Pollyanna moça, leitura feita por várias gerações
Este livro, que hoje destaco, foi escrito por Eleanor H. Porter e traduzido por Monteiro Lobato. Na época da minha adolescência, fase difícil que todos nós enfrentamos, que hoje é chamada de aborrecente, a famosa fase dos questionamentos, dos dissabores, das incertezas, das discórdias, das incompreensões, do desejo de independência. Eis que chega às minhas mãos, por indicação de uma amiga, este abençoado livro, a sétima edição, 1966. Digo assim, pois me trouxe a grande lição de como encarar a vida com alegria, apesar dos problemas que enfrentamos no nosso dia a dia. Conta a história da protagornista-título, a qual ficou órfã de mãe ainda criança, sendo criada por seu pai que era um pastor missionário. A filosofia de vida de Pollyanna é centrada no que ela chama o “Jogo do Contente”, uma atitude otimista que aprendeu com o pai. Esse jogo consiste em encontrar algo para se estar contente, em qualquer situação por mais difícil que seja. A origem dele aconteceu por ocasião do Natal, quando Pollyanna, esperava ganhar uma linda boneca e acabou recebendo um par de muletas. Ela chorou muito, ficou muito triste, pois não estava preparada para receber tal presente, foi uma grande decepção. O pai vendo-a abatida e melancólica, imediatamente aplicou o jogo, argumentando para ela, ver somente o lado bom dos acontecimentos, nesse caso, ficar contente porque disse ele: "Nós não precisamos delas!". Com esse ensinamento transmitido por ele, Pollyanna se entusiasmou e se adaptou tão rápido passando a praticá-lo. Seu jeito espontâneo e meigo irradiava alegria por onde passava. Com a morte de seu pai, ela teve que morar num orfanato, das Irmãs Auxiliadoras como ela chamava. Apesar da perda do pai e de ter que morar no orfanato, continuou a jogar o jogo do contente dizendo: ainda bem que fui acolhida pelas irmãs. E lá ela distribuía simpatia e bom humor. As freiras questionaram o seu comportamento apesar dos infortúnios e ela respondia: “É porque eu sempre estou jogando o jogo do contente! Não sabem. É achar qualquer coisa boa em tudo que nos acontece de mau”.
E assim ela foi levando a vida contente e feliz. Inesperadamente teve que ir morar com uma tia solteirona, por sinal muito rabugenta, que a acolheu não muito satisfeita. Esse jogo praticado por ela a protege das atitudes severas e desaprovadoras da tia. Quando sua tia, que ela chamava de tia Polly a colocou num sótão abafado, ela mesmo assim ficou feliz apreciando a bela vista e a paisagem que se descortinava daquela altura. Quando a tia tentou puni-la por estar atrasada para o jantar, dizendo que ela só iria comer pão e leite, na cozinha, com a cozinheira, Nancy, Pollyanna agradeceu-lhe festivamente dizendo que gostava de pão e leite, e também gostava de Nancy. A leitura desta emocionante estória me trouxe um grande exemplo de superação e de uma grande auto estima. Assimilei e apliquei com bastante ênfase a filosofia de Pollyanna nos momentos bem difíceis de minha vida. Foi uma influência benéfica que facilitou de diversas maneiras a melhor forma de encarar os problemas, de ver por outro ângulo o que estava me afligindo e me preocupando. O tempo foi passando, as mudanças acontecendo, muitas responsabilidades e deixei para trás este eficaz medicamento. Caiu no esquecimento, junto de vários livros na minha pequena biblioteca. Eis que por acaso, quando me deleitava lendo para a minha amiga Adelina Cordeiro, minha vizinha, que por anos esteve acamada e tendo perdido a visão, sempre à tarde a visitava para ler capítulos de livros religiosos para ocupar um pouco o seu tempo tão ocioso já que ela não tinha condições de ler. Durante um bom tempo pratiquei esta missão com muita alegria. Os meus livros das histórias dos santos, Santa Teresinha, Santo Agostinho, São Bento, Santa Rita de Cássia, Santa Bernadete já os tinha lido todos, passei para revistas, com pequenas biografias dos santos também esgotaram. Então, perguntei pra ela se ela aceitava que lesse um romance, frisei bem que era um romance sadio, que talvez ela gostasse. Ela aceitou a minha opinião e assim comecei a leitura. No início, recordo bem que ela não estava demonstrando interesse, bocejava algumas vezes, mas não desanimei, insisti com mais um capítulo. Ah! De repente ela começa a sorrir, um sorriso tímido, de quem estava envergonhada de admitir contentamento. Aí sim, estourou a alegria, o entusiasmo. A leitura continuava por etapas, três ou quatro capítulos por dia para não se tornar cansativo. Como ela gostou desta leitura! Quando me aproximava do quarto onde ela estava, dizia: “Veio jogar o jogo do contente? Sabe, que passei até agora fazendo este jogo tão maravilhoso. O dia pra mim não está cansativo, fiquei aguardando sua chegada, para ouvir mais belezas da minha querida Pollyanna”. Foi gratificante saber que por algum tempo este jogo a fez feliz e como ela aguardava prazerosamente toda tarde o prosseguimento da leitura. No mês de abril deste ano ela faleceu, mas de vez em quando me bate aquela saudade do nosso convívio, e da manifestação tão carinhosa que ela tinha para comigo, dizendo: "Já chegou a mensageira da fé?” Neste corre corre desmedido, é bom que se dê uma parada e se contagie com o alto astral de Pollyanna. Vale a pena conhecê-la e passar a usar no nosso cotidiano este remédio muito eficaz aplicado por Pollyanna.
COMENTÁRIO
- Eu como juazeirense nato, que viveu e presenciou as Romarias e que você recordou perfeitamente, não poderia deixar de parabenizá-la, principalmente pelas riquezas de detalhes e fatos que ocorriam durante essas Romarias em Juazeiro. Parabenizo também, pelas fotos publicadas, as quais nos mostram o que acontecem nas Romarias atuais. Francisco Soares Balbino. Cascavel-CE
- Excelente matéria, a forma simples como são narrados os acontecimentos, me fez viajar no tempo. Fiquei feliz e orgulhoso com a foto em que eu e minha irmã Poliana desfilamos pela Escola Técnica Dr. Diniz, cujo diretor, o saudoso tio Getúlio era um exemplo de patriotismo, civismo e disciplina.
Zezo Ibrahim Grangeiro Carneiro, São José de Ribamar-MA
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