O dia 24 de junho assinala os noventa anos da existência de Maria Zuíla e Silva Moraes. É dia de festa. Não somente para seu círculo familiar, simplesmente, cercada pelos filhos, netos e bisnetos, mas também deveria ser para esta cidade um tanto desmemoriada que tem a obrigação de venerar esta criaturinha de Deus que veio para empreender entre nós uma das mais profícuas jornadas de dedicação ao próximo que se conheceu em tantas e muitas léguas ao redor do Juazeiro.
Hoje, abalada em sua saúde, certamente também cansada pela incompreensão que, a rigor, pouco lhe afetava na extenuante atividade social que exercia – como a vi enérgica e batalhadora - Zuíla Moraes vive recolhida à privacidade do convívio afetuoso de sua família. Ela teve uma vida inteiramente voltada para a educação e assistência às pessoas, de um modo geral. Sua longa luta teve sempre o mesmo objetivo, e que graças à sua perseverança e fé em Deus, conseguiu atingi-lo, permitindo hoje que muitas pessoas sejam ou tenham sido grandemente beneficiadas em diversos sentidos, por seus serviços.
Maria Zuíla Saraiva e Silva nasceu nesta cidade de Juazeiro do Norte, em 24 de junho de 1921. Era a primogênita dos filhos do casal José Pereira e Silva (Zeca Marcolino) e Otília Saraiva e Silva, de família numerosa com os irmãos: Zaíla, Neusa, Juraci, Zeneida, Audísio, Zuleide e Luiz. Fez seus estudos, inicialmente, numa escola particular sob a direção de Dona Adelaide Mendonça, onde foi alfabetizada, em 1930. Ingressou no Grupo Escolar Padre Cícero, onde cursou todo o primário da primeira à quarta série (de 1931 a 1934). Transferiu-se para a Escola Normal Rural, ali cumprindo os dois anos complementares ao segundo grau dos seus estudos (entre 1935 e 1936), para sequenciar com o ingresso no Curso Normal Rural, em três anos (de 1937 a 1939). No dia 19 de novembro de 1939, Zuíla se tornou professora ruralista em cerimônia acontecida no Auditorium da Escola Normal Rural, sendo participante de uma turma de 23 professores, em sessão solene presidida pelo Dr. Plácido Aderaldo Castelo. Foram seus colegas de turma, dentre outros, Elias Rodrigues Sobral, Ozir Moreira, Alzira Pereira, Maria Rodrigues, Stela Ribeiro, Geni Machado, Idelvisse Belém e Iracema Magalhães. Maria Zuíla e Silva Moraes, com dezenove anos incompletos, casou com Alberto Bezerra Moraes em 21.06.1940. Entre os anos 40 e 50, Zuíla e Alberto viveram a primeira fase da grande alegria com a família que constituíram: cinco “Marias” (Otília, Célia, Márcia, Sílvia e Angela) e um “José” (José Carlos).
Em 1952 fundou e passou a dirigir o Instituto Domingos Sávio. De outras iniciativas devemos mencionar: a fundação e a direção da Escola Parque Dr. Joaquim de Figueiredo Correia, em 1963, que era mais conhecida como Escola de Artes Industriais; a fundação e a direção do Instituto Psico-Pedagógico Eunice Damasceno, em 1967; a fundação e a direção da Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais, APAE, em 1968, por cujo trabalho será eternamente lembrada; e também, pela direção do Centro de Reabilitação do Cariri “Luís Moraes Correia”, em 1980. Da lembrança de tantas ações meritórias de Zuíla Moraes, não pode deixar de ser lembrada a existência do Clube de Mães, que funcionou anexo ao Instituto Maria Gorete, precursor do Domingos Sávio. Ali as futuras mamães recebiam acolhimento e eram capacitadas para habilitações domésticas de costura e bordado, voltadas para a confecção de roupinhas de bebê, ao tempo em que eram assistidas com noções de puericultura, especialmente sobre saúde, higiene e cuidados especiais com os filhos.
O Instituto Maria Gorete foi também importante como ponto de cultura dos adolescentes entre o final dos anos 50 e início dos anos 60, quando Zuíla reunia a juventude para oferecer-lhe espaço acolhedor de convivência, clube de leitura e jogos educativos, na sua sede da Rua Padre Cícero. Era como chamávamos o Clube do Sesinho, nome emprestado de um dos maiores sucessos editoriais de revista infantil no Brasil, entre 1947 e 1960. Dona Zuíla assinava esta revista com muitos exemplares e disponibilizava na sala de leitura. Também fomentava a assinatura, pois era uma publicação de grande expressão educacional, a partir de um elenco notável de personagens que formavam uma turma muito admirada (Sesinho, Bocão, Nina, Ruivo etc). O Clube do Sesinho se reunia três vezes por semana, entre 19 e 21 horas. A fórmula era simples e muito atraente: proporcionava leitura por uma hora, e a seguir tínhamos direito a escolher um dentre diversos jogos educativos.
Zuíla participou de inúmeros eventos relacionados às instituições que criou e dirigiu, destacando-se os congressos de APAEs, Encontro Interamericano de Proteção ao Pré-Escolar, no Rio de Janeiro, em 1968; IV Encontro Interestadual da Federação Nacional das APAEs do Nordeste, acontecimento este que ela sediou em Juazeiro do Norte, em 1974. Foi domadora-fundadora do Lions Clube de Juazeiro do Norte, em 1956; e neste mesmo ano fundou o Instituto Brasil-Estados Unidos, bem como o primeiro curso de língua inglesa na cidade de Juazeiro do Norte, em 1959. Foi fundadora e Conselheira do Movimento Bandeirante em Juazeiro do Norte, a partir de 1959, no mesmo ano em que fundou e dirigiu o Ginásio Menezes Pimentel, mantido pelo Instituto Domingos Sávio, que abrigou o então primeiro curso científico da cidade. Zuíla Moraes criou também o primeiro curso de Classes Especiais, com denominação de Lar-Escola Helena Antipoff, anexo ao Instituto Domingos Sávio, em 1970. Essa escola, pioneira em pedagogia moderna (educação especial) contou com uma clinica (Clínica Leão Sampaio), para atendimentos psicoemocionais, dispondo de médicos (pediatras, neurologistas, psiquiatras) além de assistentes sociais, psicólogas, orientadoras educacionais especializadas, e técnicos em educação física). Os trabalhos eram exercidos por pessoal cujas especializações eram bem cuidadas em estabelecimentos de formação de largo conceito em grandes centros de educação especial do país.
Toda esta vida dedicada à sua comunidade foi o fruto primordial de um desejo incomum que nasceu nela e que contou com o apoio imprescindível de seu marido, e dos filhos que geraram para o mundo. Depois de cinco lindas filhas, saudáveis, de “marcolina” beleza, veio José Carlos, acometido de Síndrome de Down. Nasceu com ele o grande desafio de Zuíla e de sua família, a inspiração e a força, não só para superar o desígnio, mas para gerar todos os impulsos que os levaram juntos a realizar o que foi possível e o quase impossível na direção da promoção humana, a que tanto se dedicaram. Hoje, aos 61 anos de idade, José Carlos – ao lado de sua mãe - é a testemunha viva, silenciosa e admirada por esse exemplo coletivo de superação. O grande, o imenso troféu da vida de Maria Zuíla e Silva Moraes.
Celebramos, portanto, neste dia 24, em sua homenagem, a graça de sua existência, com a qual esta nossa terra centenária tem ainda tanto a reconhecer e a lhe agradecer. Não nos cabe esquecer, jamais, que ela é uma parte relevante desta nossa felicidade.
3 comentários:
Parabéns pela linda e muito justa homenagem prestada à D. Zuíla. Eu também fui diretamente influenciada por esta grande educadora da nossa cidade, pois sou exaluna do Domingos Sávio e trago gratas recordações da minha infância naquele estabelecimento de ensino.
Todas as vezes que acesso o Blog Juaonline é como se estivesse recebendo um presente. Sei que é muito difícil colocar o conhecimento em forma escrita e vocês o fazem muito bem.
Lendo esta matéria sobre D. Zuíla Moraes, lembrei uma frase que li a muito tempo, que diz: "O importante não é o tamanho do sujeito na luta e sim o tamanho da luta no sujeito". Dona Zuila, demonstrou para todos nós que sabe lutar com as três munições mais eficientes de todos os tempos: O AMOR A EDUCAÇÂO E A SOLIDARIEDADE.
Parabéns a todos nós, principalmente aqueles que diretamente foram beneficiados pelos feitos desta grande e lutadora mulher, que muito bem, soube manusear a arma mais poderosa (o lápis),em benefício de todos nós.
Rosângela Tenório
Como aluno e posteriormente funcionário do Instituto Domingos Sávio pude acompanhar de perto está figura amável, batalhadora, inovadora, sempre a frente do seu tempo, muitas vezes incompreendida, no entanto, com bravura desprendimento sempre acreditou nos seus sonhos e ajudou a que outros realizassem os seus, devo a ela muito do que sou como cidadão e profissional . Está presente em minha mente um trecho de uma das muitas comemorações do seu aniversário, que festejávamos como aluno e cada um apresentava alguma fala no auditório da escola, o meu em um junho muito distante dizia ...” Estamos aqui para comemorar o aniversário de nossa querida Diretora Zuila Moraes, como se as fogueiras juninas continuassem brilhando em nossos corações de alunos que somos gratos por tudo que a senhoras tem nos proporcionado, o espírito de liderança o amor, a dedicação e ...” Faz bastante tempo mais continua tão real quanto naquele dia. Parabéns!!!!
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