domingo, 5 de junho de 2011

18 DE JULHO DE 1909. Circula o primeiro número do jornal O Rebate, fundado pelo cratense padre Joaquim Marques de Alencar Peixoto para advogar a causa da autonomia de Juazeiro. Faziam parte do corpo editorial além do padre Peixoto, Floro Bartolomeu da Costa, médico baiano, recentemente chegado ao povoado e o advogado provisionado juazeirense José Ferreira de Menezes. O gerente era Felismino de Alencar Peixoto, irmão de padre Peixoto. Sobre a formação da empresa que editou o jornal eis o que conta o escritor José Peixoto Júnior:
 "A empresa "Tipografia d' O REBATE", editora do semanário, constitui-se na forma de sociedade por ações, cada ação representada por uma "apólice" no valor de dez mil réis (l0$000). O capital recebe o reforço do "auxilio de patriotismo", que é doação de quantia inferior ao valor de uma ação. Arrecada para o capital um conto cento e dezessete mil reis (1.117$000). Em artigo fica esclarecida a insuficiência do capital para o investimento inicial, porém o padre Alencar Peixoto "inteirou de seu bolso". O prelo veio de Fortaleza em maio de 1909. A Tipografia presta serviços gráficos "com máxima presteza e nitidez" imprimindo cartas, cartazes, cartões de visita, recibos, rótulos, faturas. Estampado no canto superior direito da página de rosto o "Expediente", disposto verticalmente em onze linhas, a saber: "O Rebate publica-se semanalmente. Redator-chefe: padre Joaquim de Alencar Peixoto. Gerente: Felismino de Alencar Peixoto. Assinaturas: Ano 5$000. Semestre 3$500. Pagamentos adiantados. As publicações de interesse particular, os anúncios, dependem de contratos, sendo o pagamento adiantado. A redação não é responsável pelas publicações "ineditoriais", nem pelas publicações alheias, assinadas. Aceitam-se artigos de religião, ciência, literatura e etc., preenchendo certas condições. Redação, Gerência e Tipografia - Rua Padre Cícero, n° 343. Há presunção de que o título do jornal fosse inspirado no título do poema de Euclides da Cunha, escrito em 1883 intitulado “O Rebate”, dedicado aos padres".

Quem melhor descreveu a importância deste jornal foi o escritor e pesquisador juazeirense, Renato Casimiro, no seu livro Antes qu´eu m´esqueça, volume 1:
 "O Rebate se notabilizou por uma série de elementos que merecem destaque. Primeiro: o objetivo específico da criação da cidade, determinando, inclusive, pouco antes da instalação do município, em outubro de 1911, a sua extinção, lamentavelmente; segundo: sua periodicidade muito regular, semanal, em grande tamanho, para as dificuldades naturais de um prelo, naquela época; terceiro: um corpo de redatores de grande peso, como Alencar Peixoto, José Marrocos e Floro Bartolomeu; quarto: a polêmica mantida com o jornal cratense, sobretudo orientada pelo redator Floro Bartolomeu da Costa, com inúmeros e extensos artigos; quinto: a sua circulação gratuita pela cidade e arredores, com a animação de jovens da comunidade, em autêntica campanha de libertação, e com acompanhamento de banda de música; sexto: era um jornal “moderno", cuja paginação contemplava assuntos internacionais, políticos, sociais, culturais, e até uma seção de classificados e publicidade; sétimo; na seção de cultura, muitas vezes publicou literatura de cordel, de poetas como Leandro Gomes de Barros, e o mesmo redator, padre Alencar Peixoto se notabilizou como contista de grande expressão".
Depois a equipe passou a contar com a participação do professor cratense José Joaquim Telles Marrocos, que não fez parte da equipe inicial do jornal, conforme se depreende da efeméride de 19 de julho de 1909.

26 DE AGOSTO DE 1909. Os comerciantes juazeirenses que davam feira na cidade do Crato ficam visivelmente revoltados com as declarações do padre Antônio Tabosa Braga (participante da comitiva do bispo auxiliar de Fortaleza, D.  Manoel Antônio de Oliveira Lopes, na visita pastoral feita àquela cidade), o qual em seu discurso disse que o povo de Juazeiro era imundo e guiado por Satanás. Claro que fatos assim contribuíram para acirrar mais ainda os ânimos dos juazeirenses e aumentar em todos o desejo de emancipação.              Padre Cícero também ficou visivelmente preocupado com a situação e temendo maiores consequências sugeriu que os juazeirenses evitassem ir ao Crato nos próximos dias. Foi pior, pois muitos dos juazeirenses que trabalhavam no Crato abandonaram seus empregos sem prestar satisfações aos patrões e os feirantes de Juazeiro não armaram suas barracas na feira livre cratense, prejudicando a economia do lugar. E Padre Cícero, naturalmente, foi acusado de responsável pela situação, passando a partir daí a sofrer retaliações por parte das autoridades e da população cratenses.
A coisa se agravou de tal forma, atormentando a vida do Padre Cícero, que foi preciso Dr. Floro Bartolomeu com o pseudônimo de Manuel Ferreira de Figueiredo escrever um artigo no O Rebate, edição de 29 de agosto no qual rebateu:
"Se Padre Cícero fosse um sacerdote caviloso, embusteiro, hipócrita, usurário, maluco conforme dizem os inimigos da verdade, em tempo de grande agitação política, quando as localidades desta zona se estremecem ao peso das ameaças, a sua presença não seria a bandeira da paz, nem a sua palavra seria acatada e respeitada pelos vultos mais proeminentes".
 Mas não ficou só nesse artigo. Floro escreveu mais dois, usando o mesmo pseudônimo, os quais saíram nas edições 12 e 29 de setembro de 1909 de O Rebate. Mais tarde, em 1923, Floro lembraria este fato quando pronunciava um discurso na Câmara dos Deputados em resposta ao Dr. Paulo de Moraes Barros, membro da Comissão incumbida pelo Governo Federal de inspecionar as obras do Nordeste, vangloriando-se com estas palavras: “Disse tantas verdades, que não mais continuaram a triste campanha de difamação, e meteram, como sempre, a “viola no saco”, nada me respondendo.”
 (Extraído do livro: História da independência de Juazeiro do Norte, de Daniel Walker)



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