, será de Maria.
Interessantes estes micro-universos dentro de uma própria cidade e a própria dinâmica da linguagem. Quem falará melhor, os que incorporaram o modo de falar propagado pelas mídias ou os que preservaram o sotaque tradicional caririense? E no futuro próximo, haverá uma mudança total do sotaque local com as próximas gerações?