sexta-feira, 11 de novembro de 2011



FIC - FEIRA INDUSTRIAL DO CARIRI

No dia 18.11.1967, na sede do Treze Atlético Juazeirense foi aberta a I FIC – Feira Industrial do Cariri. O jornal Tribuna de Juazeiro, no dia seguinte, abriu grande manchete para noticiar o fato: Governador veio inaugurar Feira Industrial do Cariri. Era um grande evento para o Juazeiro do Norte daquela época. O mundo oficial, de estado e municípios, bem como empresários, e grande afluência popular celebraram a grandeza daquela mostra. Aderson Borges de Carvalho foi o coordenador da Comissão Organizadora que preparou tudo em menos de 30 dias. Logo ganhou a adesão de expressivos segmentos da sociedade, através de associações, clubes de serviço, prefeitura, e comércio e indústria da região.

 Foto 1: Visita do Vice-Governador do Estado, Gen. Humberto Ellery, à I Feira Industrial do Cariri - FIC, no Treze Atlético Juazeirense, 18.11.1967: ?, Letícia Leite Pereira, Aderson Borges de Carvalho, Francisco Alberto Bezerra, Mauro Sampaio, Gen. Humberto Ellery, ?, Humberto Bezerra(? De costas).

Dentre os expositores, constavam as seguintes organizações e empresas: Cia. Sul Cearense de Papéis (SULCEPA), Banco do Juazeiro S.A., Luna – Ind. E Comércio de Calçados, Cariri Industrial de Óleos S.A., Cariri Refrigerantes S.A.(Coca Cola), Apiário Sto. Antonio (Mel Cariri), Curtume Pe. Cícero S.A., Rodoviária Estrela do Norte, Ltda., Cajuina São Geraldo, A. Borges de Carvalho & Cia., Fornecedora de Bebidas S.A. – FOBESA (Crush), Ind. De Moagens do Cariri (IMOCASA), Ind. De Borracha e Plásticos S.A. (INBOPLASA), Ind. Bezerra de Menezes S.A., Banco do Nordeste S.A., Fundação IBGE, Indústrias Eletromáquinas S.A. (IESA), Cia. De Eletricidade do Cariri (CELCA), Soc. Anônima de Água e Esgotos do Crato (SAAEC), DAER, IMAG – Ind. De Massas Alimentícias Gessy, CIMASA – Com. E Ind. Da Mandioca S.A., CECASA – Cerâmica do Cariri S.A., Metalúrgica Oliveira, Metalúrgica I. Melo, Eletrometal, Malharia Silmo, Antonio Linardi & Cia., Telefônica de Juazeiro do Norte (COTEJUNO), Life – Propaganda, Prefeitura de Caririaçu, Prefeitura de Lavras da Mangabeira, Prefeitura de Juazeiro do Norte, CINCOSA, SESI, Eletrográfica Mascote, 10ª. Região Militar, além de um pavilhão sobre artesanato juazeirense. A Comissão Organizadora era composta por: Aderson Borges de Carvalho, Aldemir Sobreira, João Barbosa, Valdemnar Aquino, Manoelito Vitorino, Ivan Almeida, Humberto Alencar, Espedito Pereira, José Matias Júnior, Eliseu Damasceno, além de outros membros do Lions Clube, Rotary Clube, e da Câmara Júnior local. A Feira funcionou por oito dias. Ao final, com grande sucesso, só se falava na sua repetição no ano seguinte, provavelmente noutro local, pois o Treze já se mostrara muito pequeno para comportar a FIC.       
Foto 2: Visita do Vice-Governador do Estado, Gen. Humberto Ellery, à I Feira Industrial do Cariri - FIC, no Treze Atlético Juazeirense, 18.11.1967: Da esq. para a dir. - Francisco Alberto Bezerra, Tenísia Coimbra Bezerra, Maria Correia, Janete Barbosa Gomes, Mirian Luna Pinheiro, Gen. Humberto Ellery, Alberto Bezerra Morais, Gen. Raimundo Telles Pinheiro, Inês Mendonça Almeida, Maria Zuila e Silva Moraes, Dorgival Pinheiro, Francisquinha Landim e Maria Letícia Leite Pereira.

Selecionamos para esta Memória, um texto escrito pela pessoa mais autorizada a falar da FIC: Aderson Borges de Carvalho. Para isto, transcrevemos um texto que pode ser encontrado no seu livro de memórias (Crônicas do Cariri, 1999). Infelizmente, seu livro póstumo.

"Neste mês de outubro trinta anos se foram depois da re­alização da Primeira Feira Industrial do Cariri, mas apenas pou­cas pessoas falaram nisso. Manoelito Vitorino comentou comi­go, o sucesso do evento tão distante e foi aí que me decidi a publicar o que estava inédito, apesar de escrito há algum tempo. No ensejo, quero reiterar ao amigo João Barbosa que ficou com a guarda do documentário: filme, livro de visitantes e conceitos emitidos, que os entregue ao IPESC, onde serão mais segura­mente preservados para a posteridade. Vejamos o que escrevi: Chegava do Rio e São Paulo e fui convidado para uma reunião no Clube dos Doze. Por iniciativa de João Barbosa, socialmente, sempre atuante, projetava-se a realização de uma festa naquele clube, precedida de disputa para a eleição da "Rainha", entre seis jovens beldades de nossa terra, que teriam patrocínio de indústrias locais. A idéia era interessante, mas na minha ótica, sem retorno aos patrocinadores, em termos de eficiência publi­citária, por realizar-se num salão, que, elitista, seria inibidor da presença de pessoas, socialmente mais modestas. Sugeri então que déssemos maior amplitude ao evento, partindo para uma mostra onde os expositores fossem indústrias de toda a região, já que estávamos empolgados e ansiosos pelo sucesso do "PIa­no Asimov" em incipiente implantação. A minha proposta foi aceita, mas "o feitiço caiu por cima do feiticeiro": Fui aclamado Presidente do Comitê de Organização, com Aldemir Sobreira e João Barbosa, na secretaria e tesouraria, respectivamente. Te­ríamos o apoio do Rotary, Lions e Câmara Júnior. Esse apoio não o tivemos em bloco, mas de um ou outro filiado, entre os quais destaco os odontólogos, Luiz de Souza e Edval Almeida, Manoelito Vitorino, Francisco Moreira, Dr. Ivan Barros, mais um ou outro, que não me vem à memória. O apoio de Valdemar Aquino, gerente do Banco do Nordeste, foi decisivo, pelo seu trabalho de estimulo e persuasão junto aos industriais clientes da agência, que assistidos financeiramente, ao exporem seus produtos, promoviam, também a "conterrânea" instituição ban­cária. Tinha uma idéia geral do que seria um certame desse porte enquanto eficiente meio de publicidade, que muito visitara nas amiudadas viagens ao Sul do País e capitais nordestinas. Com as adesões que foram chegando, demos início a estrutura­ção e adaptação de toda a área coberta ou não, do Treze Atléti­co Juazeirense, (antiga sede) na Praça São Vicente. Os stands iam sendo preparados, os convites expedidos para as mais altas autoridades do país e do estado, Presidente, Ministros, Gover­nador, Secretários, Deputados, com dia e hora marcados. Indo o Dr. Luiz de Souza a Fortaleza, pedi-lhe que fizes­se um trabalho de divulgação pelos meios de comunicação, através de entrevistas e comentários. Dias depois, a complica­ção: o Delegado do Ministério da Indústria e Comércio, por tele­grama avisava ao Prefeito Mauro Sampaio - que não participava da promoção, - e aos presidentes do Rotary, Lions e Câmara Júnior, que a feira estava proibida de funcionar, por descumpri­mento das exigências legais sobre feiras e exposições. Rápido, procurei os destinatários, para que nada divulgassem. Na Pre­feitura encontrei Coelho Alves, da Rádio Iracema já senhor do assunto e pedi-lhe que não veiculasse a notícia até que voltasse de Fortaleza onde me encontraria pessoalmente com o Delega­do. Coelho Alves, juazeirófilo, mais que radialista e publicitário, sofreu os ímpetos de repórter ávido por notícias sensacionais, dando realce ao seu acendrado sentimento de juazeiridade. No silencio, um grito de amor às coisas do Juazeiro. Coelho, você aí na mansão celestial, receba aqui da ter­ra, 30 anos depois, a reiteração do meu profundo agradeci­mento. Sem a sua silenciosa colaboração, seria inevitável a de­sistência dos expositores, debalde todo o esforço despendido em '11ais de dois mil quilômetros que rodei em muitos dias de entusiástico e exaustivo trabalho; tudo desabaria, soterrando no conceito público, a minha reputação de homem confiável, con­quistada durante anos de coerência e lealdade aos compromis­sos assumidos. Em Fortaleza, pedi ao meu primo Wilson Machado, in­formações sobre quem era o Dr. Edgar Damasceno. A informa­ção foi de que se tratava de um senhor polido e acessível ao diálogo. O informe era correto, mas a proibição da feira, reafir­mada. Mostrou-me a lei que, taxativa, impunha também uma maratona burocrática, que deveria começar pelo menos noventa dias antes da abertura da exposição. Perguntei-lhe o que acon­teceria a infratores dessa Lei.
-Sofrerá penalizações variáveis, dependendo da gravidade da transgressão.
-O que o senhor faria, caso ousássemos levar à frente, o empreendimento?, - perguntei.
É uma hipótese não prevista, mas poderíamos até recorrer à ação das Forças Armadas. Estávamos em outubro de 1967. Ditadura! Fiquei quase sem alento para conversar. Lem­brei-me de que o General Dilermando Monteiro, Comandante da 10a Região, estava no Cariri supervisionando as tropas em ma­nobras. Apareceu um raio de esperança, mas não o externei. Encorajei-me para reiniciar o diálogo:
- Senhor Delegado, está tudo pronto para a abertura do evento, convidei as mais altas autoridades, inclusive o Presi­dente e os Ministros, o Governador, Secretários, o certame épatrocinado por clubes de serviço sem fins lucrativos, ignoráva­mos a Lei; o "Diário da Republica," nem os juízes e promotores o recebem; num país com enorme contingente de analfabetos é até irônica a chapa "entrará em vigor na data da publicação no Diário Oficial", e que ninguém poderá alegar ignorância da Lei, e quejandos. Sei que o senhor entende tudo, mas eu lhe digo, que não é concebível que alguém seja penalizado por querer pro­mover a sua terra, a sua região, o que é sem dúvida, um patrió­tico esforço de integração no contexto do País. Senti que o Dr. Damasceno se sensibilizara com os meus argumentos, mas que nada podia fazer. Fui em frente, e arris­quei:
- Se alguém tiver de ser punido porque deseja promover a sua terra, que seja eu, pois sou o mais empolgado e compro­metido com a iniciativa. Vislumbrei na sua face bem menos anu­viada um tênue ar de riso. Continuei.
-Eu queria que o senhor, sem se julgar ofendido, permi­tisse usar sua máquina, papel e carbono, para oficiar ao Sr. Mi­nistro, relevando a sua vigilância quanto ao cumprimento da Lei, mas pedindo consentimento especial para o nosso caso. Ele acedeu sorrindo, e ainda mandou o ofício no malote oficial. Fiquei aliviado, mas precisávamos de dinheiro para evitar falta de recursos na reta final. Encontrei com o ilustre economista juazeirense, Or.. Itamar Pereira de Matos, que era da Secretaria do Planejamento, pedi-lhe ajuda e em tempo re­corde, agilizando a tramitação burocrática, entregou-me na mão. um cheque de três mil e duzentos cruzeiros, lamentando que a verba para esse fim já estivesse esgotada. A realização do certame não estava assegurada, mas confiando num desfecho feliz, fui em frente com os companhei­ros. Visitei o Gal. Oilermando Monteiro na residência do Sr. JoséMaria de Figueiredo, falei da nossa feira, sem qualquer alusão ao incidente de ordem legal, ofereci-lhe uma área, pedindo-lhe que a utilizasse para a exposição de armas e apetrechos béli­cos. Aceitou agradecido. No dia aprazado, abriu a feira, o Vice­ Governador Elery Barreira, no dia seguinte chega o Dr. Damasceno, sorridente, com a credencial de representante do Sr. Mi­nistro da Indústria e Comércio. Por iniciativa de Dona Zuíla Morais, numa palhoça, fun­cionou a boate "Maria Bonita," onde os militares, uma noite, jantaram e dançaram com a licença daquele "SENHOR GENE­RAL", como a oficialidade se referia ao saudoso comandante, que também, democraticamente, se divertiu a valer. Houve um show com Caubi Peixoto e Ângela Maria, su­cesso absoluto. Tivemos stands que dignificariam qualquer Ex­posição. A FIC, ainda hoje é lembrada com saudade pelos da­quele tempo, foi trabalhosa, mas para mim, particularmente, trouxe a deliciosa sensação que se tem, quando numa partida de Xadrez, ante iminente derrota, com um só e inspirado lance, passamos para uma posição vencedora. Não foi a primeira vez que me vi quase derrotado e terminei vencedor, em situações idênticas, embora de menor significado social, com otimismo e bom senso. Aos setenta e quatro anos (hoje 77) nunca me senti der­rotado, tombei, caí, me levantei, "sacudi a poeira, dei a volta por cima." Graças a Deus! Tudo bonito, mas o nosso sofrimento moral ninguém soube nem podia saber e muito menos avaliar. Sim... aquele "I", no título é algarismo romano. A Lei proíbe o uso de algarismos arábicos, para designar a ordem seqüencial de feiras e exposições. Isso eu aprendi. A nossa era a 1ª. FIC. Quem quiser fazer a segunda, fique sabendo. Essa, a minha gratuita contribuição aos interessados".


Foto 3: Visita do Gen. Dilermando Gomes Monteiro, Comandante da 10ª. Região Militar (Fortaleza) à I Feira Industrial do Cariri - FIC, no Treze Atlético Juazeirense, 18.11.1967: Da esq. para a dir. – João Batista Menezes Barbosa, Dr. Luiz de Souza, José Teófilo Machado, Carlúcio Pereira, Aderson Borges de Carvalho, Gen. Dilermando Monteiro e Dr. Mauro Sampaio. Foto 4: Estande do artesanato na I Feira Industrial do Cariri - FIC, no Treze Atlético Juazeirense, 11.1967: Da esq. para a dir. – João Batista Menezes Barbosa, Eliseu Manoel Damasceno, Lourdinha Brito, José Wilson Silva, Maria Correia e Aderson Borges de Carvalho.


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