sábado, 25 de dezembro de 2010

ENERGIA ELÉTRICA EM JUAZEIRO (II)...

PAULO AFONSO... Vasculhando arquivos disponíveis na Internet, encontro no acervo do presidente Getúlio Vargas o seguinte: Telegrama do prefeito José Monteiro de Macedo ao presidente da república Getúlio Vargas sobre o projeto que determina a subordinação da Companhia Hidroelétrica do São Francisco à Comissão do Vale do São Francisco. Joazeiro, 07.11.1952:

“Solicitamos a atenção de V. Excia. no sentido de impedir que seja aprovado o substitutivo do projeto nr. 1057/50 de autoria do Deputado Manoel Novaes, principalmente o artigo 16 e seus parágrafos porque a subordinação do sistema de burocracia visa integrar a atividade da hidroelétrica de São Francisco que tem dado amostras de maior eficiência em gerir o patrimônio da mesma companhia, demonstrando incontestável capacidade de trabalho aos fatos reconhecidos por autoridades nacionais e estrangeiras que tem visitado as obras de Paulo Afonso. Atenciosas saudações. José Monteiro de Macedo - prefeito municipal, José Maria de Figueiredo - presidente da câmara, Francisco Dias Guimarães - presidente do PTB, Antonio Braz de Oliveira - presidente da UDN, Dr. Mozart Cardoso Alencar - presidente do PSD.”

Não vejo dúvida qualquer em afirmar que a eletrificação de Juazeiro do Norte com a rede vinda de Paulo Afonso foi a obra pública do século XX em nossa cidade. Quando o Cariri entrou nos planos da CHESF, uma outra batalha se travou: de um lado as ponderações técnicas de engenheiros e diretoria da CHESF, pelo chamado Sistema Cariri; de outro o Plano Távora, assim chamado, patrocinado por Virgílio, que previa a eletrificação de Fortaleza, através de um linhão via Campina Grande, muito mais caro e demorado. Venceu, por empenho dos engenheiros da CHESF, Antonio José Alves de Souza e Octávio Marcondes Ferraz, o Sistema Cariri. (Aqui, no nosso relato, há uma enorme simplificação, pois todo este processo somente caberia num denso volume de livro. Restrinjo-me a apontamentos, não sou historiador).

Não vamos muito longe para considerar o marco desta vitória, em jornada memorável de alguns “juazeirenses” (Edmundo Morais - Presidente da Associação Comercial de Juazeiro do Norte, José Monteiro de Macedo - prefeito de Juazeiro do Norte, Hildegardo Belém de Figueiredo e Antônio Corrêa Celestino, Felipe Néri da Silva, José Maria de Figueiredo e José Colombo de Souza) que decidiram ir juntos ao então presidente da república, Getúlio Vargas, em dezembro de 1954, para conseguir a extensão das linhas para o Cariri. Vargas estava em Paulo Afonso para inaugurar as duas primeiras turbinas do complexo, e através de José Colombo de Souza foram recebidos e a ele expuseram o seu intento.

Edmundo Morais contou, em entrevista a Ary Bezerra Leite (livro Históiria da Energia no Ceará), “a boa acolhida que a caravana teve em Paulo Afonso. Alojados na casa de hóspedes da CHESF, passaram a uma visita à usina e, logo pela manhã, tiveram o primeiro contato com o Presidente Vargas, que ao ser apre­sentado à caravana do Cariri, sorriu e disse: “Depois do almoço vou soltar uma bomba para o Cariri". No período da tarde, Vargas recebeu as representações dos Estados, reser­vando uma revelação especial para o Ceará. As declarações do Presidente da República, segundo Hildegardo Belém de Figueiredo, foram: “Já estão bem adiantados os estudos e providências para a pronta realização de uma linha de transmissão que, no sentido norte, atingirá o coração do Ceará na região densamente povoada do Cariri, cujo desenvolvimento eco­nômico e capacidade industrial têm sido testemunhados pelo progresso do artesanato ali existen­te". O Cariri recebia então o sinal verde e a motivação para entrar na luta pela energia da CHESF, e o mais cedo possível.

Nas fotos acimna, veem-se o pres. Getúlio, sendo recebido em Paulo Afonso e em conversa com membros do Comitê Pró Eletrificacão do Cariri, dentre eles, Felipe Néri da Silva, José Maria de Figueiredo e Dr. Hildegardo Belém de Figueiredo, na companhia do deputado José Colombo de Souza.

Em 1956, ante essa nova situação, é reativado o Comitê Pró-Eletrificação do Cariri, compondo-se uma diretoria integrada por representantes de Juazeiro, Crato e Barbalha: Presidente, Dr. Hildegardo Belém de Figueiredo; 1º Vice, Dr. Décio Teles Cartaxo; 2º Vice, Ernani Brígido Silva; 1º Secretário, Dr. Geraldo Menezes Barbosa; 2º Secretário, Zilberto Fernandes Telles; 1º Tesoureiro, Odílio Figueiredo; 2º Tesoureiro, Elony Sampaio; Comissão de Propaganda: Wilson Machado (Rádio Araripe); Coelho Alves (Rádio Iracema); J. Lindemberg de Aquino (Rádio Araripe); Espedito Cornélio (Rádio Iracema); Dr. Antonio Fernandes Telles (Associação Comercial do Crato); Edmundo Morais (Associação Comercial de Juazeiro); Comissão de Defesa: Prefeitos do Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha, Dr. Derval Peixoto, Dr. Geraldo Menezes Barbosa e Sr. Neroly Filgueira.

De todos os eventos desta jornada, muitos dias de trabalho intenso montando a infra-estrutura, plantando postes, esticando fios, dois deles foram particularmente simbólicos: a chamada Festa do Poste (a instalação do primeiro poste de eletricidade), em 25.07.1959, e a Festa do Século (inauguração da Eletrificação do Cariri), em 28.12.1961. Falemos, inicialmente, do primeiro.

A FESTA DO POSTE...

A estrela desta festividade foi o então Ministro da Guerra, General Henrique Duffles Baptista Teixeira Lott (*Sítio,MG: 16.11.1894 / +Rio de Janeiro,RJ: 19.05.1984). Uma publicação do Governo do Ceará, editada em 1965, transcreve o discurso que o então deputado Guilherme Gouveia fez na Assembléia, em 1960, com os seguintes comentários sobre a vinda de Lott ao Juazeiro: “Certo, conseguiu o chefe do Executivo sobredoirar uma derrota evidente com ribombos festivos no vergel do Cariri. E até como atração central conseguiu-se a presença do Senhor Marechal Teixeira Lott, Ministro da Guerra e candidato do situacionismo federal à curul presi­dencial da República. (...) O show do Cariri procurou atingir várias "metas", segundo se diz, agora, na novíssima gíria administrativa da República. Uma delas, a principal, por certo, terá sido a de derivar a atenção pública desse espetáculo de alarmante inoperância, que tão bem define o atual governo, através do pano de amostra de quatro meses de deso­rientação e esterilidade. (...) A Festa do Poste deve ser traduzida como comemoração de um nítido triunfo das administrações Paulo Sarasate e Flávio Marcílio, a cujo crédito deve levar-se, ainda, a abertura da concorrência para o estudo do Plano de Eletrificação do Ceará... O ilustre General Lott, a sua comitiva, o governador, os turistas da República que foram visitar o túmulo do Pe. Cícero, diante do qual ainda se ajoelham legiões da plebe sem terra do Nordeste, vindas em romarias, dos mais longínquos feudos, - toda essa gente, Senhor Presidente, foi assistir ao atual governo do Ceará fazer cortesia com o chapéu alheio.”

As personalidades citadas na placa comemorativa da Festa do Poste, à exceção do presidente Juscelino Kubitscheck de Oliveira, estavam presentes ao ato. Nesta ocasião, em nome da comunidade, especialmente representada pelo Comitê Pró Eletrificação e Industrialização do Cariri, que reunia lideranças das cidades de Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha, usou da palavra, visivelmente emocionado, o Dr. Hildegardo Belém de Figueiredo, Presidente do Comitê, que termina seu discurso com as palavras seguintes:

Meus senhores: Encimado da verde flâmula que simboliza a luta, uma causa, um ideal, aqui ficará, marginando a estrada, este primeiro poste, sentinela de esperança. No alto, verão quantos por aqui passarem, o verde retângulo desfraldado ao beijo suave de todas as brisas do Nordeste, simbolizando a fé cívica de um povo em eterna vigília, marchando das trevas para a luz. Símbolo de uma parcela do Brasil Nordeste que deseja conduzir o seu próprio destino e construir também o progresso da pátria. Um dia, este frio corpo de cimento perderá a verde bandeira que o engalana. Nesse dia, meus senhores, a paisagem sertaneja que nos cerca terá rutilantes cintilações de esplêndida alvorada. Nesse dia, o Cariri estará recebendo através das artérias metálicas dos fios condutores, a vibrante energia que, ora, tumultua, em cada sístole, o dadivoso e turbulento coração de Paulo Afonso."

Por ocasião da Festa do Poste, uma placa comemorativa foi fixada para marcar a instalação do primeiro poste que ligou a energia de Paulo Afonso a Juazeiro do Norte. Este monumento ficava na Av. Pe. Cícero, cruzamento com a via férrea, ao lado onde funcionou Cariri Industrial e hoje se constroi um shopping center. Infelizmente, esta placa sumiu e até hoje não foi identificado o seu paradeiro. Felizmente, em nosso arquivo temos uma foto desta placa e por ela vemos os dizeres, aos quais acrescento alguns dados (locais, datas de nascimento e falecimento de cada): “Marco comemorativo da instalação do primeiro poste que ligará a energia elétrica de Paulo Afonso ao Cariri. 25 de Julho de 1959. Presidente da República: Dr. Juscelino Kubitschek de Oliveira (*Diamantina:12.09.1902 / +Resende: 22.08.1976); Ministro da Viação e Obras Públicas: Almirante Lúcio Meira (*Petrópolis: 03.03.1907 / +Rio de Janeiro: 24.12.1991); Governador do Estado: Dr. José Parsifal Barroso (*Fortaleza: 05.07.1913 / +Fortaleza: 21.04.1986); Vice-Governador do Estado: Wilson Gonçalves(*Cajazeiras: 06.10.1914 / +Brasília: 12.11.2000); Presidente da CHESF: Eng. Antonio José Alves de Sousa (*Rio de Janeiro: 04.03.1896 / +Paulo Afonso: 18.12.1961); Executor do Plano de Eletrificação: Eng. Bernardo Bichucher (* ? / + ?); Prefeito Municipal de Juazeiro do Norte: Dr. Antonio Conserva Feitosa (*Triunfo: 14.01.1907 / +Juazeiro do Norte: 26.12.2007).”

As personalidades citadas na placa da Festa do Poste:

As personalidades citadas na placa comemorativa da Festa do Poste, à exceção do presidente Juscelino Kubitscheck de Oliveira, estavam presentes ao ato. Nesta ocasião, em nome da comunidade, especialmente representada pelo Comitê Pró Eletrificação e Industrialização do Cariri, que reunia lideranças das cidades de Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha, usou da palavra, visivelmente emocionado, o Dr. Hildegardo Belém de Figueiredo, Presidente do Comitê, que termina seu discurso com as palavras seguintes:

"Meus senhores: Encimado da verde flâmula que simboliza a luta, uma causa, um ideal, aqui ficará, marginando a estrada, este primeiro poste, sentinela de esperança. No alto, verão quantos por aqui passarem, o verde retângulo desfraldado ao beijo suave de todas as brisas do Nordeste, simbolizando a fé cívica de um povo em eterna vigília, marchando das trevas para a luz. Símbolo de uma parcela do Brasil Nordeste que deseja conduzir o seu próprio destino e construir também o progresso da pátria. Um dia, este frio corpo de cimento perderá a verde bandeira que o engalana. Nesse dia, meus senhores, a paisagem sertaneja que nos cerca terá rutilantes cintilações de esplêndida alvorada. Nesse dia, o Cariri estará recebendo através das artérias metálicas dos fios condutores, a vibrante energia que, ora, tumultua, em cada sístole, o dadivoso e turbulento coração de Paulo Afonso."



Um comentário:

MARCO FEITOSA disse...

RENATO, EU ESTAVA NESTE LOCAL TANBEM. E NA MANHÃ DO DIA DA CHEGADA DA LUZ EM JUAZEIRO, DALGUNS ANOS DEPOIS, MEU PAI DR.FEITOSA-PREFEITO DE JUAZEIRO, COMEMORAVA DERRAMANDO NAS CABEÇAS DOS AMIGOS VÁRIAS GARRAFAS DE CAVALO BRANCO, GANHAS DO ENTÃO GOVERNADOR VIRGÍLIO, APOSTA FEITA ANTERIORMENTE, COMO O JUAZEIRO IRIA CHEGAR A LUZ ANTES DE FORTALEZA.