O padre Cícero Romão certamente teria montado uma emissora pública de TV em Juazeiro do Norte, se a ele fosse dada a facilidade tecnológica e institucional que se tem hoje. E arrisco afirmar também que esta televisão seria digital e interativa. Defendo a tese baseado nas poucas leituras que tenho de Della Cava (1976) a Lira Neto (2009), sobre o primeiro prefeito da cidade, um homem comprometido, ao seu modo e ao seu tempo, com o progresso de Juazeiro e com o desenvolvimento das pessoas.
O Padre Cícero que resguardava os mandamentos de uma Igreja conservadora era o mesmo que antevia o futuro, quando pedia que se explorassem os recursos naturais do verde vale, sem destruir as matas e as nascentes. Aquele proibido de celebrar os sacramentos nas igrejas e que não era ouvido pelo bispado, nas ruas professava a fé nos romeiros que acolhia e os escutava. Tinha as informações atualizadas da diversidade de devotos que o seguia e de um eleitorado plural que lhe dava rumo.
Agora, toca ao prefeito Doutor Santana (PT) a iniciativa de colocar em funcionamento uma emissora pública de TV
Tudo bem. Legítimo e legal. O que esta nova emissora pública não pode é ser só instrumento de comunicação governamental, com programação “chapa branca”. As que já existem, dão péssimo exemplo: são dessintonizadas com o diálogo público e desconectadas com o interesse coletivo, são desinteressadas em relação aos verdadeiros donos e desinteressantes para o telespectador. Não obstante o avanço tecnológico, têm pouca audiência e, portanto, terão muita dificuldade em se lançar à interatividade digital.
O Município ter chamado a Universidade Federal para compartilhar o projeto é um bom sinal de que pode estar em gestação uma emissora de comunicação pública. A UFC pode ser o primeiro de vários segmentos a tomar parte nas decisões, sobre o perfil político e jurídico da nova TV, seu modelo de gestão e sua grade de conteúdos. Professores e alunos, governo e comunidade têm muito a dizer.
As vozes barradas pela TVs privadas também devem tomar assento. Devem ganhar espaço outros temas e novos debates, outros consensos e novas deliberações. Tenho fé numa TV pública que escute a cidadania muda e ponha em diálogo um Município solitário. Que a emissora seja imagem de uma bengala que equilibra o direito de informação e expressão, de um chapéu que acolhe a inovação e de uma batina que empodera toda uma cidade.
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