FRANCISCO MURILO DE SÁ BARRETO completaria HOJE, 81 anos.
Vida longa em nossos corações... Vida eterna na casa do Pai...
(CV). Não há dúvida alguma que pelo início dos anos 70, quando já amiudávamos a convivência com o vigário, sua cabeça estava feita para a necessidade de um tratamento inovador, e muito renovado, no que seria a Pastoral da Romaria. Ouvíamos frequentemente suas queixas contra muitos: a insensibilidade dos governos que não provinham à cidade as condições mínimas para receber as grandes massas; a indiferença do clero do Cariri com estas necessidades de atenções ao povo de Deus; os comerciantes inescrupulosos que exploravam desde as péssimas acomodações dos ranchos improvisados e o próprio povo da cidade que assistia perplexo o crescimento vertiginoso das romarias, e no geral, com muito alheamento. Contudo, ouvíamos expressões de alento como para dizer-nos: “Juazeiro é romeiro só.” Num dos sábados de 1972, veio dele uma expressão mais forte: “Eu não tenho dúvida: Pe. Cícero está invadindo o mundo...”
(CVI). No dia 15.05.1971, Daniel Walker levou para a reunião do sábado, com a presença de José Carlos Pimentel, alguns indicadores preocupantes da pobreza de Juazeiro do Norte, marcas bem profundas da nossa miséria. Ao se falar do que tinha sido a promessa da energização do Cariri - a redenção, era notório que socialmente aqueles modestos dividendos ainda não se distribuía em serviços e bem estar comunitário. A massa de salários ainda conduzia a renda per capita baixa e ainda não se rompera o círculo fechado da concentração. Naquela época, dez anos depois de sua inauguração, a energia só chegava a 6.000 domicílios de Juazeiro do Norte, dos 22.000 que a cidade possuía. Pelo mote, se continuou a analisar os caminhos de desenvolvimento da cidade, sempre centrada no bom e no sofrível da administração pública de Juazeiro do Norte. O vigário era tristeza só...
(CVII). No primeiro dia do ano de 2002, ele me diria depois, às 18h houve uma concelebração no Horto, em ação de graças pelo 56º aniversário do novo bispo diocesano, D. Fernando Panico. Como anfitrião, Pe. José Ventureli pediu ao Murilo para fazer a saudação da comunidade. E ele usou um texto muito feliz de Rachel de Queiroz (A Casa é sua): “Visitante bem querido / Pode entrar, a casa é sua / Ah! É tão bom nesta vida / Abrir a porta da rua / Como quem abre um abraço / Dizendo assim como eu faço / “Entre a gosto, a casa é sua”. / Casa pobre, casa branca / Caiada de branca areia / Mas muito sincera e franca / Apesar de pobre e feia. / Terra de gente que medo / Nunca aprendeu o que é / Que faz do rifle um brinquedo / Só tem no mundo uma fé / Que é seu santo padroeiro / Meu padrinho em Juazeiro / São Francisco em Canindé. / Com pouco que Deus nos dá / Casa de pobre contente; / Um prato de mucunzá / Um gole de café quente / Uma rede branca e macia / E junto a nós, todo dia / Alguém que goste da gente. / Tendo isso, o mais é nada / Pode vir inverno ruim / Que a gente diz conformada / “desgraça pouca é tiquim”.
(CVIII). A morte era algo da qual preferíamos não falar. Bastava ouvir a sua resenha do necrológio que sempre vinha nas reuniões de sábado, através do seu dedicado serviço pastoral, quando manifestava por cerimônias de sepultamento e missas, o conforto que levava às famílias. Mas, para nós havia uma coisa respeitável ao seu silêncio, com a morte trágica de seu irmão, Antonio Édio (foto), ainda estudante universitário, do curso de odontologia, num desastre automobilístico, em 1973. Era um sentimento que entendíamos sempre que falava da efemeridade da felicidade: algo que não se pode contar por muito tempo. Um dia ele me falou como conseguia forças para superar esta saudade, e não era sem razão que rezava: “Senhor, eu vos peço: sustentai-me por Vossa Graça. Daí-me força e coragem. Quero vencer com Vossa Graça...”
(CIX). Pe. Murilo era um grande admirador da sétima arte. De vez em quando ele era visto (e os espectadores faziam uma festa) nos cines de Juazeiro, mas era nais frequente a sua presença no Cine Educadora do Crato porque lá acontecia uma sessão vespertina (às 16h), que não existia nos cinemas daqui. Acompanhavam-no sempre Daniel Walker, José Carlos Pimentel e seu fiel escudeiro Antônio Calábria. Ele gostava de filmes com Charles Bronson, Clint Westwood, Franco Nero (era a época dos bang-bangs italianos). E a propósito, ainda em 1967 ele pensara mais seriamente a ter esta experiência de cinema diocesano em Juazeiro do Norte. Foi daí que veio crescendo a sua idéia de aproveitar o tempo muito ocioso do Círculo Operário São José, pegado à Casa Paroquial, e transformá-lo num cinema. A idéia ganhou a simpatia de entusiasmadas pessoas, especialmente na imprensa. Um deles era o Aldemir Sobreira, que inclusive via aí a possibilidade de uma sala com alguma reserva para cinema de arte. A notícia terminou indo parar na edição de 02.04.1967 do Tribuna de Juazeiro. Anos depois eu lhe perguntei por que aquilo não tinha ido para frente, e a resposta veio simples: “forças ocultas”.
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