Desfile de 7 de Setembro, de antigamente
A comemoração de 7 de Setembro em nossa cidade, em tempos idos, era um espetáculo bonito de se ver. As ruas ficavam abarrotadas de gente, todos empolgados agitando bandeirinhas nas mãos, aguardando com entusiasmo e curiosidade o desfile dos famosos colégios: Ginásio Salesiano São João Bosco, Ginásio Monsenhor Macêdo, Escola Normal Rural, Ginásio Municipal Antônio Xavier de Oliveira, Escola Técnica Dr. Diniz, Grupo Escolar Padre Cícero, Grupo Escolar Paulo Sarasate. O Tiro de Guerra abria o desfile com os atiradores desfilando com passos largos, com postura de militar, impressionava e causava emoção. Era uma forma de demonstrar o amor à Pátria, a bravura e destemor. Logo após a sua apresentação os atiradores se infiltravam na multidão para organizar, evitando a invasão da rua para que o desfile transcorresse sem nenhum incidente. No palanque montado na Praça Padre Cícero, cheio de autoridades, começava através do anúncio do radialista que transmitia a solenidade a escola que iria se apresentar. Por sequência, as de porte menor, que funcionavam somente com o primário. O Grupo Escolar Padre Cícero desfilava geralmente com a fanfarra emprestada de outro colégio, algumas representações eram apresentadas. Ao concluir o desfile todos aplaudiam. O Grupo Escolar Paulo Sarasate sempre tinha o pelotão dos Escoteiros, de bailarinas e nunca faltava o carneirinho com a maleta de primeiros socorros amarrado no seu lombo e um casal de crianças vestidos de enfermeiros. Como era bom ver a simplicidade, a espontaneidade das crianças. O Ginásio Monsenhor Macêdo recorria à fanfarra de outro colégio, as alunas despontavam desfilando numa elegância sem par, passos iguais, saia azul, blusa branca de mangas compridas, chapéu de ráfia branca com uma fita de gorgorão vermelha e no pescoço debaixo do colarinho a fita vermelha entrelaçada e o escudo sparge lumen no meio do laço. Todas compenetradas, exercendo com muita beleza e respeito o patriotismo que nesta época era enfatizado nas escolas. Nisso começava a ecoar por toda rua o som ensurdecedor das fanfarras que disputavam os primeiros lugares. Todas elas se esmeravam durantes meses nos ensaios, nas coreografias para que as executassem com perfeição sem nenhuma falha na apresentação perante as autoridades. As cordas de isolamento que eram colocadas para que os presentes não invadissem o local da passagem das escolas, porém vez por outra era empurrada de um lado para o outro, algumas vezes as cordas de tanto forçarem eram rompidas. Mas mesmo assim o brilho do desfile não era prejudicado. A Escola Normal com a farda, saia de pregas de cor vinho e blusa de mangas compridas e gravata da cor da saia. O pelotão das bandeiras todas tremulando, a imagem não se perdeu ainda na minha memória. Os alunos bem perfilados e elegantes fazendo jus a educação recebida da diretora Amália Xavier de Oliveira. A fanfarra se destacava. Em seguida vem o Ginásio Municipal Antônio Xavier de Oliveira que teve como primeira diretora a professora Assunção Gonçalves que introduziu nesta escola e que causou muitos elogios a sua postura e a dos professores de se posicionarem no final dos pelotões, nada de ficar vigiando ou dando ordens aos alunos. Todos desfilavam com brilhantismo e ordem, bagunça, indisciplina nem pensar. E quando ecoava o som das cornetas, dos tambores e dos tarois , o arrepio chegava. Chega a vez da Escola Técnica Dr. Diniz, os membros da fanfarra durante quase um semestre ensaiavam, destacando-se com o som de músicas conhecidas que traziam para o público a surpresa e o encantamento de uma linda apresentação. Lembro que o diretor Getúlio Grangeiro tinha um enorme orgulho da fanfarra e cada ano investia mais na aquisição de novos instrumentos, e instrumentos até que não tínhamos na nossa região, como por exemplo, a Lira, que emitia um som divinal. O pelotão que iniciava o desfile ostentava com muito garbo e altivez o escudo da escola. E finalmente, a tão esperada escola, o Colégio Salesiano São João Bosco que durante anos galgou o primeiro lugar, com apresentação de carros alegóricos todos criados pelas mãos habilidosas do saudoso professor Luiz Magalhães. A elegância e beleza da farda, antes azul e branco, depois branca com detalhes e o nome de cor vermelha. A fanfarra com as lustrosas cornetas, tambores, taróis, o zabumba que quando dava o toque, estrondava, dando uma sensação de que o chão estava tremendo. (Recordo os nomes de dois zabumbeiros famosos: Wilton, conhecido como Bolinha, filho de seu Joaquim Mancinho e Hélio, filho de seu Antônio Firmino. Por causa do tamanho e peso do instrumento, somente pessoas robustas, como as citadas, poderiam conduzi-lo). Ah! Como os alunos se exibiam, se orgulhavam de fazer parte deste estabelecimento de ensino. Todos perfilados, marchando num ritmo exato, não olhavam nem para o lado, para não perderem o perfil de igualdade. A ala das bandeiras, todas tremulando nas mãos enluvadas dos que as seguravam formando uma onda multicolorida de rara beleza, enquanto as bandeiras batiam no público levemente. Não podia faltar o pelotão de belos cavalos, todos enfeitados, obedecendo ao ritmo da música da fanfarra. Outro detalhe importante que precisa ser ressaltado é que os alunos retornavam ao colégio, desfilando e lá chegando é que se dispersavam. Educação, sim! Disciplina, sim. Obediência, sim. Os desfiles atualmente não despertam mais o entusiasmo, a euforia, a vontade das pessoas de se deslocarem de casa para assistir. Os tempos mudaram, o patriotismo desapareceu, o que vemos são alunos mascando chiclete, com garrafas de água na mão, com roupas impróprias para um desfile que está homenageando a nossa Pátria, o nosso País.
Abaixo mostro uma seqüência de fotos de algumas das escolas citadas. É uma pena não termos mais fotos do Ginásio Monsenhor Macêdo e nenhuma do Ginásio Municipal Antônio Xavier de Oliveira e das outras escolas citadas no texto. Estamos disponíveis para receber fotos de quem as possuir, mande-nos que publicaremos.
Fotos dos arquivos de Gera Grangeiro, Rejane Gonçalves Grangeiro, Iane (esposa de do Dr. Francisco Neri e do Juaonline (Renato Casimiro/Daniel Walker)
Comentários recebidos:
Neuma,
Que matéria maravilhosa sobre a família de D.Minervina. Você consegue nos transportar para nossa infância maravilhosa na rua São José. Continue nos presenteando com seu talento.
Beijos da prima,
Margarida Macedo, Fortaleza
Querida Neuma,
Como é bom relembrar o passado através de suas crônicas escritas no domingo. Voltei e como voltei ao passado vivido na Escola Normal. Relembro a grande fila que se formava na hora do recreio em frente à cantina, onde disputávamos o pão com doce de leite, a fatia dourada e bolo de puba, todos feitos pelas mãos de fada da De Jesus. Todas as vezes que vinha passar as férias em Juazeiro, após 30 anos vividos em Fortaleza, quando encontrava De Jesus na missa do Socorro, sempre a cumprimentava assim: "E o pão com doce"? É mesmo que está ouvindo aquela gargalhada e a resposta que ela sempre me dava: ô menina danada! E tu chegou quando? Aparece lá em casa que tem doce de goiaba com leite. Vixe Maria! só em relembrar fico com a boca cheia d'água. Que saudade sinto dos tempos vividos.
Parabéns! Continue nos proporcionando estes flash's de felicidades.
Beijos,
Rosângela Tenório
Olá prima.
Como não poderia deixar de ser..... o seu artigo com certeza trouxe um "monte" de lembranças da rua São José. E essa linda homenagem a família de D.Minerva, realmente foi muito justa. Parabéns!!! Elas fizeram parte de nossas vidas com toda sua bondade e dedicação. Pena que cheguei tarde e fui embora cedo. Mas, mesmo assim ainda deu para curtir um pouco e ficar registrada na minha memória todas as lembranças de momentos da minha infância, junto a vocês.
Continue assim nessa viagem onde os passageiros dessa história somos nós.
Marleide Barbosa Guimarães, Fortaleza
Voltei no tempo. Quanta saudade! Bons momentos. Sempre fui muito paparicada por todas elas pois tinham pena por ter perdido papai tão cedo. Tenho muita gratidão por cada uma. Chorei lembrando da rua onde nasci. O tempo não perdoa. Beijos e continue escrevendo o que está na nossa memória.
Minha irmã querida e especial.
Muito beijos.
Analuce Macedo Caneca, Fortaleza
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