quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

AEROPORTO II - Final
O Aeroporto de Fátima, junto à Floresta Nacional do Araripe, no alto da serra, foi efetivamente construído e iniciou suas operações. Salvo engano, ele foi construído a partir de 1953, com grande entusiasmo da parte de algumas lideranças, incluindo-se o Rotary local. Ainda hoje, no blog da instituição, pode-se ler, dentre as suas realizações: “Criação do Aeroporto de Fátima do Crato que depois, contra a vontade do povo do Crato foi transferido para a vizinha cidade Juazeiro do Norte”. Sem dúvida a definição de um aeroporto regional em Juazeiro do Norte, por critérios técnicos, pôs um pouco mais de lenha na fogueira da rivalidade histórica. Mas, concluído em curtíssimo tempo, embora ainda não asfaltado, o Aeroporto de Fátima terminou, na prática, sendo o regional, por algum tempo, embora não saiba precisar as datas. Os negócios continuaram sendo realizados pela firma de Ernani Brígido Silva, e a Aeronorte fez a substituição das aeronaves pelos famosos DC 3. Uma das rotas era São Luís-Codó-Caxias-Teresina-Fortaleza-Iguatu-Crato-Cajazeiras-Campina Grande-João Pessoa-Recife. A outra era São Luís-Urbano Santos-Chapadinha-Brejo-Parnaiba-Fortaleza-Iguatu-Crato. O Aeroporto de Fátima tinha, segundo a publicidade do agente da companhia, logo nesta época serviço de proteção ao vôo, rádio farol e rádio comunicação.

O Aeroporto de Juazeiro também foi construído em tempo recorde, pela determinação do prefeito José Monteiro. Em 15.09.1954 veio o Brigadeiro Reinaldo de Carvalho, ainda comandando a II Zona Aérea (Recife) para inaugurá-lo, com uma comitiva de cinquenta membros da Aeronáutica. Mas, as operações continuaram a ser feitas no Aeroporto de Fátima. Havia, naturalmente alguns transtornos. Em primeiro lugar a longa distância, na época, ampliada pelas dificuldades de estradas, só na piçarra. A outra era o tempo que, em determinada fase do ano fechava e impedia o pouso.

Somente em 05.02.1959 houve uma abertura, agora já pela Real Aerovias que operando aeronaves semelhantes, C 46, para 40 passageiros, faz o primeiro pouso em Juazeiro do Norte, na rota Rio de Janeiro-Fortaleza, com muitas escalas pelo interior de Pernambuco, Bahia e Minas Gerais, principalmente.



A partir de agosto de 1961 a Varig com a aquisição de todo o Grupo Real, continuou a operar no Cariri, agora utilizando exclusivamente o Aeroporto de Juazeiro do Norte que, na prática, assume a sua condição de Aeroporto Regional do Cariri, mantendo basicamente a velha frota sob nova logomarca. Em 1965 a Varig desejou mudar a sua frota com base nestas velhas aeronaves e fez um acordo exclusivo para testar o Avro que acabara de ser lançado pela empresa Hawker Siddeley. Depois de uns 40 dias de testes a companhia aprovou e encomendou dez destes equipamentos que foram sendo entregues e introduzidos nas rotas entre 1967 e 1968. Na verdade, na fase de testes com o novo equipamento, o Aeroporto de Juazeiro recebeu em 11 de janeiro de 1966 o primeiro pouso de um Avro (HS 748) que cobria a rota Rio de Janeiro - Belo Horizonte - Montes Claros – Januária - Carinhanha - Bom Jesus da Lapa - Xique-Xique – Petrolina - Juazeiro do Norte - Fortaleza (ida e volta), e isto se repetiu algumas vezes. E fez grande sucesso, pois a tecnologia havia sido alterada para aviões do tipo turbo-hélice, com turbinas Rolls Royce, em substituição aos velhos DC 3, C 46 e Convair. Nesta ocasião, a aeronave era a de prefixo PP-VDN, a primeira que tinha sido entregue e cujo fim de história foi um acidente em Pedro Afonso (GO), em 17.06.1975, com a morte do co-piloto Nilo Sérgio Lemos.

Ainda em 09.10.1967, alguns executivos da Varig estiveram em Juazeiro do Norte para verificar as providências com respeito a pista, comunicação e demais condições de operação do aeroporto. A comitiva da Varig já anunciava para meados de 1968 o início da operação comercial dos Avros. Na época, o Governador Plácido Castelo havia se empenhado com o prefeito Mauro Sampaio para prover as melhorias, especialmente a pavimentação da pista. O movimento do Aeroporto crescia e operava com pista precária, principalmente na temporada de chuvas, com 3 e às vezes 4 voos diários.

A questão de sua regionalização, embora tivesse sido equacionado pela decisão do segundo comando aéreo, ainda em 1953, para ser efetivada em 1961, permanecia gerando intranquilidades pela demora em ver resolvidas algumas demandas. Nesta fase de operação pelo município, com a supervisão da aeronáutica (Cabo Vieira, de saudosa lembrança) a Varig manteve a rota com Avros. Só em 11.12.1966 é que é inaugurada a iluminação do aeroporto do Cariri, graças à ação do Lions Club local e a mediação do deputado federal Leão Sampaio. A região era promissora e os negócios pareciam animadores, a ponto de Aldemir Sobreira comunicava que em breve a Cruzeiro do Sul estaria com loja de venda de passagens em Juazeiro (Tribuna de Juazeiro, 02.04.1967). Mas, ainda não seria uma segunda companhia a operar no Cariri.

Em 15.03.1968 pousa no Aeroporto Regional do Cariri o primeiro Avro (PP-VDR), às 15:10h. O aeroporto tinha estado interditado por um mês para obras, mas ainda não havia concluído as melhorias na pista. A Varig iniciava a divulgação do novo equipamento, nos jornais da região. As rotas serviam Fortaleza, Recife, Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo. Contudo, ainda foram mantidos alguns dos velhos DC 3 para Recife. Somente para Fortaleza (ida e volta) os voos eram diários. Nesta época, também, a Esso Brasileira de Petróleo assumia o fornecimento de combustíveis para as aeronaves.

Dias antes, em discurso na Câmara Federal, o dep. Humberto Bezerra pediu ao Ministério da Aeronáutica a pronta intervenção para a solução dos problemas crônicos do Aeroporto Regional do Cariri. Na emergência, o governo do Estado, através de seus órgãos (Sevome e Daer) bem como a PMJN realizaram um mutirão o que permitiu o início das operações do aeroporto para o pouso do Avro. Encarecia Humberto, de forma veemente, as demais melhorias como balizamento, pavimentação e comunicação.

A questão da regionalização do aeroporto, com a sede que passou a ter, ainda era motivo de desconforto com certos setores da sociedade caririense. Numa matéria na Tribuna de Juazeiro, a respeito da velha questão das distâncias para as quatro cidades do Vale, Antonio Corrêa Celestino põe tudo às claras, de modo muito simples e direto.

Na edição de 17.08.1969, o jornal Folha de Juazeiro reproduz a informação de que o II Comando Aéreo ratifica a escolha que fizera ainda em 1953 para que Juazeiro do Norte abrigasse o Aeroporto Regional do Cariri. O Comando informa que já está em curso um projeto entre a Sevome e a PMJN no valor de 550 mil cruzeiros novos para a execução de obras, com dinheiro liberado pelo Ministério da Aeronáutica.

O asfaltamento da pista é, finalmente, iniciado em janeiro de 1970. E em 24 de outubro daquele mesmo ano o novo Aeroporto Regional do Cariri é reinaugurado pelo governador Plácido Aderaldo Castelo, o prefeito José Teófilo Machado e muitas autoridades. Dias antes havia tramitado na câmara municipal e aprovado por unanimidade: o novo nome do aeroporto era Aeroporto Regional do Cariri Governador Plácido Aderaldo Castelo.

A história ainda é longa e um dia prosseguiremos.

(Estes breves apontamentos sobre o Aeroporto Regional do Cariri estão hoje dedicados a João Sobreira Rocha, aeroviário prestimoso, por muitos anos na Varig – Juazeiro do Norte/Goiânia, atualmente na Rádio Universitária (Goiânia), que ainda saberá nos contar muitas outras histórias. Muito mais que estas.)

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