domingo, 19 de junho de 2011

15 DE AGOSTO DE 1910. O prefeito do Crato, coronel Antônio Luís Alves Pequeno, envia telegrama a Padre Cícero nos seguintes termos:
 "Fortaleza, 15.08.1910. Pe.  Cícero. Juazeiro. Recebi carta. Sinto não poder este ano satisfazer vosso pedido e dos amigos elevação Juazeiro à vila porque não vim preparado para tal fim, pois não estou a par limites que devo dar. Além disto, circunstâncias se deram que impossibilitaram-me dar meu consentimento. Para o ano, correndo as coisas sem alterações, será possível satisfazer pedido. Peço obséquio cientificar amigos. Saudações. Antônio Luís."

 Este telegrama foi remetido em resposta à carta que Padre Cícero endereçou ao coronel Antônio Luís solicitando seu empenho junto à Assembleia Legislativa do Ceará para que fosse apreciado o pedido de independência de Juazeiro.

16 DE AGOSTO DE 1910. Em resposta ao telegrama referido na efeméride acima, Padre Cícero escreveu:
"Ciente. Entretanto, lamento ressentido que você segunda vez não queira ajudar-me em uma obra tão meritória, que traria definitivamente a paz geral, glória de seu nome, seu triunfo sobre seus desafetos. Admira você preferir os ressentimentos de um povo não satisfeito à real simpatia de um povo  agradecido, para satisfazer um capricho. Estou certo, não compreendeu bem minha carta."  
  Pelo visto, Padre Cícero estava bastante aborrecido com o prefeito do Crato, pois pela segunda vez ele demonstrava seu desinteresse pela causa da independência de Juazeiro. Por isso, Padre Cícero para expressar mais ainda o seu descontentamento mandou através de portador uma carta na qual entre outras coisas dizia:
 "A elevação do Juazeiro a Município é uma necessidade que se impõe há muito tempo e para a qual você deveria ter-se esforçado para consegui-la. Esta localidade não pode mais continuar a ser reduzida à humilhante condição de povoação."
   E também na mesma data Padre Cícero informa ao presidente do Ceará, Nogueira Accioly, sobre o telegrama recebido do prefeito do Crato.

17 DE AGOSTO DE 1910. O Presidente do Ceará, temendo ferir os interesses do prefeito cratense, tirou o corpo fora e, em resposta ao telegrama do Padre Cícero referido, na efeméride acima, responde:
 "Pe. Cícero – Juazeiro. Recebi seus telegramas. Pedido respeitável amigo tem para mim todo valor. Entretanto, para deliberar sobre assunto, acho conveniente entender-se primeiro Coronel Antônio Luís, combinando com ele melhor meio resolver questão envolve interesses políticos devemos atender. Nogueira Accioly."

 O presidente do Ceará tranquilizou Padre Cícero, mas também não se interessou pela causa de Juazeiro como queria o Padre Cícero. Quanto a Antônio Luís, ele sequer respondeu à carta enviada pelo Padre Cícero. E assim, em face do desinteresse das autoridades pela independência de Juazeiro, o Padre foi forçado a adotar medidas mais duras, porquanto se convenceu de que por este caminho a tão sonhada emancipação política de Juazeiro não ocorreria. Estava, portanto, iminente uma sublevação popular, faltando apenas uma voz de comando.  E esta, segundo o escritor Otacílio Anselmo “passado o luto decorrente da morte de José Marrocos, troou nos quatro cantos da imensa povoação”, conforme é relatado na efeméride de 30 de agosto de 1910.
Padre Cícero, em face da pouca importância dada ao seu telegrama, resolve se dirigir ao Crato a fim de entender-se pessoalmente com o coronel Antônio Luís. Inicialmente ele fez ver ao prefeito do Crato que o pedido de independência política de Juazeiro não estava sendo feito pelo seu desafeto, major Joaquim Bezerra, e sim por ele próprio, doravante o novo patrocinador da causa de Juazeiro. Mesmo assim, o coronel manteve-se irredutível. Este fato causou grande descontentamento ao Padre Cícero e aos demais membros do movimento, tendo chegado às páginas de O Rebate desta forma:
 "Mas qual não foi a desilusão do Padre, quando o Sr. Antônio Luís positivamente declarou que não consentiria para não criar mais um município inimigo, nem dar gosto aos chefes de Missão Velha, Barbalha e Milagres, que eram uns bandidos e seus inimigos. O Padre Cícero fez-lhe uma série de considerações a respeito querendo provar o salutar efeito político, mas tudo debalde. E para consolar o Padre, disse que este ano (1910) talvez fosse possível. O resultado desse entendimento deixou o sacerdote profundamente decepcionado, como está evidente nos termos rigorosamente telegráfico do seguinte despacho ao Presidente Accioly, expedido na mesma data: “O coronel Antônio Luís desatendeu meu pedido criação vila Juazeiro”.

 A repulsa do prefeito cratense também não agradou à população juazeirense, mas não houve manifestação ostensiva ao chefe político do Crato. Aí entrou em cena uma manifestação explícita da Comissão de Engrandecimento de Juazeiro expedindo o seguinte telegrama:
 "Exmo. Sr. Dr. Accioly. Fortaleza. O coronel Antônio Luís não quis concordar com a elevação dessa povoação Juazeiro a vila e seu distrito em Município e termo. Não obstante adeptos do partido que folga de ter V. Exa. por chefe supremo, temos direito de pedir emancipação política sem contudo faltarmos com a consideração e cordialidade que tributamos à pessoa do Sr. Coronel Antônio Luís, chefe local. Ass. José André, Cincinato Silva, Manuel Vitorino da Silva, João de Siqueira, João Batista de Oliveira, João Vitoriano da Silva."
(Fonte: História da Independência de Juazeiro do Norte, de Daniel Walker)   


Um comentário:

iderval.blogspot.com disse...

Amigo Daniel :bebendo desta fonte de sua lavra e da fonte do Lira Neto estes fatos cronificados com certeza contribuiram para o movimento de emancipação do Municipio quando sucumbiram milhares de vidas, talvez desnecessa´rias caso o diálogo e a vontade do povo Juazeirense fosse atendida.
Sou leitor ferrenho desta História,leio o seu livro e agora o documeta´rio de Lira Neto.

Obras que deveriam ser de cunho obrigatório nas escolas do Municipio- quando seria ciado uma nova DISCIPLINA no curso Ginasial. HISTÓRIA DO JUAZEIRO DO NORTE.
IdervalReginaldo Tenório http://www.iderval.blogspot.com