sábado, 12 de março de 2011

Pessoas que deixaram marcas em minha vida

- Lembro que desde muito criança gostava de pessoas delicadas, atenciosas e educadas. Um casal que me traz boas recordações e que eu admirava muito, Dona Lili e seu Felipe Neri, moradores da Rua Padre Cícero, nº 510, nesta cidade. O que muito me impressionava era a maneira com que eles acolhiam as pessoas que circulavam em sua calçada, nos momentos que eles sentavam para conversar. Um sentado de frente para o outro, parecia um casal de recém-casados. Digo assim, porque a impressão que me causava ainda muito criança era de que não queriam desgrudar um do outro, queriam ficar bem pertinhos e felizes. E era assim que os via toda quinta-feira quando me dirigia à Matriz de Nossa Senhora das Dores para assistir à Hora de Guarda, no horário de 18h30min. Fazia questão de passar na calçada deles e cumprimentá-los. Para mim era um grande desafio, devido a minha timidez, dirigir-me a eles e dizer: – Boa noite! Gelava por dentro, mas quando ouvia a resposta muito educada dos dois, um casal muito distinto respondendo ao meu cumprimento, a alegria era imensa. Quando aconteceu o trágico acidente aéreo que vitimou seu Felipe Neri, no Rio de Janeiro, lembro que a notícia circulou rápida, foi muita consternação, a nossa Juazeiro, parou. O tempo foi passando e D. Lili voltou a sentar na calçada, agora com os familiares e amigos. Muito educada, recebia os cumprimentos das pessoas e respondia com um sorriso muito acolhedor. Lembro de um cachorro que ficava passeando no jardim e assustava muito às pessoas que não estavam preparadas para ouvir os latidos, o susto era grande. Muitas vezes aconteceu isso comigo, ficava tremendo. No jardim tinha flores, palmeiras e uma escadinha que dava acesso à varanda. Hoje esta bela casa foi demolida e transformada num estacionamento, ocasionado pela modernidade e também pelo grande desenvolvimento que tem contagiado a nossa cidade.


- Em frente à casa de seu Felipe Neri, a casa de n° 503, morava uma pessoa com costumes bem esquisitos, era Maroli Figueiredo. Estatura mediana, magra, cabelos grisalhos e lisos, presos, ou às vezes soltos, roupas estranhas para àquela época, saia justa um pouco abaixo do joelho, camisas de mangas longas por dentro da saia listrada e um cinturão grosso. Sandálias estilo alpargatas, pretas. Morava sozinha e gostava de conversar consigo mesma e ficar debruçada na janela. Conversar com as pessoas nunca presenciei. Sempre a via sozinha. De longe quando me aproximava de sua casa gostava de observar, via quando ela abria a porta com uma chave grande, retirava da fechadura e imediatamente colocava por dentro. Ali era seu mundo. Eu tinha muita curiosidade e ao mesmo tempo medo. Curiosidade em saber como era lá dentro, se limpa, suja, arrumada? E medo da casa ser mal-assombrada. Tinha medo também de ela assustar a gente com sua maneira de ser, o seu isolamento me causava pânico. Assim muito tempo povoou a minha imaginação o seu jeito grotesco, a sua porta sempre fechada, sem amigos, e pensava que não tivesse família. Foi passando o tempo e não mais a vi na janela, transitando na Rua Pe. Cícero ou com uma sacola de tecido na mão, onde colocava suas compras. Algum tempo depois soube que foi levada por sua irmã, Valda, para sua casa, pois se encontrava doente, vindo a falecer na Rua São José, próxima ao Abrigo dos Velhos. Tenho esta recordação porque foi uma pessoa que me impressionou bastante. Sua casa hoje está totalmente modificada, conforme mostro na foto.

- Dona Louzinha, amiga de minha mãe e parente de meu pai, era proprietária de uma fábrica de calçados na rua que eu morava, Rua São José nº 1041, dois quarteirões acima de minha casa. Neste tempo, não se chamava fábrica e sim, oficina. Durante muitos anos, este caminho era feito por ela, manhã e tarde. Sempre que retornava para casa depois de um dia exaustivo de trabalho, de quebrar a cabeça com os operários, dava uma paradinha na calçada de minha casa para palestrar um pouco com mamãe. Lembro do seu sorriso brejeiro, com os olhos azuis transmitindo alegria, contentamento por mais um dia de labuta. Os nossos sapatos e sandálias mamãe comprava na sua fábrica, o preço era bem acessível, pois ela dava sempre um abatimento. Recordo um tipo de sapato que foi uma febre nos idos 60, uma botinha, de couro branco, com uma bola do lado chamava-se Pelé. E um modelo de sandália, pisa na fulô, tinha uma flor em cima da tira que metia no dedo e a gente, digo eu e minha irmã não pudemos usar esta sandália porque na época, uma música de Luís Gonzaga, que dizia assim: “Eu vi menina que não tinha doze anos agarrar seu par e também sair dançando”, era proibida e daí, papai não permitiu que este modelo de sandálias nós usássemos. Ficou só na vontade. Ressalto a importância de Dona Louzinha no setor calçadista de Juazeiro porque ela teve visão de futuro, foi a precursora neste ramo de negócios. Acreditou, apostou e este setor se desenvolveu de uma forma tal que hoje, nossa cidade é considerada a maior no comércio de calçados no Nordeste.

NOTA: Quero agradecer ao casal amigo Aguinaldo Carlos-Fátima a gentileza do envio de uma coletânea de filmes que fizeram sucesso em nossa cidade na década de 60/70, como Candelabro italiano, O Rei dos Reis, Assim são os fortes, Os Cavaleiros da Távola Redonda, Hércules, Sansão e Ulysses, dentre outros. Eles também mandaram doze episódios das Aventuras do Capitão Marvel, seriado que meu marido, Daniel Walker, assistiu imediatamente, pois este seriado é do seu tempo.

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