sábado, 16 de julho de 2011

Tenho saudade!
De padre Murilo, quando o conheci era chamado assim. As lembranças que tenho dele são de um padre brincalhão, amigo, solidário e próximo dos paroquianos.  Lembro ainda da notícia de como ocorreu o acidente que ele sofreu em 1961, dirigindo um jeep. Foi um alvoroço. Estudava nesta época no Colégio Domingos Sávio e uma turma se reuniu  e foi visitá-lo no Hospital São Lucas, que ficava próximo à escola. Ele bem machucado, mesmo assim conseguiu sorrir e nos saudar agradecendo. Quando criança e já mocinha o tratamento que ele costumava usar comigo e com as minhas irmãs num sentido carinhoso, era: “Olha as cobrinhas de Lulu”. Ele sempre foi presente em muitos momentos de minha vida e de Daniel. Foi um torcedor entusiasmado pelo meu namoro com Daniel. Na época que Renato, Daniel e José Carlos lhe apresentaram o projeto da Exposição Fotográfica, ele não pestanejou, imediatamente ofereceu o Edifício Dom Pires e se prontificou para o que fosse necessário, pois podiam contar com ele. E foi um verdadeiro sucesso a Exposição, a frequência de visitantes superou as expectativas. Aconteceu a 2ª Exposição e não ficou aquém da anterior. Quando oficiamos o nosso noivado, tivemos o cuidado de procurá-lo para abençoar essa nova etapa de nossa vida. Ele ficou muito feliz e nos parabenizou. Quando o irmão mais velho de Daniel, Valter, faleceu em São Paulo, ele foi um dos primeiros a chegar prestando sua solidariedade. Na morte de Samuel, piloto da aeronáutica,  outro irmão de Daniel, padre Murilo veio logo prestar seu ombro amigo e foi quem levou Daniel ao aeroporto, pois o acidente aéreo em que Samuel morreu ocorreu em Ponta Porã, MT, mas o funeral seria em São Paulo, local onde residia. Padre Murilo também oficializou o nosso casamento, um casamento simples, sem nenhuma pompa, mas com a alegria e a descontração do celebrante. Batizou os nossos filhos, Michel e Daniel Junior. Participou de aniversários, e da primeira Comunhão deles. Na comemoração das nossas Bodas de Prata  a celebrou com muito prazer, mesmo já tendo programado a sua viagem de férias, no mês de fevereiro, logo após a celebração viajou. Fui uma das peregrinas na viagem organizada por ele pela Europa, 26 dias, visitando Portugal, Espanha, Suíça, França e Itália em comemoração ao Centenário da Missa celebrada por Padre Cícero em Roma, na igreja de São Carlos Barromeu, uma viagem maravilhosa, abençoada mesmo. Só que tinha um porém, sentia muita saudade de Daniel, padre Murilo me vendo chorosa, o primeiro cumprimento que ele fazia no início da manhã quando me encontrava, colocava a mão no meu ombro como se estivesse me protegendo e dizia: “Já falou com o seu amado?” e eu não me controlava e começava a chorar. Ele dizia: “Não chore, Neuminha, está bem pertinho de você voltar, aguente mais um pouco”. Todo sábado Daniel tinha um programa oficial com ele, de visitar o Juazeiro, percorrer lugares que estavam crescendo e se desenvolvendo, e como ele admirava e se alegrava, vibrava mesmo. O papo era gostoso e descontraído. Aproveitava também para visitar pessoas que se encontravam doentes, tirava renovação, e nesses eventos se fartava com as guloseimas que ofereciam, dizia que não queria desgostar os anfitriões. Viagens para Alagoas sempre Daniel o acompanhava, era seu guardião. Dona Quininha dizia: “Se Daniel vai nesta viagem, fico tranquila, porque sei que ele cuida do Padre”. Próximo da comemoração dos meus cinquenta anos ele foi convidado para gravar uma pequena mensagem para mim, como ele falou bonito, expressou com palavras e com gestos esse modelo de casamento que nós vivíamos, que admirava muito a nossa união e que nós éramos um exemplo para muitos casamentos. O batizado de nossas netas, Heloísa e Isadora, também foi ele quem oficializou, e até brincou porque já éramos avós. Depois de sua morte quando vou assistir Missa na Basílica Menor de Nossa Senhora das Dores, antigamente conhecida como Matriz de Nossa Senhora das Dores, me aperta uma saudade danada e passa todo este filme, as leituras que fazíamos na missa, as suas homilias belíssimas que tocavam o coração de quem o ouvia, a pontualidade no horário das celebrações, e no final da missa ele ficava aguardando os fieis para tecer algum comentário, desejar uma feliz semana ou dizer uma pequena brincadeira. Esta aproximação dos padres com os paroquianos nós não sentimos mais. O vigário cumprimentar alegremente, esperar na sacristia, começar pontualmente a celebração das missas, principalmente a que costumo assistir de 9h, não acontece e faz tempo. Estranho também o rodízio de celebrantes, mesmo com um número maior de padres, tenho assistido missas de padres de outras paróquias, vez por outra. Na época de padre Murilo, acontecia esse fato quando gozava férias. No tempo dele o altar era  bem ornamentado, com arranjos bonitos, coisa que não vemos mais. A alegria, a espontaneidade, uma boa acolhida são imprescindíveis para o desempenho profícuo do bom pastor, que leva tão a sério sua vocação voltada para Cristo, como ele dizia com muito orgulho: “O melhor de minha vida, o melhor de meu sacerdócio, o melhor de minha formação, investi-o na proposta de Evangelizar nossos irmãos”. O padre que nos deixou muitas saudades e lembranças, e que deixou esse conselho que sigo a risca, sempre no final da missa ele dizia: “A bênção minha Mãe das Dores, a bênção Meu Pai do Céu, e lá na colina do Horto, a bênção meu padrinho Cícero”, e argumentava ainda: “Vocês lembraram de dar a bênção ao seu pai e a sua mãe?”. Não esqueço jamais desses conselhos bondosos de um padre que dedicou sua vida a pastorear seu rebanho com um grande amor paternal.





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