Padre Silvino e suas missas na madrugada
Quando criança assistia à missa do domingo, na Capela do Dispensário de Nossa Senhora das Dores, dirigido pelas Irmãs Missionárias de Jesus Crucificado. A superiora da instituição religiosa era Irmã Nely Sobreira. A missa era celebrada pontualmente às 4:30h, pelo padre Silvino Moreira Dias. Quando nos dirigíamos para a missa ainda madrugadinha o céu ainda estava todo estrelado e a lua clareando a escuridão. Para nós, crianças, meus irmãos e eu, era um grande sacrifício acordar em tal horário, justamente a hora do melhor sono. Porém tinha uma vantagem, quando voltávamos para casa, tínhamos o direito de dormir até mais tarde. Em minhas lembranças focalizo a capela, localizada no final da Rua São José, pequena, mas bem aconchegante. O Jesus Crucificado pregado no alto, atrás do altar, chamava logo a atenção. Aquele silêncio e as freiras entoando os cânticos e hinos que faziam parte do ritual da Santa Missa, que naquela época era recitada em latim. Admirava muito a quantidade de fieis que participavam dessa missa dominical, apesar do horário. A capela se tornava pequena para comportar todos os fieis dentro do recinto, e por isso muitos ficavam acomodados no meio da rua (nessa época nossos calçamentos eram de paralelepípedo) e na hora da Elevação da Hóstia e do Cálice todos se ajoelhavam (até as crianças), independentemente de doer ou machucar o joelho, devido a pedra tosca. Outras pessoas ficavam numa pequena área que dava acesso à capela. Padre Silvino era um padre simples e humilde, de postura austera com relação ao seu sacerdócio, nunca dispensou a sua batina preta. As suas pregações, após o evangelho eram bem sucintas e rápidas, a celebração da missa girava em torno de meia hora ou quarenta minutos no máximo. Assim era como os que tinham o hábito de cumprir com sua obrigação dominical gostavam, missas curtas. Irmã Angélica (hoje não mais freira), era a responsável para tocar o sino no momento da exposição da hóstia e do cálice. Irmã Alicantina e Irmã Zefinha usavam sacolinhas com argolas, batendo uma argola na hora para chamar a atenção de quem desejava contribuir com alguma oferta, era o momento da coleta. Durante muitos anos fomos frequentadores assíduos dessa missa. As marcas ficam guardadas em nossas mentes, e revejo num lampejo de saudade o clima de piedade e dever cumprido de todos que participavam da missa quando se dirigiam para suas casas, já o amanhecer chegando, o sol despontando, dando lugar a claridade. Nesse retrospecto que faço alusivo ao padre Silvino, o vejo montado num cavalo se dirigindo ao sítio que lhe pertencia, na Boca das Cobras, lá ele possuía umas cabeças de gado e uma rocinha. Nesse lugar ele dava vazão ao seu espírito de agricultor, mudando totalmente de postura, exercendo o trabalho braçal como filho de agricultores. A escolha para o exercício do sacerdócio não lhe tirou e nem o afastou do seu habitat. Foi o primeiro capelão da Capela do Socorro, e o executou com muita disciplina e fidelidade. Celebrava sempre as missas do dia 20, em homenagem ao Padre Cícero, e o tinha como santo, daí por que o divulgou e o defendia sempre. Fez várias campanhas para melhorar a capela, como pinturas, bancadas e o forro. Criou a campanha para colocar no forro estrelas com os nomes das pessoas que tinham contribuído, como temos no Santuário de São Francisco. Com as administrações dos outros capelães, as reformas que foram feitas eliminaram o que existia. Suas missas na Capela do Socorro eram celebradas às 16h, todos os dias. Morou na Rua Padre Cícero, 245, com sua irmã, Zizi numa casa modesta até o seu falecimento, ocorrido no dia 17 de março de 1976.
Pe. Silvino e a Capela do Socorro na época em que ele era capelão. |
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