15 de setembro. Juazeiro do Norte, o chão sagrado dos nordestinos, parece um formigueiro humano. Um mar de romeiros invade a cidade, peregrinando pelas ruas, ajoelhado-se nas igrejas, fazendo compras e dobrando a população nativa. Neste dia Juazeiro parece um mercado persa. Aqui de tudo se vende. Todos disputam a mesma clientela numa verdadeira exploração da fé. Até os políticos se aproveitam. Ao meio-dia, na Basílica de Nossa Senhora das Dores, a Padroeira da cidade e a Mãe Protetora de todos, a multidão se posta com indescritível piedade dentro e fora da igreja para ouvir a palavra de Deus proferida pelo pastor do rebanho que culmina sempre, conforme a tradição criada pelo saudoso vigário Monsenhor Murilo, com a singular bênção dos chapéus, o objeto de palha usada na cabeça do autêntico romeiro nordestino. O espetáculo é majestoso, único no mundo e só existe aqui. Tem uma beleza plástica impossível de ser descrito em palavras, pois é feito para ser visto e não descrito. À tardinha, quando o sol se põe, deixando uma penumbra de luz de bronze sobre o céu da Nação Romeira, um cordão humano “se arrastando pelo chão” percorre em procissão conduzindo o carro andor da Padroeira pelas ruas da cidade para voltar ao ponto onde tudo começou – a Basílica, o lar da Padroeira do lugar. Ao passar pela Rua São Pedro, o carro andor estaciona para receber as homenagens do comércio sob o pipocar de fogos de artifício e chuva de pétalas de rosa, uma espécie de preâmbulo do outro show que pouco depois irá acontecer quando a santa chegar de volta ao trono. Aí, todos, na mais completa fé cristã reza as orações finais numa piedosa prece de agradecimento. Tendo a Lua como testemunha, o tão aguardado momento chegou e depois é hora de partir, de voltar para casa, um ritual seguido tanto pelos nativos como pelos romeiros.
Isto é o impacto da romaria!
16 de setembro. A cidade que até ontem estava apinhada de gente de fora já está de volta ao seu estado normal, assim que os primeiros raios do Sol tingem de ouro o céu de Juazeiro, a terra do Padre Cícero. O lixo que inundava as ruas e praças desapareceu. As barracas montadas para expor mercadorias não existem mais. As igrejas estão abertas de novo para receber a sua clientela habitual. A cidade está sem romeiro e parece triste.
Isto é a magia da romaria!
Só Juazeiro é assim.
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