sábado,
20 de outubro de 2012
O
Blog do Juazeiro procurou o professor Renato Casimiro para conversar um pouco
sobre o lançamento no próximo dia 25 da Coleção Padre Cícero Romão Batista e os
fatos de Joaseiro. Renato tem doutorado pela USP e é formado é Química
Industrial e Engenharia Química sendo respeitado ex-professor Universitário em
Fortaleza.
Respeitado intelectual
é profundo conhecedor da história juazeirense com dezenas de livros publicados
e milhares de artigos em jornais brasileiros e do exterior. Foi um dos
consultores do escritor e jornalista Lira Neto, quando da produção do Livro
“Padre Cícero, Poder Fé e Guerra no sertão” e do roteirista Jonasluis de Souza,
do Icapuí, que escreveu a Minissérie Sedição de Juazeiro para a FGF. Renato
Casimiro, ao lado da não menos competente Luitgarde Oliveira Cavalcanti Barros
organizou esta nova coleção que promete ser repleta de sucesso.
A entrevista foi
concedida ao editor do Blog, Beto Fernandes:
Blog do Juazeiro: Como se deu a ideia de formatar a Coleção
Padre Cícero Romão Batista e os fatos de Joaseiro?
Renato Casimiro: Foi um processo gradual, de amadurecimento da
equipe que integrou a Comissão Diocesana de Estudos para a Reabilitação
Histórico-Eclesial do Padre Cícero. A primeira destas reuniões aconteceu em São Paulo , nos dias 19 a 21 de abril de 2002, com
o Bispo diocesano de Crato D. Fernando Panico. Nesta ocasião estiveram
presentes o Prof. Antônio-Mendes da Costa Braga (sociólogo), Prof. Dr. Carlos
Alberto Steil (antropólogo), Prof. Dr. Fr. Eduardo Spïller Pena (historiador),
Prof. Dr. Marcelo Ayres Camurça Lima (antropólogo), Profa. Ms. Maria de Fátima
Morais Pinho (historiadora), Profa. Ms. Maria do Carmo Pagan Forti (psicóloga e
doutoranda em Ciências da Religião), Prof. Dr. Pe. Paulo César Loureiro Botas
(teólogo e filósofo), Prof. Dr. Paulo Fernando Carneiro de Andrade (teólogo),
Aroldo de Oliveira Braga (assessor do Setor Cultura - CNBB), Pe. Francisco
Roserlândio de Souza (historiador, coordenador do FPI/CENDEP e DHDPG). Foram
também convidados para participar da Comissão e estiveram presentes a esta
reunião: Pe. João Jorge Correa Filho (teólogo e responsável pelo Arquivo de
História Eclesiástica da Arquidiocese de Fortaleza), Profa. Dra. Luitgarde Oliveira
Cavalcanti Barros (antropóloga) e o Prof. Dr. Antonio Renato Soares de Casimiro
(em quem se reconhecia alguma habilidade e conhecimento sobre o documentário
até então conhecido sobre as questões políticas e religiosas em torno do Pe.
Cícero). Também faziam parte desta Comissão, como se sabe, Pe. Francisco Murilo
de Sá Barreto, Ir. Anne Dumoulin e Ir. Therezinha Stella Guimarães. A partir
deste meu primeiro contato com a equipe, ficou evidente que me caberia um
trabalho extenso de revisão das fontes primárias, contendo documentos relativos
a todos estes momentos da vida do Patriarca de Juazeiro, com o objetivo de ir colaborando
com a equipe mais doméstica, já constituída, e em pleno trabalho, integrado
pelas Irmãs Annette, Ana Teresa, Maria do Carmo e Pe. Roserlândio. O volume de
documentos já revelados e novos achados em arquivos diversos, tanto no Cariri,
quanto em outras partes do país e até no exterior, ia gradativamente nos
empurrando para uma sistematização, uma vez que, ao objetivo maior de preparar
um substancioso dossiê para coadjuvar a petição do Bispo Diocesano de Crato com
respeito à reabertura do Processo em que está incurso o Pe. Cícero, perante a
Santa Sé, a isto se seguiria, necessariamente, à disponibilização por via
física (publicação) e/ou inserção na rede mundial de computadores, através de
uma página a ser criada na web. Este, portanto, foi o motivo primeiro para
gestar a Coleção que ora estamos lançando.
BJ: Há algo de novo nesta publicação em relação a Igreja estar
vendo um novo conceito sobre os ‘fatos de Joaseiro’, principalmente com a
possibilidade da reabilitação das ordens sacerdotais do padre Cícero?
RC: As maiores referências que tínhamos acumulado
sobre as questões políticas e religiosas de Juazeiro e do Pe. Cícero estavam,
essencialmente, na abertura de alguns arquivos que começaram a ser conhecidos a
partir das pesquisas do prof. Ralph della Cava (anos 60), da profa. Luitgarde
Barros (anos 70) e daí por diante, a dezenas de dissertações e teses de
doutoramento acadêmico em universidades do país e do exterior, gerando novos e
importantes olhares sobre estas velhas questões e seus personagens no Joaseiro.
Com o conhecimento do que ia chegando aos livros publicados, logo veio a
sensação de que o painel estava ainda incompleto, no tocante ao acervo
documental. Mas, não imaginávamos que ainda se tinha tanto para revelar, para
se conhecer. De maneira que, esta coleção traz no seu conteúdo um rico acervo
de novos textos que passam a compor, em certos aspectos, um olhar menos sectário
sobre os fatos do Joaseiro, e com certeza mais favorável a um posicionamento
mais equilibrado, distanciado da polarização que persistiu por décadas com algo
que nos incluía como participantes fanáticos de tendências bem radicais, pró ou
contra. Pró ou contra os Milagres/Embustes... Pró ou contra o Santo/Coronel...
BJ: Passados 123 anos do
‘Milagre da Hóstia’ o fato de estar ainda tão vivo deve-se a fé do povo
nordestino. Esse novo olhar da Igreja é um reconhecimento à força do
catolicismo popular, claramente maior que o catolicismo romano?
RC- Ao meu sentimento, sem dúvida alguma. Por
todos estes anos, esta enorme Nação Romeira não arredou o pé e o compromisso de
estar permanentemente ligada ao seu Patriarca. Juazeiro se afirmou como espaço
generoso desta missão, em torno de Oração e Trabalho. E o que se viu foi um ato
continuado de fé, fortalecida por uma convicção na santidade do seu líder, vivo
e permanentemente ao lado de sua gente. Enquanto a Comissão trabalhava, pela
imprensa, especialmente, surgiam especulações de que isto ia para Roma como
esforço da nossa Diocese para subsidiar o Santo Padre na revisão que, assim
parecia, já estava encomendada. Lembro até de uma entrevista de emissora local
com uma romeira, onde o entrevistador indagava sobre o reconhecimento da
santidade do Pe. Cícero. Ao que a romeira respondera com tal simplicidade e com
alguma perplexidade: - Mas, meu filho, será que o Santo Padre ainda não sabe
que o meu padrinho é santo? Não quero dizer que haja na essência deste trabalho
que realizamos algo que nos posicione como alguém que estabelece uma dicotomia
entre a igreja popular dos sertões brasileiros e a igreja romana, hierárquica.
Para mim, o mais relevante e respeitável é que em nenhum momento, mesmo de
práticas rústicas, mas com fé – inquebrantável, ela é a mesma Igreja do Cristo
ressuscitado. É a mesma Igreja da Mãe das Dores. É a mesma Igreja do servo fiel
e obediente, Padre Cícero. Essa identidade está viva no coração desta gente e
de suas devoções. Quando eles vêm aos milhares, de volta ao Juazeiro, nós nos
comovemos com a energia que eles nos trazem, como testemunho desta fidelidade
exemplar.
BJ: Na edição há algo novo sobre estudos que busquem identificar
para onde levaram os restos mortais da Beata Maria do Araújo?
RC: Não houve, em nenhum momento, esta preocupação
com respeito à conduta da Comissão, posso lhe dizer com firmeza. Isoladamente,
minha curiosidade e de alguém mais, isto é o que posso admitir. Afinal houve um
fato violento, assim classifico, perpetrado por gente com motivos obscuros.
Afinal, foi um tempo (1930) de profundas mudanças na cena política do país e
até na região. Aconteceu no quase ocaso da vida do Patriarca que reagiu de
forma contundente. Diz-se que havia no local até fotógrafo, mas nada foi identificado
até hoje. Sumiu. Evaporou. Hoje nos posicionamos respeitosamente a este
capítulo subtraído da nossa memória histórica. A reação, me parece, veio por
uma elevada sensibilidade da inteligentzia que começou a resgatar a figura
histórica da beata para elevá-la a um panteão de heroína. Sua biografia foi
reescrita sem os ranços da exclusão a que foi submetida, em toda a sua
existência. Pra mim, nenhuma surpresa se um dia esta Igreja a que ela serviu
vier a se posicionar, relevando as suas virtudes de serva de Deus. Sobre o
local exato, onde seu corpo esteve, disso sabemos, junto àquela parede direita
da entrada da Capela de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, eu até gostaria que o local tivesse esse reconhecimento
autorizado. Aí, quem sabe, lembrando Maria de Araújo, colocaríamos sua imagem
fotográfica e até um epitáfio muito conhecido (Mário Quintana) se poderia
escrever, adaptando: “Eu não estou aqui... Aliás, eu estou aqui...”) Maria
Magdalena do Espírito Santo de Araújo (* Juazeiro do Norte, *24.05.1862 /
+17.01.1914). Daqui a uns meses, será importante que isto aconteça. Não
como eu gostaria, necessariamente. Mas, de algum modo. Serão cem anos de
silêncio e de omissão, quase imperdoáveis.
BJ: Quais os parceiros para viabilizar o lançamento desta
importantíssima coleção?
RC: Não foi muito simples chegar a estes
resultados. A esta Coleção, a este momento. No caminho havia diversas pedras.
Felizmente, também, e por sorte nossa, havia por perto pessoas e instituições
sensíveis a esta proposta. E assim foi. Queremos agradecer com muita gratidão o
empenho de grandes parceiros, especialmente do sistema Fecomércio (SESC e
SENAC), Diocese de Crato, Fundação Pe. Ibiapina, Fundação Waldemar de Alcântara
e Prefeitura Municipal de Juazeiro do Norte.
Serviço:
Lançamento da Coleção
Padre Cícero Romão Batista e os fatos de Joaseiro
Data: 25 de outubro
(Quinta-feira)
Horário: 19h30min
Local: memorial Padre
Cícero
Rua Leandro Bezerra
S/N
Bairro Socorro
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