NOSSO CINEMA PARADISO
Há poucos dias tomei conhecimento com grande atraso de belíssima matéria televisiva que a TV Verdes Mares Cariri exibiu num dos seus noticiários. Tratava-se do fechamento, provavelmente em definitivo, do velho Cine Eldorado. De imediato me veio à lembrança do genial filme de Giuseppe Tornatore, Cinema Paradiso, que tenho em minha videoteca para rever frequentemente. Ali, entremeado com uma narrativa fascinante sobre um amor de juventude e a imensa afinidade pelo cinema, de dois dos protagonistas, o diretor enfoca, particularmente flagrantes da vida e do ocaso de cinema de rua. Essa expressão ganhou mais força quando do advento dos vídeo-cassete e também dos cinemas de centros comerciais. No mundo inteiro se constata hoje a larga predileção por esta última locação. E no Cariri isto é tão evidente que, das duas primeiras salas do Shopping Cariri, as obras atuais de expansão deverão contemplar mais 4 novas salas. Mas e o Eldorado e este final melancólico do cinema de rua? Na matéria referida, ele é o último de uma grande fase de salas exibidoras, que chegou a acolher 1200 espectadores. Conto-lhes um pouco sobre esta história. Descobri o cinema em meados dos anos 50, através das sessões vespertinas, dominicais, do Cine Avenida, funcionando na praça Pe. Cícero, lado da Rua São Francisco, onde hoje está o Hotel Municipal. Ao que me parece, seria a nossa quarta sala de projeção, instalada em 1942. Antes dele, conforme relata Senhorzinho Ribeiro, sem oferecer maiores detalhes, o primeiro cinema pode ter sido em 1916, na então Rua Nova, para depois se mudar para a Rua São Pedro. Depois, em março de 1921 veio o Cine Iracema, de Pelúsio Correia de Macedo, na Rua Pe.Cícero, ainda como cinema mudo, embora em Fortaleza já estivesse preste a funcionar o Cine Moderno, o primeiro cinema falado do Estado. Generosa Alencar e Fátima Menezes, utilizando um velho caderno de apontamentos de Pelúsio, assim se referem ao velho cinema: “A referida casa de diversões funciona em prédio próprio construído para este fim. Ficava situado na rua Pe. Cícero. Tinha piso inclinado e cadeiras convencionais. Possuía uma sala de espera, bilheteria, cabine de projeção, tela e palco conjugados, permitindo apresentações teatrais e iluminação própria com corrente elétrica gerada no local. Nesta época a cidade ainda não dispunha de luz elétrica”. Há indícios de que Benjamim Abraão tenha utilizado esta sala de exibição, entre os anos 1925 e 1935, para projetar os seus documentários sobre Juazeiro e Pe. Cícero. Nessa cronologia cinematográfica, encontramos, citados por Paulo Machado , três registros nos arquivos do Cartório Machado. O primeiro, de 29 de julho de 1935, é um contrato entre os irmãos Antonio Vieira de Almeida e Olimpio Vieira de Almeida, Manoel Soares Couto e Antonio Pita, e corresponde à fundação do Cine Teatro Roulien. O segundo é outro contrato assinado no dia 7 de maio de 1936, entre as empresas Almeida & Cia. Ltda. e Lourenço Pontes & Cia. Ltda. para a exploração dos Cines Iracema e Roulien. O Iracema teria saído das mãos de Pelúsio e ainda funcionaria mais alguns anos. Quanto ao Roulien, a empresa Almeida & Cia. Ltda., em 22 de maio de 1946, agora integrada por Antonio Vieira de Almeida, Olimpio Vieira de Almeida, Antonio Pita e Edmundo Morais, passou a ser designada de Sociedade Almeida & Cia. Ltda. É esta Sociedade que inaugurará, em 07.09.1947, o maior de todos os cinemas de Juazeiro – o Cine Eldorado, que irá funcionar na Rua Santa Luzia, com cerca de 800 lugares. Quando nasci em 1949, somente havia dois cinemas: o Roulien e o Eldorado. O Cine Teatro Roulien tinha 500 poltronas e seria fechado em 1958. O Almanaque do Cariri, de 1949, referencia que estas salas exibiam a mesma programação da capital, distribuída por Luiz Severiano Ribeiro, e elas eram consideradas como das melhores no interior do Estado. Ainda sobre velhos cinemas, há a menção de Senhorzinho Ribeiro para os Cines Operário, Guri e Luz. O primeiro funcionaria a partir de Agosto de 1949, e o segundo seria inaugurado em Junho de 1950, e funcionaria na rua São João, perto do Bar de Lêra. Quanto ao terceiro, o Luz, sei apenas que era de propriedade do Sr. Luiz Dantas. Ressalvo que havia uma designação de empresa Guri, como a proprietária do Eldorado e do Capitólio, ainda nos anos 60. O Cine Capitólio, a oitava casa de exibição, pertencente aos irmãos Almeida, funcionaria na Rua Santa Luzia, 321, a partir de 1957, e em meados dos anos 60, se transfere para a Delmiro Gouveia.
O Governo do Estado do Ceará, através da sua Secretaria de Cultura já se manifestou concretamente com respeito à salvação do Cine São Luiz (Fortaleza), adquirindo o edifício da Praça do Ferreira e preservando-o para um centro cultural com o cinema revitalizado. Igualmente está empenhado em criar pelo interior as “filiais” do Centro Dragão do Mar. Aqui fica a sugestão para que o velho Cine Eldorado seja parte desta contrapartida que o Juazeiro poderia oferecer, através da municipalidade, para que o edifício não se converta numa simples garagem.
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