No final de semana passado tive o prazer de participar da inauguração de uma sala de cinema na casa do sítio de Analuce e Junior, irmã e cunhado. Foi uma beleza, reunimos familiares que há tempos não víamos, foi uma alegria só. O motivo que me levou a relatar este fato é que fui motivada a trazer lembranças da minha infância, adolescência e desta fase que estou vivendo, em frequentar o cinema. Quando criança assisti inúmeras vezes ao filme Marcelino, pão e vinho, fita que me comoveu muito, chorava que só uma Madalena; filmes da Atlântida, com Oscarito, Grande Otelo, Mazzaroppi, lembro bem de Jeca Tatu (os animais todos calçados) a risarada era geral quando aparecia esta imagem. Na adolescência, acompanhada de amigas e de D. Sevi (mãe de Aguinaldo) que era minha vizinha, mamãe permitia que ela nos levasse. Os filmes que me marcaram Dio come ti amo, La cumparsita, Candelabro Italiano, Quando calianta el sol, O Milagre, A noviça rebelde, A compadecida, Os Dez Mandamentos, Ben hur, Help e Submarino Amarelo (com os Beatles), vários títulos de 007 com Sean Conery e muitos outros que é impossível enumerar. Nesta época usava um caderno para anotar todos os filmes assistidos e olhem só, todos por ordem alfabética. O horário que costumava frequentar era o de 18h30min e sempre comprava o chiclete Ploc ou Adams ou ping pong e a bala Pipper ou drops não se dispensava, como canta Rita Lee, “no escurinho do cinema chupando drops de anis”, pois não era costume naquela época comer pipocas como se faz hoje nos cinemas do shopping. Lembro de um fato bem pitoresco que aconteceu com D. Sevi. Ela, muito apressada para não chegar atrasada ao cinema, calçou os sapatos trocados, cores diferentes. Quando se sentou na cadeira (na época era de madeira e não estofada como hoje) foi que percebi os sapatos trocados; aí não aguentei, disparei a rir sem controle, os outros querendo saber o que tinha acontecido e cadê eu conseguir falar, só conseguia rir. As pessoas que estavam próximas começaram a chiar, pedindo silêncio, foi necessário a presença do lanterninha para reclamar e seguir em frente o filme sem balbúrdia. Acontece que este fato estava longe de minhas lembranças, mas estive há poucos dias com D. Sevi e ela lembrou e contou rindo às gargalhadas. Apesar de sua memória está falhando algumas vezes, mas ainda conseguiu se lembrar com riquezas de detalhes este fato. Os cinemas existentes em Juazeiro na época eram Cine Eldorado, Capitólio e Plaza, porém não tinha predileção por nenhum, o que importava mesmo era a fita que iria passar. Nos domingos gostava de assistir à seção das 10h, neste horário mamãe permitia ir para o cinema sem a presença de uma pessoa mais velha. No Cine Plaza gostava de assistir no primeiro andar, pois dava um charme maior, ou talvez o som era melhor. Já quando namorava, guardar a cadeira para o namorado era costume certo e se fosse uma película boa nem se fala a confusão para não permitir que guardasse a cadeira era grande, até o proprietário do cinema vinha questionar. Aqui vale recordar os nomes dos proprietários dos cinemas : os irmãos Otacíllio e José Almeida, dos cines Eldorado e Capitólio, e Expedito Costa, do Plaza. É bom destacar também que era proibido beijar e abraçar dentro do cinema, os comissários ficavam observando, quando flagrava se aproximavam dos afoitos e pedia que se comportassem, caso contrário teriam que sair do cinema. Gritaria, bagunça, assovios, tudo isso levava a suspender a projeção e as luzes imediatamente acendiam, depois da calmaria, voltava à projeção. Uma coisa inesquecível e ao mesmo tempo engraçada ocorria quando passava fita da Condor Filmes, cuja logomarca era exatamente a sua ave símbolo. Quando a vinheta inicial do filme aparecia os jovens (e até adultos) entoavam em coro xô, xô, xô, xô, como se estivessem enxotando a ave, cuja imagem projetada na tela (confira na foto) aparecia pousado em uma rocha e logo alçando voo, fazendo uma curva no ar formando no céu a palavra “Apresenta”, e em seguida, surgia na tela a frase CONDOR FILMES. Isso foi muito comum na década de 60 quando os cinemas em Juazeiro estavam sempre lotados.
Quando estava passando filmes bons não pestanejava, saía de um cinema e corria para o outro, algumas vezes não continha o sono e cochilava, de vez em quando recebia uma cutucada, e ouvia aquele som bem baixinho: acorda! Ah! Que mudanças! Que transformações! A galera foi dimensionando o prazer para outros divertimentos e o cinema foi ficando de escanteio, o público foi diminuindo, as grandes fitas não traziam mais o público esperado, a decadência chegou e com isso muitos sonhos acalentados, muitas ilusões construídas dentro das salas destes cinemas foram embora com o tempo, quem sabe se foram realizados. Hoje o que temos aqui, em Juazeiro, no Shopping duas salas de cinema, de vem em quando lotam com filmes bem badalados, mas o apogeu que já aconteceu, de uma sala com 1.200 poltronas totalmente tomadas, jamais! Fica aqui registrada a saudade de um tempo que vivi e aproveitei.
E-MAILS RECEBIDOS
1)Querida Prima: Você sempre surpreende com tantas lembranças boas. Suas recordações sobre o guisado me reportou ao tempo tão bem vivido da minha infância, como era bom o dia do guisado e o aniversário das bonecas, os presentes dados era sempre de sabonete Lux. Madrinha Iara, artista em roupas de bonecas, me levava aos Domingos à casa dela e fazia roupas belíssimas para minhas bonecas. Que tempos bons...
Obrigado por me fazer recordar tantas coisas caras.
Lúcia Macedo, Fortaleza.
RESPOSTA: Lúcia, prima e amiga: a satisfação é toda minha em trazer belos momentos que já vivenciamos. E Iara ficou feliz em saber que você ainda lembra dos vestidos que ela fazia para suas bonecas e dos dias que passava em sua casa brincando de bonecas.
2) Neuma: Você me fez recordar grandes momentos da minha infância onde também
fazíamos muitos guisados aí na Rua São José, eu com as minhas irmãs e vizinhas.
Aos domingos sempre acesso o blog do Jua online, mas, cá para nós,
corro logo para a sua coluna, adoro!
Quero agradecer o livro que você nos enviou, e mais ainda a felicidade
que temos por fazer parte de sua história. Um grande beijo a todos e em especial a madrinha Almeida.
Diana Marques Ribeiro Rafael, Fortaleza
RESPOSTA: Diana, é maravilhoso relembrar coisas e acontecimentos que nos fizeram bem. Mexi com as suas lembranças e lhe trouxe belas lembranças. Continue assídua na leitura deste blog. Você não tem que agradecer o livro porque você faz parte dele.
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