domingo, 19 de junho de 2011

Lembranças da Rua São José II
– Seu Francisco de Assis e dona Cesarina
 Morei bem próximo deste casal, Francisco de Assis, mais conhecido por Chico Paladar e dona Cesarina, distava um quarteirão depois da minha casa. Como passava na calçada de suas casas, tanto na calçada do lado da sombra como a do lado do sol, eles possuíam muitas casas, então quando me dirigia para a casa de titia Maroli ou de titia Odete, algumas vezes o encontrava sentado em uma preguiçosa no meio da calçada, impedindo que as pessoas trafegassem normalmente por cima da calçada, obrigando que passassem para o meio da rua. Ele muito tranquilo, bem sentadinho, nem percebia que as pessoas tinham que desviar para não bater nele ou na preguiçosa. Mas criança por sua própria natureza é inquieta e gosta de aprontar. Assim juntava uma turma, meus irmãos e primos, e a gente ficava passando de lá para cá, de propósito, somente para impinjar       (termo muito usado nesta época, hoje se costuma chamar de implicar). Certa vez, ele já estava bastante aborrecido, olhou para a gente, sentou bem ereto, tirou o chapéu da cabeça, coçou a cabeça e disse: “Vou dizer para o pai de vocês que vocês estão roubando minha paciência e não me deixam sossegado”. O que correu de menino e menina de todos os lados não foi brincadeira, todos ficamos assustados com medo de punição de nossos pais. Assim fomos reduzindo as traquinagens que fazíamos para tirar seu Chico Paladar do sério. Um fato interessante que gosto de relembrar com os meus irmãos e primos é sobre os sacos de dinheiro de papel e de moedas que seu Chico Paladar colocava para secar a fim de evitar o mofo, devido ficar muito tempo guardado. Para os nossos olhos aquilo era uma fortuna! Como despertava a nossa curiosidade ver espalhado no terraço de sua casa os montes de dinheiro. Seus filhos mais novos, da nossa faixa de idade, nos avisavam com antecedência que o dinheiro ia ser exposto ao sol. Neste dia era uma alegria, a gente ficava trepado no muro apreciando aquela ruma de dinheiro espalhada com pedras ou pedaços de tijolos em cima para evitar que voassem e seu Chico Paladar de tocaia, vigiando. A justificativa que ele dava era que não confiava em banco, preferia guardar em sua casa, pois em sua casa estava mais seguro e na hora que precisava já estava com ele, não tinha o inconveniente de depositar e de sacar. Também naquele tempo existiam aqui somente duas instituições financeiras:  Banco de Crédito Comercial e Banco do Juazeiro S/A. Depois de um determinado tempo ele mudou de opinião adquirindo o hábito da modernidade, e já na década de 70 sua esposa, dona Cesarina foi uma forte depositante da Credimus, caderneta de poupança, onde meu marido era Gerente. Conta sua filha Leô, que seu pai estava com 36 anos quando conheceu sua mãe com apenas 13 anos. Ele, um paraibano rígido, não quis muita conversa e nem namorar muito, se dirigiu para os pais dela pedindo-a em casamento. Os pais  não querendo contrariá-los achou melhor vir até ao Juazeiro pedir a orientação do Padre Cícero, se ele permitia este casamento, porque o pretendente era bem mais velho do que ela (uma diferença de 23 anos). Mas o Padre Cícero respondeu: “Vai dar certo, e eles vão viver bem, unidos até que a morte os separe”. E assim aconteceu. Padre Cícero orientou seu Chico Paladar para negociar com bananas, e disse mais: “Sua honestidade é que vai fazer você crescer”. Ele seguiu à risca o seu conselho e deu certo. Passou a vender também outras frutas, num quartinho na Rua Santa Luzia próxima a Rua Padre Cícero. De lá passou para a Rua Alencar Peixoto já com outro tipo de mercadorias, artefatos de palha, corda, balaio, chapéu de palha, agave, cesta e temperos. Esta loja funciona ainda no mesmo local e é sua filha, Doma, que que deu continuidade ao seu trabalho. Investiu também em frotas de kombis e de ônibus, mas não se animou muito, tinha muita dor de cabeça, e desistiu. Outra coisa interessante do casal foi a escolha dos nomes dos dez filhos, isso me intrigava, estranhava esta criatividade não muito usada: todos se iniciavam com a letra L: Leonor, Leocádio (Leó), Leosmar (Mazim), Lenilda (Bebé), Leonardo, Luis, Leozina (Leô), Leodoma (Doma), Lezinha (Olézia, falecida), Lucineide (falecido, o nome é assim mesmo embora seja mais comum para mulher). Sua neta Jaqueline informou o número de netos, 33.
Seu Chico Paladar era uma pessoa muito séria, não gostava muito de conversa, mas com relação à amizade que tinha por sua esposa, a maneira como a tratava servia de exemplo para muitas pessoas que moravam perto. Como eu gostava de observá-los quando se dirigiam para o armazém, ela bem baixinha, com o cabelo enrolado em um cocó preso por uma travessa e ele segurando delicadamente suas mãos. A visão é como se fosse agora, admirava e achava muito bonito eles andando de mãos dadas e ele com muito cuidado protegendo-a. Ela foi uma forte colaboradora nos seus investimentos ajudando-o a crescer. Seu Chico Paladar faleceu em 1992 e dona Cesarina em 2007. Viveram juntos por quase 60 anos. 
Residência de seu chico Paladar e a loja que hoje funciona sob a direção da filha.  

Seu Chico Paladar e dona Cesarina, fotos cedidas por sua filha Leô.

    
Parabéns!
Registro com muito prazer a festa de Bodas de Ouro do casal amigo Afonso e Francisquinha, coisa rara nos dias atuais. Ela foi funcionária do meu pai, na Mercearia Confiança, e ele é funcionário aposentado do INSS. O evento foi celebrado pela família com uma missa em Ação de Graças na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, oficiada por Pe. César, e em seguida banquete no bufê  Suel Festas.  O casal tem quatro filhos, oito netos e 3 bisnetos. 


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