O mote do Cine Ceará para este ano foi dado por causa dos 100 anos de emancipação política de Juazeiro do Norte, terra do Padre Cícero. A homenagem à cidade, neste caso por um Festival de Cinema, está justificada pela enorme produção cinematográfica de curtas e longas metragens em torno dos temas que de lá são oriundos.
É de 1925 o primeiro filme sobre Juazeiro e Padre Cícero. Chamava-se Joaseiro do Padre Cícero, de Adhemar Bezerra de Albuquerque. De lá para cá, muitas são as produções que se baseiam naquela realidade, sempre instigante, seja por causa do Padre Cícero, dos romeiros ou da natureza exuberante. Juazeiro é um celeiro cultural do nordeste brasileiro. Homenagem, portanto, justa e necessária.Da filmografia sobre Juazeiro e seus personagens, uma me diz respeito particularmente: durante seis anos até 1999, filmei a história da beata Maria de Araújo que, ao lado de Padre Cícero, é das personagens mais importantes do lugar e que teve sua história apagada. Quem sabe a importância que Maria teve na constituição de Juazeiro como a “capital da fé” nordestina? Quem sabe a respeito do sangramento da hóstia que se deu em sua boca? O filme Milagre em Juazeiro conta essa história para o mundo.
Costumo dizer que, quando comecei a fazer o filme, conhecendo apenas superficialmente a história, eu não era devoto do Padre Cícero. Seis anos, dez romarias, muito estudo e muita conversa depois, me tornei devoto. Dos dois, da beata e do padre. Eu não fiz um filme, cumpri uma promessa.
Não há dúvidas de que as religiões de um modo geral e o cristianismo de modo particular forjou a nossa identidade. E o cinema, ao abordar um tema religioso, traduz a nossa realidade cultural. O Cine Ceará, promovido pela Universidade Federal do Ceará (UFC), se propõe então a discutir esse tema com a Mostra “Audio-visual e educação: religião e religiosidade no cinema”.
O tema religião se estende por todo o mundo. Em 2010, o Festival de Cannes premiou um filme que contava a história de um grupo de monges que viviam na Argélia: Des hommes et des dieux (Homens e deuses). Belíssimo. Na Itália, há o Festival “Cinema e Religione”, entre outros exemplos.
Não só o catolicismo é retratado no cinema. Acho importante o nicho de filmes transcendentais, aberto pelo Luis Eduardo Girão, com o filme Bezerra de Menezes: o Diário de um Espírito.
É muito consolador saber que se pode comunicar com com entes queridos. Essa é uma bandeira muito forte. O sincretismo religioso é latente no Brasil e, não importa se católico ou espirita, me parece que são duas faces de uma mesma moeda!
Wolney Oliveira é Cineasta e diretor do Cine Ceará (Festival Iberoamericano de Cinema)
Fonte: O Povo
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