AEROPORTO PARTE II -Continuação
Sobre a construção de um aeroporto regional no Cariri, é interessante relembrar a posição do então Prefeito Filemon Teles numa entrevista em 1949. Perguntado pelo repórter: (- Sendo o Crato a cidade líder do Cariri e não dispondo, como outras menos importantes da Região Su1cearense, de um Campo de Aviação que nos sirva de Aeroporto, não preten¬de S. Excia. providenciar no sentido de que tenhamos também o nosso Campo, com proporção para aterrissagem de grandes aviões?) ele responde: “Sou um daqueles que muito têm pensado nesta lacuna do nosso progresso. Meu desejo, entretanto, era que se construísse um grande campo no Carirí, e que fôsse este localizado em Santa Rosa, pequeno povoado, que centraliza Triângulo Caririense: Crato, Juazeiro e Barbalha. Ali dispomos de vasta planície, adaptável facilmente, ao serviço de aterrissagem, com o conveniente de sa¬tisfazer as necessidades dos três lugares. O trabalho seria realizado em cooperação destes municípios com o Estado, podendo assim, não só a Região do Cariri, como o próprio Ceará, ganhar um gran¬de campo de aviação, e termos dado um passo na conquista de uma união mais estreita entre os municípios líderes do nosso rico e futuroso Vale. A nossa Comuna já criou uma verba especial para este fim e o nosso governo está grandemente interessado neste particular.”
A idéia do Aeroporto Regional em Santa Rosa não tinha a antipatia dos líderes juazeirenses e barbalhenses, justiça se faça. A questão tinha que ser avaliada, primordialmente, pelo comando da II Zona Aérea, sediada em Recife. Para ajudar a esclarecer este fato, pinçamos algumas expressões de Antonio Corrêa Celestino, em depoimento que escreveu alguns anos antes de sua morte.
“Era prefeito da cidade o ilustre cidadão José Monteiro de Macedo. Presidente (quase vitalício) da Associação Comercial do Crato, o honrado cidadão Tomaz Osterne de Alencar, sob cuja administração era a principal trincheira de defesa dos interesses do Município. Convidados por Tomaz Osterne, assinamos memorial dirigido ao Ministério da Aeronáutica, pleiteando a construção de um aeroporto para servir à Região. Oferecemos um terreno, nos limites comuns a Crato, Barbalha e Juazeiro, no Sítio Santa Rosa. O Ministério enviou comissão de peritos para examinar o terreno, que não foi aceito, sob a alegação da proximidade com a Serra do Araripe. (...)Convocamos uma sessão na Associação Comercial, e resolvemos ir a Recife, falar com o Brigadeiro Reinaldo de Carvalho, Comandante da Segunda Zona Aérea, a que estávamos subordinados. Havia em Juazeiro um pequeno Aeroporto, onde hoje se localizam a Estação Rodoviária, o Estádio Mauro Sampaio - O Romeirão, etc. Este Aeroporto localizava-se em terreno doado ao Ministério da Aeronáutica e era administrado por um funcionário da Aeronáutica, de nome Odilon, que nos informou: “conheço um terreno aqui no município de Juazeiro, a 4 km da Estrada de Ferro, 6 km da cidade, com piçarra em cima, onde se pode construir uma pista de 1.500 m, com um desnível de apenas 4 m”. O Ministério havia rejeitado o terreno onde funcionava aquele pequeno aeroporto, administrado por Odilon, que servia principalmente ao Correio Aéreo Nacional, onde muitas vezes aterrissou o Brigadeiro Eduardo Gomes, que descia para rezar na Matriz de N. S. das Dores, montado num jumento. Odilon prontificou-se a acompanhar-nos a Recife para tratar do assunto com o Brigadeiro. Fui a Crato, dei conhecimento da nossa viagem a Tomaz Osterne. Fui a Barbalha, participei ao Dr. Pio Sampaio, então Presidente do Centro de Melhoramentos de Barbalha, entidade à qual a Cidade deve tudo de bom que nela foi realizado, principalmente nas gestões de Antonio Costa Sampaio. Fomos então a Recife: eu, Edmundo Morais, Felipe Nery da Silva, Dr. Gregório Callou e Odilon. Levei comigo um mapazinho da Região do Cariri, que me sobrara da Campanha Pró Eletrificação, destacando os municípios em cores diferentes. Expusemos ao Brigadeiro as distâncias de cada município para os locais oferecidos por Crato e Juazeiro.
Para não me tornar muito prolixo tomarei apenas as quatro principais cidades: De Crato ao local por eles indicado, dista 15 km; de Barbalha 39 km; de Missão Velha por via direta 12km. O terreno por nós oferecido dista da Cidade do Crato, o mesmo que o oferecido pela Associação Comercial daquela cidade. Debatido o assunto com o Brigadeiro Reinaldo de Carvalho, fizemos-lhe convite para visitar o Cariri e verificar de visu, os terrenos oferecidos. Ele aceitou o convite, marcou a data e disse. “Irei ao Cariri e construirei o Aeroporto, no município que nos doar o melhor terreno. Em cima da Serra, somente por injunção política”. Ao que respondemos: “Não somos políticos; somos empresários, mas, se o fator política se impuser, naturalmente recorreremos a ele”. Contaríamos na certa, com o apoio do deputado Leão Sampaio, genitor do atual deputado Mauro Sampaio. O Brigadeiro ficou com o nosso mapazinho dos municípios do Cariri. Regressamos a Juazeiro. Nosso primeiro ato foi ir a Crato e Barbalha, avisar o dia e hora da chegada do Brigadeiro, e convidá-los para o recebermos com a sua comitiva. Pedimos também, que cada um que pretendesse reivindicar o aeroporto para seu município, escolhesse logo um bom terreno para oferecer para este fim.
No dia aprazado, lá estávamos, naquele aeroportozinho de Juazeiro, nós e os representantes da Associação do Crato. Barbalha não se fez presente. Da nossa comitiva, não podia estar ausente uma das figuras mais marcantes, sob certos aspectos, do comércio de Juazeiro: Jenário Oliveira. Sim, com J, terminando com rio. Homem de grandes qualidades, capaz de brigar, se fosse preciso, em defesa dos interesses da terra que lhe deu guarida e fortuna.
(...) A Jenário, coube conduzi-lo no seu bonito automóvel. Primeiro fomos ver o local oferecido pelo Crato. Em lá chegando, Jenário sai do carro e gentilmente abre a porta para dar saída aos seus passageiros e sentencia: “Aqui, Sr. Brigadeiro, é muito bom para construir o Aeroporto, porque quando o passageiro saltar do avião, a onça o come, e ele sequer terá a sensação feliz de apreciar a linda vista que se tem na descida para o Vale.” Voltamos para Juazeiro. Almoçamos no Clube dos Doze, que funcionava onde hoje está instalado o Banco do Estado do Ceará. Em seguida, fomos ver o terreno. Ali, como fizera em Crato, o Brigadeiro e sua comitiva andaram para lá e para cá, e depois de acurado exame, sentenciou: “Aqui construirei o Aeroporto do Cariri”. O Prefeito José Monteiro de Macedo comprou do industrial José Pedro da Silva, o terreno, por preço razoável, não porque o industrial quisesse ou precisasse vender, mas como colaboração para a construção do Aeroporto. Quando falamos que Odilon nos informara que no terreno e vizinhanças existia piçarra, é que, naquele tempo, no interior ainda não vivíamos a época do asfalto. Estas obras eram macadamisadas a piçarra. Tomaz Osterne não era de dormir no ponto: acabou conseguindo também a construção do Aeroporto do Crato, no local por eles oferecido, que funcionou algum tempo, concomitantemente ou alternativamente com o Aeroporto do Cariri. Conseguida a compra do terreno, entregue à Segunda Zona Aérea, entra de fato, a fase política do empreendimento. Chegou a vez do Deputado Leão Sampaio defender a criação das verbas e a execução da obra.
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