ESTÓRIAS DO MURILO.
- Em ato celebrado por D.Francisco, Murilo recebeu sua primeira tonsura (o seminarista se torna clérigo). Num caderno ele escreveu: "Dominus pars haereditatis meae et calicis me (Tomo o Senhor como parte na minha herança e no meu cálice (Salmo 15). 21 de Junho de 1954 marca o dia em que fui chamado à clericatura. Foi na Capelinha do Palácio, uma segunda feira. Papai, tios e tias. Tio Alfredo (Correia de Oliveira, seu padrinho de Crisma, observo) lá estava. Cantei com emoção e bem alto o Magnificat. Toda a capelinha ficou plena com a melodia do Salmo. Que Deus me conserve na lembrança esse dia em que me revesti do Homem Novo". Em fevereiro de 1955, na capela do Bom Jesus, no Caldas, ele escreveu sobre a oração que fizera: "Pedi-lhe que me desse o espírito sacerdotal, que ele fizesse de mim um sacerdote santo para guiar o povo de Deus à salvação".
- No ano seguinte, 1955, Francisco Murilo receberia as primeiras ordens menores. Como ele mesmo se refere no caderno de anotações: "Tive uma boa notícia era o Ostiariato e Leitorato que tinha que receber. (...) Era domingo, dia 12 de junho. A Prainha é o lugar sagrado dessa vez para a realização das sagradas cerimônias. Dois a dois formamos lá para a porta principal à espera do oficiante, sr. bispo auxiliar D. Expedito. Caminhava ao lado do Djalvo (Bezerra de Alencar futuro pároco em Orós, observo). Lembrei-me de todos os meus nesse momento solene da minha ordenação. Pensava logo no dia da última queda. Não foi para mim de grande importância não haver desta vez nenhum membro da família ao meu lado. Pensava diferente. Estamos unidos pelos laços de religião. A Eucaristia nos unia a todos, inda que materialmente estivessem separados".
- Pe. Murilo era muito jovem no Juazeiro e aconteceu que houve um acidente de carro, ele dirigindo, do qual lhe resultou uma cicatriz na testa. Quando passei a conhecê-lo melhor, percebi que ele tinha uma seqüela de paralisia facial, e o observava intrigado. Nunca indaguei a ninguém, nem mesmo a ele como aquilo acontecera. Parecia a muitos que tinha sido por ocasião do acidente. Na verdade, em escrito que deixou, Murilo revela que logo após a missa do galo no Natal de 1952, "... já em mim fervilhavam os primeiros sintomas de uma doença que foi Mais uma Provação desencadeada sobre mim. Uma paralisia facial levou-me a medicar-me até hoje. (25.03.1959". Faz, a seguir, algumas considerações, fala do gradual restabelecimento, sua conformação, etc, para finalizar exortando: "- Daí-me a mim, a força, o alento para poder ver nas mais pequenas cousas o dedo de Vossa Providência"..
- Não me engano: lendo escritos íntimos de Murilo Barreto (assim assinava, e ele mesmo diria que em Barbalha todo mundo tem uma "beradinha" de Barreto) era mais um poeta barbalhense, precioso, tímido e recatado, mas de uma sensibilidade que me impressionou. Bastaria algumas linhas como as que descreve o reencontro com a cidade amada ("...simples, pequena, verdinha, é sempre o recanto poético, por isso mesmo esquecido dos grandes..."), o filho que volta do seminário para as férias, trazendo ("... n´alma o desejo ardente de rever toda a família" Para reencontrar sua Barbalha ("...a mesma a elevar-se pinturesca e amiga, poeticamente adornada pelo cairel vasto do verde canavial irrequieto".) e o Cariri ("...ao fundo num painel azul da Araripe. É belo, bonito. Em meio ao fogo abrasador do agreste sertão, ele parece um oásis anunciador da Canaã..."). Um poeta inédito.
- O Chamado de Deus. Em 07.08.1952, Murilo de Sá Barreto registra como se deu: "Um dia, os desígnios de Deus pareciam abrir-me vias para a vocação sacerdotal. Nasceu-me no coração o germe do sublime ideal. E esse desejo ardente cresceu em mim, pari passu com os primeiros ensinamentos. Fiz-me seminarista com os maiores esforços, devido o estado financeiro de meu pai que sempre foi pobre. A bondade de Deus dera-me um santo sacerdote para, por ele eu puder mirar-me na senda da perfeição, ao mesmo tempo que me fornecia a cooperação material, indispensável também a quantos se fazem rumar tal carreira. Mas no 1º ano de Seminário, faleceu-me o protetor e eu me vi à beira do caminho, - exposto à clemência dos transeuntes, tal como o homem do evangelho descendo a estrada de Jerusalém a Jericó" Murilo se referia ao Pe. Octávio de Sá Gurgel, ex-vigário de Barbalha.
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