terça-feira, 26 de março de 2013

O papa Francisco e o padre Cícero - Irmã Annette Dumoulin


Não sou profeta! Mas quem sabe se uma retrospectiva dos acontecimentos nos ajuda a prever o futuro!
2001: Dom Newton de Holanda Gurgel, bispo de Crato, recebe uma carta do Núncio Apostólico, via CNBB. O cardeal Ratzinger, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, deseja consultar sobre o interesse em se reabrirem os arquivos sobre o padre Cícero. Dom Newton responde pela afirmativa, confiando ao seu sucessor esta missão.
2005: Falecimento do papa João Paulo II, eleição do cardeal Ratzinger: Bento XVI.
2006: Após cinco anos de estudos dos arquivos, dom Fernando Panico, bispo de Crato, apresenta ao cardeal Levada, novo prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, a petição em favor da “reabilitação canônica de Padre Cícero Romão Batista”, apoiada por um abaixo-assinado de 264 bispos brasileiros. Até hoje, nenhuma resposta de Roma: apenas o anúncio que os documentos enviados estão com os peritos. E se estivessem ocupados ao estudo de outros assuntos mais urgentes?
2013: O papa Bento XVI renuncia. O argentino Jorge Bergoglio é eleito papa.
Mas quem é ele? O mundo observa, comenta, deduz... Observo alguns fatos. O primeiro: “Como eu queria uma Igreja pobre, para os pobres!”, declara o papa Francisco, no encontro com jornalistas, no dia 16. E confidencia: “Durante a eleição, estava perto do arcebispo emérito de São Paulo, Claudio Hummes, um grande amigo. Quando as coisas se tornaram perigosas, ele me reconfortou. Quando os votos chegaram aos 2/3, ele me abraçou e me falou: ‘Não esqueça os pobres!’ Imediatamente, pensei em Francisco de Assis”.
O segundo fato: naquele mesmo dia, voltando para a casa Santa Marta, onde os cardeais se hospedam no Conclave, Francisco faz questão de voltar de ônibus! E escolhe sentar-se junto a outro amigo: “Perto de você, Raimundo Damasceno”! (cardeal de Aparecida).
O papa Francisco conhece bem alguns bispos do Brasil, aqueles mesmos que assinaram a petição em favor da reabilitação do Patriarca de Juazeiro!
Quem sabe se, no próximo encontro, o cardeal Hummes sussurra no ouvido do amigo: “Francisco, não esqueça o padre Cícero, padrinho dos pobres”! Quem sabe se, na Jornada Mundial da Juventude, o presidente da CNBB, o cardeal Damasceno se senta no ônibus, junto ao papa Francisco e lhe confia baixinho: “Assinei, com 264 confrades, o pedido de reabilitação do padre Cícero, mas a resposta de Roma não chegou!”
O Espírito Santo sopra onde e como quer! Quem sabe se minhas previsões não se tornam realidade?

Annette Dumoulin
annettedumoulin@yahoo.com.br
Coordenadora da Pastoral Diocesana de Romaria (Crato) e doutora em Psicologia da Religião

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