sábado, 22 de janeiro de 2011
PADRE CÍCERO
A minissérie PADRE CÍCERO, produzida pela Rede Globo de Televisão (Rio de Janeiro, 1984) foi um grande sucesso em todo o país. Quase vinte e sete anos depois de sua apresentação, estamos fazendo uma revisão desta produção e oferecendo, com dados e imagens oriundas da Internet, especialmente com textos e informações oficiais de um dos sites da Rede Globo, os detalhes daquela minissérie.
Segundo o release da Rede Globo de Televisão, “Os autores pretendiam realizar a segunda parte de uma trilogia nordestina enfocando três grandes mitos do Nordeste. Iniciada com Lampião e Maria Bonita (1982), a trilogia seria fechada com uma série sobre Delmiro Gouveia. Padre Cícero marcava a continuidade da iniciativa da Rede Globo de substituir filmes e seriados estrangeiros por minisséries nacionais, no horário das 22h. A minissérie conta a trajetória do polêmico padre Cícero Romão Batista (Stênio Garcia), que morreu aos 90 anos de idade, em Juazeiro do Norte, Ceará. A história aborda o período entre 1884 e 1906, narrando um prólogo para apresentar a história e seus personagens. A trama tem início quando um suposto milagre ocorrido em Juazeiro faz com que a pequena localidade de 2.500 habitantes se transforme na terceira maior cidade do Ceará. Em 1982, um jovem padre, com 25 anos, recém-ordenado em Fortaleza, adormece embaixo de um juazeiro. Sonha com uma multidão que caminha em sua direção, ao som de uma voz que diz: “Cícero, este é o seu rebanho, cuida dele”. Ao acordar, Cícero escolhe o caminho a seguir e inicia seu trabalho. Sua primeira missão é construir uma nova igreja na pequena localidade. Alguns anos depois, uma forte seca assola todo o sertão, e Padre Cícero começa a ensinar ao povo como plantar mandioca, maniçoba, mandacaru, além de fornecer terras para cultivo e moradia. Estava feito o milagre: em quatro anos, a pequena aldeia cresce e se torna uma cidade com mais de mil casas. Padre Cícero conquista grande prestígio político curando fiéis, ministrando noções de higiene e nutrição. Até mesmo o pedido de instalação de estabelecimentos comerciais é julgado pessoalmente por ele. O poder e a influência de Padre Cícero fazem com que as autoridades eclesiásticas em Fortaleza se posicionem contra ele. Seu maior antagonista é Dom Joaquim (Cláudio Cavalcanti), para quem Cícero representa uma desobediência às normas religiosas. Dom Joaquim teme que seja criada uma nova corrente religiosa. Com o aval de seu superior, Dom Alexandrino (Helber Rangel), e o apoio do cardeal Arcoverde (Jorge Cherques), eles decidem enfraquecer os padres do sertão que, para eles, colocam em perigo a supremacia da Igreja Católica. Cardeal Arcoverde envia um dossiê sobre Padre
Cícero para o Vaticano, e o papa Leão XIII exige que o clérigo renuncie publicamente aos milagres que estão sendo atribuídos a ele, caso contrário, terá seus votos sacerdotais suspensos. Em defesa do Padre Cícero, forma-se um verdadeiro exército de jagunços, do qual até mesmo Lampião, eventualmente, participa. Ele se recusa a renunciar aos milagres, o que provoca a sentença de suspensão dos direitos sacerdotais, pronunciada por Dom Joaquim em nome de Leão XIII.
Impedido de atuar como religioso, Padre Cícero, o Padre Milagroso, como era conhecido, intensificou sua atuação política. Outro personagem importante na história que cruza o caminho de Padre Cícero é Simas (Carlos Vereza), um mascate, que o incentiva a continuar sua luta. Maria de Araújo (Débora Duarte) também é personagem chave na história. Ela fora protagonista de um milagre envolvendo o padre, foi para um convento por conta disso e acaba liderando uma mobilização fanática pela cidade em favor de Cícero.
Ao final da minissérie, Maria morre e seu corpo é enterrado na igreja de Juazeiro. Ela se torna objeto de uma verdadeira veneração popular. Irmã Angélica (Lu Mendonça) é outra personagem importante na vida do padre. Ela sempre estivera ao seu lado, até no dia de sua morte. Dez anos se passam. Padre Cícero ficara longe de Juazeiro durante todo esse período, e a cidade toda espera ansiosamente por sua volta. Os desentendimentos de Padre Cícero com os chefes políticos do Crato - município do Ceará - culminaram num movimento armado, em 1914, quando Franco Rabelo (José Dumont), presidente do Estado do Ceará, foi deposto. A liderança política de Padre Cícero estava firmada. Suas palavras eram acatadas por todos os seus seguidores. Aos poucos, com o passar dos anos, Padre Cícero vai envelhecendo e perdendo sua força. No entanto, isso não impediu que sua morte fosse envolvida por toda a aura carismática que sempre cercou sua figura.
No último capítulo da minissérie, a cena final mostra Cícero trancado em sua casa, junto com a irmã Angélica, cabisbaixo, numa cadeira de balanço, com um cântico gregoriano marcando toda a ação. Uma voz em off diz: “Padre Cícero morreu aos 90 anos sem conseguir o perdão da igreja. (...) Com a revolução de 1930, suas fotos chegaram a ser tiradas das repartições públicas de Juazeiro. Entretanto, a adoração do povo pelo seu ‘padim’ nunca diminuiu. E o milagre, cuja verdade ele defendeu até a morte, de certo modo aconteceu.
Juazeiro é hoje uma das maiores cidades do Nordeste do Brasil. E o Vale do Cariri, encravado no coração do sertão, uma de suas regiões mais desenvolvidas”. A câmera dá um close no rosto de Padre Cícero, e vemos uma lágrima descer. No levantamento de material sobre a figura de Padre Cícero, os autores se conscientizaram de que não seria possível ser extremamente fiel à história. Assim, muitos personagens da minissérie são inteiramente ficcionais, enquanto outros são inspirados em personagens reais.
Na Produção, ainda segundo a Rede Globo de Televisão: “As gravações foram realizadas em pouco mais de três meses, com uma equipe de 130 pessoas, entre as quais 25 atores, no povoado de Minuim, município de Santa Brígida, sertão da Bahia. Foi criada uma infra-estrutura – cinco caminhões e um ônibus – que possibilitava o deslocamento da equipe para as demais locações, em Alagoas, na própria Bahia e em Pernambuco. Além disso, era necessária a compra diária de comida e água para a equipe, o que também era trabalhoso devido ao estado precário das estradas entre as cidades. Para manter o clima da região nos cenários de estúdio, foi realizada uma ampla pesquisa cenográfica. O cenógrafo Raul Neves conseguiu reproduzir com fidelidade a textura dos materiais usados no Nordeste. A produção da minissérie contou ainda com ambientação e produção de arte de Beto Leão, pesquisa de Marília Garcia e figurinos de Chico Spinoza. Para compor seu personagem, o ator Stênio Garcia usou lentes de contato azuis. O incômodo da lente, aliado ao forte calor e à poeira do sertão, deixaram seus olhos levemente avermelhados. Para o ator, a irritação e dificuldade que teve para permanecer com as lentes fortaleceram ainda mais o olhar do personagem, reforçando sua expressão. A idéia de usar lentes azuis surgiu após o ator ter feito uma pesquisa sobre a história de Padre Cícero. Ao se deparar com inúmeras fotografias de Padre Cícero, Stênio Garcia conta que ficou impressionado com seus olhos azuis, muito marcantes, especialmente por destoar do estereótipo do brasileiro. Como curiosidades, Carlos Vereza lembra que, durante as gravações, em alguma das cidades nordestinas por onde a equipe de gravação passou, a personagem Maria, vivida por Débora Duarte, rezava pedindo chuva. A cena foi gravada e, minutos depois, uma forte chuva caiu na região. Há algum tempo não chovia no local, e a população deu graças à oração de Débora, atribuindo-lhe a boa ventura. Na minissérie, o autor Doc Comparato interpretou o personagem Macedo.”
O elenco principal, como se viu pelas imagens, era formado por grandes astros e atrizes do cinema, teatro e televisão do país. Outros atores do elenco (infelizmente, sem imagens para mostrar) foram: Ademilton José (Irmão Bernardo), Aldo de Maio, Claude Haguenauer, Dias José, Edelma Moreno, Evandro Leandro, Fátima Malheiros, Fernando de Souza, Leônidas Aguiar, Luís Vasconcelos, Luiz Mendonça, Manfredo Bahia, Newton Martins (novo pároco de Juazeiro) e Paulo Alencar.
A minissérie foi exibida entre 09.04.1984 e 04.05.1984, no horário de 22h, em 20 capítulos.
[Fontes: Depoimentos concedidos ao Memória Globo por: Aguinaldo Silva (01.08.2000), Carlos Vereza (14.06.2002) e Stênio Garcia (19.06.2002); Boletim de programação da Rede Globo, número 587, 587-A; MAFRA, Antonio. “Padre Cícero, todas as facetas de um religioso amado pelo povo” In: O Globo, 09.04.1984; MEMÓRIA GLOBO. Dicionário da TV Globo, v.1: programas de dramaturgia & entretenimento. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 2003; TÁVOLA, Artur da. “Padre Cícero, hoje” In: O Globo, 09.04.1984; www.teledramaturgia.com.br, acessado em 10/2006; http://viaglobal/cedoc (intranet), acessado em 10.2006.]
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